Só existem promessas e reformas adiadas no ténis de mesa português

                                                            Por António Vieira Pacheco

Uma exclência de infraestrutura situada nas margens do Douro, mas não chega!
Créditos: Câmara Municipal de Gaia. Um local apetrechado com boas condições para os atletas.

A ilusão da renovação

O ténis de mesa português atravessa uma encruzilhada silenciosa, onde a promessa de um novo rumo se esvai perante a realidade do terreno. A renovação da modalidade tem sido falada, debatida e anunciada, mas as mudanças prometidas pela direção liderada por Fernando Malheiro parecem continuar num registo de eterno adiamento.

A crise na formação é visível, e a tão falada renovação do ténis de mesa português parece um sonho distante, pairando no ar sem se materializar. E a renovação automática do domínio do futuro, no entanto, foi “cancelada” subtilmente, sem o impacto esperado.

Além disso, uma das falhas mais evidentes da atual direção é a comunicação. A Federação Portuguesa de Ténis de Mesa (FPTM) não consegue envolver verdadeiramente o público nem informar adequadamente sobre as suas ações, decisões e objetivos. Uma comunicação eficaz é essencial para criar uma base sólida de apoio à modalidade, mas a FPTM falha em criar uma narrativa convincente para engajar tanto os adeptos quanto os praticantes.

Outro grande obstáculo foi o buraco financeiro encontrado pela atual direção. A descoberta de um défice considerável de recursos financeiros abalou a capacidade da FPTM de implementar as suas promessas e compromissos. Este problema financeiro, além de inesperado, revelou-se um empecilho significativo para o desenvolvimento de projetos de renovação e para o financiamento de centros de treino e outras iniciativas essenciais para o futuro da modalidade.

O passado como lastro e a geração de ouro em declínio

O fim do melhor jogador de sempre do ténis de mesa nacional está a chegar ao fim?
Créditos: WTT. Marcos Freitas.

Marcos Freitas, Tiago Apolónia, João Monteiro e João Geraldo os nomes que outrora encheram de orgulho as bancadas dos maiores torneios internacionais, agora parecem resistir ao inexorável avanço do tempo. Não que o talento tenha desaparecido, mas a idade avança e, com ela, o declínio natural das carreiras. E quem segue? A resposta é, até agora, uma triste ausência de nomes capazes de dar continuidade ao legado conquistado.


A maior promessa do ténis de mesa português.
Créditos: FPTM. Tiago Abiodun festeja.

Os jovens que despontam, como Tiago Abiodun, que está na Alemanha, e de Júlia Leal, são exceção e não regra. 

Sem um plano real e eficaz, o ténis de mesa português parece condenado a assistir ao desaparecimento de uma geração que construiu a sua glória com suor e talento. Mas e os próximos?

A "renovação" prometida e onde está a mudança?

Em novembro de 2024, a eleição de Fernando Malheiro à presidência da FPTM trouxe consigo a promessa de renovação e uma esperança de melhoria. A ilusão de uma nova era no ténis de mesa nacional parecia ao alcance de todos. No entanto, decorridos alguns meses, as palavras continuam vazias, como ecos no vazio. A renovação do ténis de mesa não pode ser uma promessa de palavras, mas uma mudança de mentalidade, e, até agora, essa alteração não se vê.

A direção da FPTM segue passos antigos, adotando estratégias que já se mostraram ineficazes. Não há inovação, não há verdadeiras reformas. O Centro de Alto Rendimento (CAR), um dos poucos pontos de excelência para os atletas internacionais, e o Centro de Treino de Mirandela, outro exemplo de qualidade no nosso país, e também da Madeira são vitais. Contudo, sozinhos, não são suficientes para dar uma resposta à escala nacional. 

