Só existem promessas e reformas adiadas no ténis de mesa português
Por António Vieira Pacheco
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Créditos: Câmara Municipal de Gaia. Um local apetrechado com boas condições para os atletas. |
A ilusão da renovação
O ténis de mesa português atravessa
uma encruzilhada silenciosa, onde a promessa de um novo rumo se esvai perante a
realidade do terreno. A renovação da modalidade tem sido falada, debatida e
anunciada, mas as mudanças prometidas pela direção liderada por Fernando Malheiro parecem
continuar num registo de eterno adiamento.
A crise na formação é visível, e a
tão falada renovação do ténis de mesa português parece um sonho distante,
pairando no ar sem se materializar. E a renovação automática do domínio do
futuro, no entanto, foi “cancelada” subtilmente, sem o impacto esperado.
Além disso, uma das falhas mais
evidentes da atual direção é a comunicação. A Federação Portuguesa de Ténis de
Mesa (FPTM) não consegue envolver verdadeiramente o público nem informar
adequadamente sobre as suas ações, decisões e objetivos. Uma comunicação eficaz
é essencial para criar uma base sólida de apoio à modalidade, mas a FPTM falha
em criar uma narrativa convincente para engajar tanto os adeptos quanto os
praticantes.
Outro grande obstáculo foi o buraco
financeiro encontrado pela atual direção. A descoberta de um défice
considerável de recursos financeiros abalou a capacidade da FPTM de implementar
as suas promessas e compromissos. Este problema financeiro, além de inesperado,
revelou-se um empecilho significativo para o desenvolvimento de projetos de
renovação e para o financiamento de centros de treino e outras iniciativas
essenciais para o futuro da modalidade.
O passado como lastro e a geração de ouro em declínio
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Créditos: WTT. Marcos Freitas. |
Sem um plano real e eficaz, o ténis de mesa português parece condenado a assistir ao desaparecimento de uma geração que construiu a sua glória com suor e talento. Mas e os próximos?
A "renovação" prometida e onde está a mudança?
Em novembro de 2024, a eleição de
Fernando Malheiro à presidência da FPTM trouxe
consigo a promessa de renovação e uma esperança de melhoria. A ilusão de uma
nova era no ténis de mesa nacional parecia ao alcance de todos. No entanto,
decorridos alguns meses, as palavras continuam vazias, como ecos no vazio. A
renovação do ténis de mesa não pode ser uma promessa de palavras, mas uma
mudança de mentalidade, e, até agora, essa alteração não se vê.
A direção da FPTM segue passos antigos, adotando estratégias que já se mostraram ineficazes. Não há inovação, não há verdadeiras reformas. O Centro de Alto Rendimento (CAR), um dos poucos pontos de excelência para os atletas internacionais, e o Centro de Treino de Mirandela, outro exemplo de qualidade no nosso país, e também da Madeira são vitais. Contudo, sozinhos, não são suficientes para dar uma resposta à escala nacional.
O CAR de Gaia é um exemplo, mas a sua capacidade é limitada. O CTM de
Mirandela também se destaca como um excelente centro de formação, mas a sua
presença é insuficiente para alcançar todos os jovens talentos espalhados pelo
país. Aposta é mais para atletas locais e internacionais. Para que o ténis de mesa português tenha um
futuro promissor, é urgente a criação de mais centros de treino especializados,
que possam formar novos talentos de forma descentralizada, nacionalmente. A
Madeira tem um ótimo Centro de Treino, mas os novos valores tardam em surgir.
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Créditos: Direitos Reservados. O material da modalidade... |
A crise na formação
A formação no ténis de mesa português
está a definhar. Não é apenas uma questão de falta de resultados, mas de uma
estrutura obsoleta e sem capacidade de se adaptar ao novo cenário global. Os
atletas não têm as condições adequadas para crescer, os treinadores não possuem
a formação continuada que a evolução exige, e o apoio institucional é, muitas
vezes, escasso ou mal dirigido.
O CAR pode ser um modelo de
excelência, e o CTM de Mirandela segue-lhe os passos, assim como da Madeira, o
pioneiro, mas a verdade é que ambos servem apenas uma pequena franja de atletas
já em nível internacional. E, sem uma rede de centros de treino em várias
regiões do país, a deteção e a formação de novos talentos é limitada. Não
podemos continuar a depender de um único centro de excelência quando a base
precisa de mais apoio.
O que fazer para salvar o ténis de mesa em Portugal?
Primeiro é preciso a expansão da rede
de centros de formação.
O CAR, de Mirandela e da Madeira são referências, mas não bastam. É urgente
criar mais centros de treino de alto rendimento em várias regiões do país.
Estes centros devem estar equipados com as melhores condições, treinadores
qualificados e, principalmente, com uma estratégia clara para deteção e
formação de jovens talentos.
Segundo é elaborar um Plano Nacional
de Deteção de Talento.
A deteção precoce deve ser uma prioridade, com programas de acompanhamento nas
escolas e clubes. Isto deve ser feito de forma estruturada, com um plano
nacional que garanta que o talento não se perde por falta de oportunidades.
Fomento de competição interna e internacional
Outra sugestão é aumentar a
competição interna e garantir que os jovens atletas tenham oportunidades
regulares de competir no exterior, participando de torneios internacionais, é
essencial para o seu desenvolvimento.
A formação e atualização contínua de treinadores
é fundamental para o crescimento e o surgimento de novos técnicos. Apostar
naqueles que garantem votos na Assembleia Eleitoral é uma medida errada.
Os treinadores devem estar em constante atualização, com programas de formação
que sigam as novas tendências da modalidade a nível internacional. A FPTM deve
investir neste aspeto, criando parcerias com federações internacionais.
Finalmente, a eterna questão da
comunicação organizacional da FPTM?
O organismo que tutela a modalidade precisa de melhorar significativamente a
sua comunicação. A clareza nas ações e decisões é essencial para criar um
vínculo mais forte com os praticantes, clubes e público. E não com
aqueles que asseguram votos…
Deve apostar em campanhas mais
eficazes, divulgar com regularidade os sucessos e progressos da modalidade e
criar uma relação mais próxima com a comunidade desportiva. Explicar também
decisões controversas, como o não adiamento de um encontro da final do
Campeonato Nacional da I Divisão feminina, devido à presença de duas jogadoras em
provas internacionais.
O caminho está traçado, mas a vontade falta...
O ténis de mesa português não se
define pelos feitos de uma geração que está a envelhecer. Ele define-se pela
sua capacidade de olhar para o futuro, de apostar na formação, de criar um
ambiente competitivo e inovador. Fernando Malheiro e a sua direção têm nas suas
mãos a oportunidade de dar um novo rumo à modalidade. Mas, até agora, têm
falhado em proporcionar a verdadeira renovação que o ténis de mesa português necessita.
Não podemos continuar a viver de
promessas vazias. O futuro do ténis de mesa português depende das escolhas
feitas hoje. E, até que essa mudança real aconteça, continuaremos a assistir ao
cancelamento de um futuro que ainda pode ser brilhante, mas que, a cada dia que
passa, parece mais distante.
Aguardaremos pelas cenas dos próximos
capítulos.
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