Sofia Prazeres faz, hoje, 51 anos: o ténis como permanência e paixão

                                                                            Por António Vieira Pacheco

Hoje, Sofia festeja o seu 51.º aniversário.
Créditos: FPT. Sofia comemora neste feriado em Portugal o seu 51.º aniversário

Parabéns, Sofia Prazeres!

Há aniversários que são mais do que datas — são marcos. Hoje, 19 de junho de 2025, Sofia Prazeres celebra 51 anos de vida, e com ela o ténis português recorda uma das suas maiores figuras. Durante quase uma década, dominou os campos de ténis nacionais como poucas. Mas o seu legado não mora somente nas vitórias: vive no gesto técnico depurado, na dignidade competitiva, na forma como escolheu entrar — e sair — do palco.

A campeã improvável

Nascida no Porto, em 1974, e criada entre aulas e raquetes, Sofia cedo demonstrou o talento raro que separa os bons dos predestinados. Com somente 16 anos, já marcava presença no Estoril Open, enquanto somava o primeiro de nove títulos consecutivos de campeã nacional absoluta — uma hegemonia que durou de 1990 a 1998.

Num país onde o ténis feminino mal chegava às páginas dos jornais, Sofia impôs-se com naturalidade desconcertante. Jogava com inteligência, sobriedade e uma serenidade que confundia adversárias. Não havia dramatismo — somente precisão.

O voo internacional

No circuito internacional, atingiu o 152.º lugar do ‘ranking’ WTA — marca histórica para uma jogadora portuguesa até então. Conquistou um título ITF em singulares, em Guimarães, e seis em pares, entre Espanha e Itália. Esteve à porta de Roland Garros, perdendo na última ronda da qualificação em 1997, mas o ténis tem destas ironias — uma derrota pode valer tanto quanto uma presença.

Pela seleção nacional, representou Portugal com brio, somando 30 vitórias em 49 partidas da Fed Cup, hoje Billie Jean King Cup. Era, em todos os sentidos, a melhor do seu tempo.

O silêncio escolhido

Em 1998, com somente 24 anos, escolheu a retirada. Uma decisão que surpreendeu, talvez, mas que não destoava do seu estilo. Sofia saiu como viveu: sem alarido, com dignidade.

Regressou ao Porto, formou-se em contabilidade e passou a treinar jovens no clube da cidade. Se nas conferências de imprensa raramente se alongava, era nos treinos — e no exemplo — que continuava a ensinar.

O tempo e o regresso

Seria fácil imaginar que o tempo tivesse levado consigo a antiga campeã. Mas o ténis, esse, nunca se ausentou por completo. Em vez dos grandes estádios, vieram os torneios de veteranos — e com eles, um novo capítulo.

Entre 2022 e 2025, Sofia regressou à competição internacional, desta vez nos escalões +45 e +50 da ITF. Representou Portugal no Campeonato do Mundo de Veteranos, onde conquistou uma medalha de bronze em pares femininos. Em 2023, foi campeã nacional de pares mistos +45. E já este ano, venceu dois títulos no torneio ITF Masters de Beaulieu-sur-Mer, em singulares e pares mistos. Aos 51, continua a vencer — não por nostalgia, mas por prazer.

O nome que permanece

Sofia Prazeres não é apenas um nome nos registos estatísticos. É um capítulo inteiro da história do ténis em Portugal. Foi pioneira, inspiração e, acima de tudo, uma jogadora que sempre soube quem era — dentro e fora do court.

Com ela, o ténis não era espetáculo nem protesto: era arte contida, silêncio técnico, elegância estratégica. E continua a sê-lo, agora nos campos de ténis de veteranos, onde os pontos valem o mesmo, mas o jogo é outro.

Linha do tempo (com pausas)

Ano

Acontecimento

1974

Nasce no Porto

1990–1998

Conquista 9 títulos nacionais consecutivos

1997

Chega ao 152.º lugar do ‘ranking’ WTA

1998

Retira-se aos 24 anos

2022

Bronze no Mundial de Veteranos +45

2023

Campeã nacional de pares mistos +45

2025

Vence torneio ITF Masters +50 em França

A celebração que importa

Hoje, mais do que os anos, celebramos a permanência. A constância de quem nunca precisou gritar para ser ouvida. Aos 51 anos, continua a jogar — e a ensinar — com a mesma leveza com que sempre tratou o jogo: com seriedade, mas sem peso.

Feliz aniversário, Sofia. O ténis agradece-lhe.

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