Júlia Leal: A maré açoriana que abalou o continente do ténis de mesa nacional
![]() |
Créditos: FPTM. A garra de uma jovem campeão açoriana pelo Juncal. |
Da ilha Terceira para o topo do ténis de mesa nacional
No meio do Atlântico, onde a ilha
Terceira molda o seu povo com ventos firmes e raízes profundas, nasceu uma
campeã. Júlia Leal, natural dos Açores, somente com 16 anos, alcançou um dos
feitos mais notáveis do ténis de mesa nacional ao sagrar-se campeã nacional
sénior de equipas pelo Grupo Desportivo do Centro Social do Juncal, com Tatiana Garnova e a húngara Gabriela Feher.
Uma vitória que não constava nos planos da jovem atleta — mas que marcou o seu nome num desporto onde a experiência costuma ditar as regras.
![]() |
Créditos: FPTM. Júlia Leal de camisola preta com a mão no caneco. |
“Não estava à espera de conquistar
este título. Foi emocionante. O Clube de Ténis de Mesa de Mirandela era uma equipa muito forte.
Mesmo assim, conseguimos vencer”, conta Júlia com a humildade de quem sabe que grandes
conquistas também se fazem de superações inesperadas.
Um palmarés que atravessa fronteiras
Além do título sénior, Júlia soma ao
currículo cinco medalhas no Campeonato da Europa de Jovens e uma medalha no
Mundial, comprovando que o seu talento já atravessa fronteiras. Ainda assim,
considera que esta última conquista também tem um peso especial com as insígnias conquistadas internacionalmente.
“É diferente ganhar com a nossa equipa, com o clube que representamos desde pequena. Foi um momento muito marcante para mim.”
O desafio de deixar o lar açoriano!
Mas o percurso até aqui não foi
fácil. O maior desafio? Deixar o seu lar.
“O mais difícil foi sair da minha ilha, da minha família, para ir para o Centro de Treino de Alto Rendimento em Gaia. Gosto muito da Terceira, mas sabia que precisava de sair para ter mais oportunidades no ténis de mesa.”
No Centro de Alto Rendimento de Gaia, a
rotina é exigente. Júlia treina antes e depois das aulas, trabalhando técnica,
tática, serviços, regularidade e o físico.
“Antes das competições internacionais, é preferível focamo-nos mais nos detalhes técnicos para aperfeiçoar o jogo.”
Inspirações e lições do ténis de mesa
Essa dedicação é alimentada por uma
motivação interna, mas também por quem a rodeia.
“Quando era pequena, admirava os seniores do Juncal. Agora, com mais experiência, aprendo com muitos atletas que adoro e observo o que posso incorporar no meu próprio jogo.”
Derrotas e recuperação: combustível
para crescer
As derrotas e as adversidades, inevitáveis em qualquer
carreira, são encaradas como combustível para evoluir.
“Há derrotas que custam mais, mas procuro sempre perceber o que correu mal e corrigir. Além disso, as lesões também fazem parte do percurso. Já sofri várias e sei que a recuperação é uma fase fundamental para regressar o mais forte possível e sem sequelas.”
A relação com a equipa técnica e
dirigentes são dois pilares do seu crescimento.
“Tenho ótimas relações tanto no clube como no Centro de Alto Rendimento com os agentes desportivos. Os treinadores, dirigentes e colegas estão sempre disponíveis para ajudar e isso faz a diferença.”
Objetivos claros e ambição para o futuro
![]() |
Créditos: Juncal. |
“Agora o foco é melhorar aspetos específicos do meu jogo. Quero vencer mais e sentir-me cada vez mais confortável em situações difíceis durante os encontros.”
Conciliar tudo isto com os estudos
não é uma tarefa simples, mas a jovem atleta não se queixa.
“O ténis de mesa é muito exigente, requer atenção, determinação e foco, mas os estudos também são demasiado importantes. Tento dar o meu melhor nas duas áreas diariamente. Procuro treinar e estudar ao máximo para conseguir ter sucesso tanto no desporto como na escola.”
A sua força vem também de quem a
apoia.
“Quando estou numa fase má, o que me motiva são as pessoas que estão sempre lá para mim. Ter esse apoio dá-me forças para continuar.”
Mais que uma atleta: a Júlia fora da
mesa
Fora da mesa, Júlia também sente que
o desporto a moldou.
“Aprendi no ténis de mesa a lidar com situações que muitos da minha idade ainda não viveram na vida. Isso faz-me crescer como pessoa.”
Além do ténis de mesa, Júlia tem um
passatempo que gosta de cultivar: o desenho, um momento de pausa e criatividade
que ajuda a equilibrar a intensidade do desporto e dos estudos.
Pressão e orgulho ao representar
Portugal
E quando chega o momento de vestir a
camisola de Portugal, a responsabilidade pesa — mas ela sabe transformá-la em
energia.
“Representar o país traz sempre pressão. Mas penso que estou ali porque acreditam em mim. E não posso deixar que essa pressão me impeça de aproveitar as oportunidades.”
Aos 16 anos, Júlia Leal já é muito
mais do que uma promessa. É uma força vinda do mar dos Açores, determinada a
conquistar tudo o que o continente — e o mundo — ainda tem por oferecer?
Comentários
Enviar um comentário
Críticas construtivas e envio de notícias.