Coração até ao fim, na despedida de Borges
Por António Vieira Pacheco
![]() |
Créditos: Millennium Estoril Open. Lidador eliminado, num encontro que sentiu dificuldades físicas. |
Menos de 24 horas após ter vencido o
encontro mais longo da história do Millennium Estoril Open, Nuno Borges regressou ao Estádio Millennium com o corpo a denunciar o esforço da véspera. O
adversário, Miomir Kecmanovic — finalista da prova em 2023 — trazia frescura e
ambição. O português, apesar da fadiga, trouxe alma.
E o primeiro ‘set’ foi um pesadelo: 6-0 para o sérvio, que aproveitou um Borges irreconhecível e também realizou uma exibição exemplar. O português deveria estar ausente, com os movimentos presos, sem o habitual timing. Levou um pneu para casa diante do público nacional. Era evidente que o cansaço cobrava já o seu preço, mas a exibição do seu adversário era de alto quilate.
O regresso da alma
Na segunda partida, o maiato recuperou
o fôlego e a esperança. Esteve em desvantagem com um break, mas reagiu com
bravura e aproveitou também que o sérvio baixasse o seu nível de jogo. Salvou dois match points e forçou o tiebreak, onde foi superior.
O público levantou-se, emocionado. As palmas, as palavras de apoio, os olhares cravados no court — todos queriam acreditar.
E durante um momento, acreditaram mesmo.
Corpo a trair o sonho
A terceira partida revelou um duelo
de vontades, mas também de limites físicos. O Lidador continuou a alongar-se
entre pontos, a tentar contrariar a rigidez muscular que se instalava. Ainda
quebrou o serviço adversário e anulou mais um match point com uma direita
cruzada de levantar estádios, mas a última palavra foi mesmo de Kecmanovic. No
quarto match point, uma bola na rede pôs término ao sonho.
Uma despedida digna
Foi mais do que uma derrota: foi um
testemunho de coragem. Borges deixou o court aplaudido de pé. Sai dos
singulares, mas sai de cabeça erguida, com a certeza de que deu tudo. Ao
contrário do ano passado, em que a polémica marcou a sua despedida frente a
Cristian Garin, desta vez o adeus foi limpo, emocionante, quase
cinematográfico.
Com 28 anos, o Lidador parte agora
rumo a Roma, onde já tem lugar garantido no quadro principal dos Masters 1000.
Vai acompanhado por Jaime Faria, jovem promissor que tentará a sua sorte na
qualificação.
No Estoril, o único português ainda
em prova é Francisco Cabral, que continua a lutar pela final de pares.
Comentários
Enviar um comentário
Críticas construtivas e envio de notícias.