Nuno Borges: “Penso que se ele tivesse mantido o nível até ali, perdia 6-0 e 6-1”
Por António Vieira Pacheco
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Créditos Millennium Estoril Open. A análise realista de um imensurável campeão. |
Nuno Borges saiu de cena esta
sexta-feira no Millennium Estoril Open, eliminado nos quartos de final pelo
sérvio Miomir Kecmanovic. O tenista português, natural da Maia, enfrentou uma
luta constante em court e, no final, falou com a mesma frontalidade com que
joga: sem floreados, somente verdade.
Ao refletir sobre o encontro, admitiu
que, apesar de ter tentado equilibrar a partida, esteve quase sempre em
desvantagem e que o adversário foi superior.
“Foi uma batalha do início ao fim, no
final não caiu para o meu lado. Da mesma maneira que ele podia ter fechado o
segundo ‘set’ mais cedo e ter ido para casa uma hora e meia antes — não foi
o caso.”, proferiu o Lidador com uma frieza notável.
“Considero que ele foi muito superior do início ao fim. Consegui enrolá-lo, digamos assim, e dar-lhe um bocado de esperança. Penso que ele também sentiu o momento, consegui agarrar-me a esse momento e ainda me deu algumas hipóteses, mas ele jogou melhor, serviu melhor, respondeu melhor. Tentei aproveitar aquilo que conseguia, muito inconstante, muito só na luta com o coração e depois no fim não consegui assumir o jogo.”
Primeiros jogos que doem mais que o resultado
Sobre o arranque da partida, Borges
não hesitou em assumir que poderia ter sido derrotado de forma ainda mais
expressiva, não fosse a quebra de intensidade do sérvio. Entrar no jogo,
reconhece, foi possível somente porque o adversário permitiu.
“Penso que foi um bocado o adversário ter-me deixado também entrar no jogo. Penso que se tivesse mantido o nível até ali, perdia 6-0 e 6-1, ia para casa e era o que era. Agora, felizmente, ele não conseguiu manter e, nessa altura, pude crescer, mas julgo que tive de esperar um pouco porque realmente, da maneira que ele jogava, não tinha hipóteses.”
A sinceridade com que analisa o
encontro mostra maturidade — e a crueza de um desportista que não procura
desculpas.
O peso das horas no corpo e na cabeça
Depois de uma maratona de 3 horas e
18 minutos no dia anterior, era inevitável que o cansaço se fizesse sentir.
Ainda assim, o português preferiu valorizar o mérito adversário à frente de
qualquer justificação física.
“Julgo que ontem também entrei break abaixo, com um jogador que não entrou a este nível. Hoje ele simplesmente foi muito superior. Agora não sei calcular, a percentagem de mim é que estava um bocado abaixo daquilo que normalmente estaria se estivesse totalmente fresco. Mas a verdade é que ainda me senti com energia para continuar a competir, aguentei-me ali até ao fim e o fator físico acabou por não ser tão decisivo como o nível dele.”
É esta clareza na análise que faz de
Borges um atleta com margem para crescer — porque sabe onde pode melhorar e
reconhece quando o outro foi, simplesmente, melhor.
O Estoril era o destino, não uma escala
A ideia de que o Estoril era apenas
uma preparação para Roma foi prontamente rejeitada. O objetivo era claro desde
o início: vencer em casa.
“Não vim aqui para me preparar para Roma. Vim aqui para ganhar o Estoril Open e não vim com o intuito nenhum de me preparar. Obviamente que estou em competição e assim que vou passando horas em jogo, às vezes não é necessariamente a dar mais confiança, mas sinto que pude aproveitar algumas coisas aqui deste torneio para me dar confiança para Roma, de certa maneira.”
Mesmo sem alcançar a vitória, Borges acredita que o torneio lhe deixou algo valioso para o futuro — nem que seja no plano físico.
“Considero que até foi uma boa preparação, nem que seja física.”
Uma lição com raízes portuguesas
No Estoril, o Lidador não saiu
derrotado — saiu mais consciente. A luta, o desgaste, o confronto com a
excelência do adversário e a honestidade no balanço final revelam um atleta que
cresce mesmo quando cai. Ele não se poupou, nem tentou dourar a pílula.
Roma espera por ele. Mas o coração,
esse, ficou alguns dias a mais em solo português, onde o sonho era vencer — e
não apenas passar por lá.
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