Coração até ao fim, na despedida de Borges

                                                           Por António Vieira Pacheco

O sonho de vencer o Millennium Estoril Open 2025 acabou hoje para o Lidador.
Créditos: Millennium Estoril Open. Lidador eliminado, num encontro que sentiu dificuldades físicas.

Menos de 24 horas após ter vencido o encontro mais longo da história do Millennium Estoril Open, Nuno Borges regressou ao Estádio Millennium com o corpo a denunciar o esforço da véspera. O adversário, Miomir Kecmanovic — finalista da prova em 2023 — trazia frescura e ambição. O português, apesar da fadiga, trouxe alma.

E o primeiro ‘set’ foi um pesadelo: 6-0 para o sérvio, que aproveitou um Borges irreconhecível e também realizou uma exibição exemplar. O português deveria estar ausente, com os movimentos presos, sem o habitual timing. Levou um pneu para casa diante do público nacional. Era evidente que o cansaço cobrava já o seu preço, mas a exibição do seu adversário era de alto quilate.

O regresso da alma

Na segunda partida, o maiato recuperou o fôlego e a esperança. Esteve em desvantagem com um break, mas reagiu com bravura e aproveitou também que o sérvio baixasse o seu nível de jogo. Salvou dois match points e forçou o tiebreak, onde foi superior.

O público levantou-se, emocionado. As palmas, as palavras de apoio, os olhares cravados no court — todos queriam acreditar. 

E durante um momento, acreditaram mesmo.

Corpo a trair o sonho

A terceira partida revelou um duelo de vontades, mas também de limites físicos. O Lidador continuou a alongar-se entre pontos, a tentar contrariar a rigidez muscular que se instalava. Ainda quebrou o serviço adversário e anulou mais um match point com uma direita cruzada de levantar estádios, mas a última palavra foi mesmo de Kecmanovic. No quarto match point, uma bola na rede pôs término ao sonho.

Uma despedida digna

Foi mais do que uma derrota: foi um testemunho de coragem. Borges deixou o court aplaudido de pé. Sai dos singulares, mas sai de cabeça erguida, com a certeza de que deu tudo. Ao contrário do ano passado, em que a polémica marcou a sua despedida frente a Cristian Garin, desta vez o adeus foi limpo, emocionante, quase cinematográfico.

Com 28 anos, o Lidador parte agora rumo a Roma, onde já tem lugar garantido no quadro principal dos Masters 1000. Vai acompanhado por Jaime Faria, jovem promissor que tentará a sua sorte na qualificação.

No Estoril, o único português ainda em prova é Francisco Cabral, que continua a lutar pela final de pares.


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