Nuno Marques e o Satélite Slam invisível do ténis português

                                                                                        Por Redação

Observar o portuense a jogar é um regalo.
Créditos: Direitos Reservados. Nuno Marques, um senhor do ténis português.

Recordar Nuno Marques

Havia algo de vento norte e obstinação no braço esquerdo de Nuno Marques.

A cada pancada, uma cicatriz que se apagava. A cada vitória, um silêncio que se desfazia. No verão quente e longo de um circuito português, entre Cascais e Espinho, o esquerdino portuense gravou o seu nome em pedra dura.

Poucos viram. Menos ainda se lembram. Mas ele venceu quatro torneios consecutivos de um Circuito Satélite ITF/ATP, uma façanha que só 15 tenistas no mundo haviam conseguido até então. Marques saboreava as quatro fatias do Satélite Slam invisível. E sorriu.

Quatro semanas, quatro troféus

Foram 29 dias de combate, 19 vitórias em singulares, e um percurso que começou nos campos de ténis de terra batida do Country Club de Cascais e terminou na vibração fria e moderna de Espinho. Pelo caminho, nomes grandes: João Cunha e Silva (batido por 6-4 e 6-3), Emanuel Couto (derrotado por 3-6, 6-3 e 6-1). Era o auge de um tenista que, aos 29 anos, parecia estar em paz com tudo — menos com a memória curta dos outros.

“Nunca seria eu”

“Para muita gente, se um dia um português conseguisse ganhar os quatro torneios de um circuito, certamente que não seria eu”, proferiu na altura ao Press Officer do torneio.
“Ainda há quem me veja como um jogador sem disciplina de trabalho e sem espírito de sacrifício, mas demonstrei conseguir conquistar algo muito difícil”, concluiu em jeito de recado.

E demonstrou mesmo. Com raquetas, suor, silêncio e poeira.
Com a obstinação de quem joga contra os adversários e contra a opinião alheia.

O que o portuense fez não teve palcos internacionais nem holofotes da televisão. Mas foi tão grandioso quanto um título em Wimbledon — pelo menos para quem conhece as curvas íngremes do ténis português.

Este é um texto que faltava na história de Marques.
Porque existem feitos que, se não forem escritos, falecem.
E o portuense não merece o esquecimento. Ele merece o poema. E agora, talvez, a sua leitura.

 

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