Canhão do Jamor dispara em direção ao quadro principal de Wimbledon

                                                                        Por António Vieira Pacheco

Canhão do Jamor à porta do quadro principal em Wimbledon.
Créditos: ATP Tour. Jaime Faria festeja mais uma vitória no qualifying de Wimbledon.

Jaime Faria vence na relva sagrada de Roehampton e está a um passo de fazer história.

A artilharia portuguesa acertou precisamente nos campos de relva londrinos. Jaime Faria, conhecido no circuito como o Canhão do Jamor, voltou a mostrar que o futuro do ténis nacional tem pólvora seca e cabeça fria. Esta quarta-feira, o jovem lisboeta de 21 anos (117.º ATP) superou o argentino Marco Trungellitti (152.º) por 6-3 e 7-5, selando com firmeza a passagem à terceira ronda da fase de qualificação de Wimbledon — ficando, assim, a um passo do tão desejado quadro principal do Grand Slam britânico.

Numa relva que muitas vezes faz escorregar até os mais experientes, Faria manteve-se de pé, sólido na pancada e sereno no momento chave. O argentino, habituado a estas lides e detentor de um estilo combativo, tentou inverter o rumo das coisas no segundo parcial, mas o português mostrou que a juventude, quando guiada por inteligência tática, sabe fechar portas antes que o adversário entre.

Um passo do sonho: Wimbledon à vista

Se vencer o próximo encontro, o lisboeta tornar-se-á o segundo português no quadro principal de Wimbledon este ano, ao lado de Nuno Borges, já apurado por mérito de ‘ranking’. Um feito raro, que seria mais um marco no crescimento discreto, mas consistente, do ténis nacional.

A prestação de Faria no qualifying tem sido exemplar: sem ceder um único ‘set’ até ao momento, e mostrando evolução na leitura do jogo e na adaptação à superfície — ainda um terreno misterioso para a maioria dos jogadores lusos.

Uma geração que dispara com intenção

Com somente 21 anos, Faria não é só mais uma promessa: é o rosto de uma geração que já começa a colher o que a anterior semeou com sacrifício. Cresceu nas escolas do Jamor, onde o cimento e a terra batida era rei, mas soube — como poucos — ajustar o pulso à delicadeza traiçoeira da relva.

O serviço potente, verdadeiro estandarte do seu jogo, e a capacidade de bater com profundidade do fundo do campo fizeram a diferença frente a Trungellitti. No final, o resultado foi claro, mas o percurso não o foi menos: do físico ao mental, Faria demonstrou maturidade de veterano num corpo ainda jovem.

A força tranquila de Nuno Borges

Do outro lado do Atlântico, Nuno Borges prepara-se para entrar em cena no All England Club, onde será, para já, o único português garantido no quadro principal. Apesar da recente derrota em Eastbourne com o norte-americano Jenson Brooksby (149.º), o Lidador chega a Londres com a experiência, o ‘ranking’ (37.º ATP) e a serenidade de quem sabe que, em Wimbledon, cada ponto é uma batalha contra o acaso e a tradição.

A relva é volátil, traiçoeira, bela. Um palco que tanto acolhe heróis como engole favoritos. E é nesse teatro, onde a história do ténis se escreve com passos leves e pancadas firmes, que ambos os portugueses podem cruzar destinos — um pela consistência, o outro pela ambição juvenil.

Se Jaime Faria vencer o último obstáculo no qualifying, Portugal terá dois nomes no quadro principal de Wimbledon. E isso, para um país que há não muito tempo só sonhava com tais feitos, é já uma vitória à altura da relva que pisam.

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