Matilde Jorge: Rumo ao trono nacional
Por António Vieira Pacheco
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Créditos: FPT. Matilde Jorge perto de se tornar rainha portuguesa em casa. |
Matilde à porta do número um
O céu pode ter desabado sobre
Guimarães esta sexta-feira, mas a tempestade que realmente importa veio do
braço direito de uma portuguesa de 21 anos: Matilde Jorge. Num dia de
jornada dupla, entre chuva e promessas, a jovem vimaranense conquistou duas
vitórias e colocou-se a somente um passo de um feito histórico — tornar-se,
pela primeira vez, a número um do ténis nacional.
Com o público da sua terra natal a
assistir, Matilde começou por ultrapassar a australiana Gabriella da
Silva Fick (409.ª WTA) com os parciais de 6-2 e 6-4, num jogo adiado do dia
anterior pela meteorologia, mas não pela ambição. Poucas horas depois, voltou
ao court com igual ou maior fome de conquista. Frente à finlandesa Anastasia
Kulikova (393.ª), resistiu a um primeiro ‘set’ perdido por 6-7(5), mas
respondeu com autoridade: 6-1 e 6-2, após 2h30 de batalha.
A oitava sinfonia: Montemor foi
prelúdio
Esta foi a oitava vitória consecutiva
para Matilde, que aterrou em Guimarães com o troféu de campeã do ITF W50
de Montemor-o-Novo — o maior da carreira — ainda a brilhar na bagagem. Essa
conquista parece ter libertado uma nova versão de si mesma: mais solta, mais
confiante, mais madura.
Agora, em casa, ela pisa cada ponto
com a solenidade de quem sabe que o momento é maior do que o próprio torneio. É
uma espécie de coroação iminente — basta-lhe vencer mais um encontro para
assumir o trono de número um nacional, estatuto atualmente pertencente à irmã
mais velha, Francisca Jorge.
Uma disputa familiar com gosto a
legado
Francisca, por sua vez, ainda resiste. Também
com jornada dupla nesta sexta-feira, poderá manter o topo se revalidar o título
em Guimarães — apesar de perder pontos, uma vez que o torneio desceu de
categoria, de ITF W75 para W50. Mas a matemática é clara: se Matilde
vencer mais uma vez, o trono muda de mãos.
Isto não é somente uma história de
‘rankings’. É uma narrativa de irmãs, de gerações que se empurram mutuamente
para patamares superiores. Uma rivalidade saudável que honra o nome da família
Jorge e eleva o ténis feminino português a novos horizontes.
O próximo desafio: Hina ou Polina
No sábado, Matilde Jorge enfrentará a
vencedora do duelo entre a norte-americana Hina Inoue (205.ª do mundo) e a
russa Polina Iatchenko (353.ª). Será, certamente, um novo teste à consistência
e à força mental da portuguesa — mas também uma oportunidade dourada para fazer
história diante do seu povo, no seu piso, com a alma a vibrar entre cada
pancada.
O ténis, por vezes, oferece-nos
narrativas maiores do que o jogo em si. E Matilde está a escrever a sua com
raquetes e suor, mas também com poesia. Em Guimarães, cidade de fundações e
lendas, a jovem pode tornar-se símbolo de um novo tempo para o desporto
nacional.
A pergunta que ecoa nas bancadas e
nas entrelinhas: será este o seu momento? Será este o dia em que uma nova
número um ergue a cabeça… e o país ergue-se com ela?
O sábado trará a resposta. Mas até
lá, Matilde já nos ofereceu algo raro: esperança.
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