O CAR de Gaia é um exemplo, mas a sua capacidade é limitada. O CTM de Mirandela também se destaca como um excelente centro de formação, mas a sua presença é insuficiente para alcançar todos os jovens talentos espalhados pelo país. Aposta é mais para atletas locais e internacionais.  Para que o ténis de mesa português tenha um futuro promissor, é urgente a criação de mais centros de treino especializados, que possam formar novos talentos de forma descentralizada, nacionalmente. A Madeira tem um ótimo Centro de Treino, mas os novos valores tardam em surgir.

O local e o equipamento de trabalho dos atletas.
Créditos: Direitos Reservados. O material da modalidade...

A crise na formação

A formação no ténis de mesa português está a definhar. Não é apenas uma questão de falta de resultados, mas de uma estrutura obsoleta e sem capacidade de se adaptar ao novo cenário global. Os atletas não têm as condições adequadas para crescer, os treinadores não possuem a formação continuada que a evolução exige, e o apoio institucional é, muitas vezes, escasso ou mal dirigido.

O CAR pode ser um modelo de excelência, e o CTM de Mirandela segue-lhe os passos, assim como da Madeira, o pioneiro, mas a verdade é que ambos servem apenas uma pequena franja de atletas já em nível internacional. E, sem uma rede de centros de treino em várias regiões do país, a deteção e a formação de novos talentos é limitada. Não podemos continuar a depender de um único centro de excelência quando a base precisa de mais apoio.

O que fazer para salvar o ténis de mesa em Portugal?

Primeiro é preciso a expansão da rede de centros de formação.
O CAR, de Mirandela e da Madeira são referências, mas não bastam. É urgente criar mais centros de treino de alto rendimento em várias regiões do país. Estes centros devem estar equipados com as melhores condições, treinadores qualificados e, principalmente, com uma estratégia clara para deteção e formação de jovens talentos.

Segundo é elaborar um Plano Nacional de Deteção de Talento.
A deteção precoce deve ser uma prioridade, com programas de acompanhamento nas escolas e clubes. Isto deve ser feito de forma estruturada, com um plano nacional que garanta que o talento não se perde por falta de oportunidades.

Fomento de competição interna e internacional

Outra sugestão é aumentar a competição interna e garantir que os jovens atletas tenham oportunidades regulares de competir no exterior, participando de torneios internacionais, é essencial para o seu desenvolvimento.

A formação e atualização contínua de treinadores é fundamental para o crescimento e o surgimento de novos técnicos. Apostar naqueles que garantem votos na Assembleia Eleitoral é uma medida errada.
Os treinadores devem estar em constante atualização, com programas de formação que sigam as novas tendências da modalidade a nível internacional. A FPTM deve investir neste aspeto, criando parcerias com federações internacionais.

Finalmente, a eterna questão da comunicação organizacional da FPTM?
O organismo que tutela a modalidade precisa de melhorar significativamente a sua comunicação. A clareza nas ações e decisões é essencial para criar um vínculo mais forte com os praticantes, clubes e público. E não com aqueles que asseguram votos…

Deve apostar em campanhas mais eficazes, divulgar com regularidade os sucessos e progressos da modalidade e criar uma relação mais próxima com a comunidade desportiva. Explicar também decisões controversas, como o não adiamento de um encontro da final do Campeonato Nacional da I Divisão feminina, devido à presença de duas jogadoras em provas internacionais.

O caminho está traçado, mas a vontade falta...

O ténis de mesa português não se define pelos feitos de uma geração que está a envelhecer. Ele define-se pela sua capacidade de olhar para o futuro, de apostar na formação, de criar um ambiente competitivo e inovador. Fernando Malheiro e a sua direção têm nas suas mãos a oportunidade de dar um novo rumo à modalidade. Mas, até agora, têm falhado em proporcionar a verdadeira renovação que o ténis de mesa português necessita.

Não podemos continuar a viver de promessas vazias. O futuro do ténis de mesa português depende das escolhas feitas hoje. E, até que essa mudança real aconteça, continuaremos a assistir ao cancelamento de um futuro que ainda pode ser brilhante, mas que, a cada dia que passa, parece mais distante.

Aguardaremos pelas cenas dos próximos capítulos.

 


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