Nuno Borges triste reconhece dificuldades: “Senti-me vulnerável em várias situações”

                                                                                                    Por António Vieira Pacheco

Maiato encontrou muitas dificuldades na resposta ao serviço.
Créditos: ATP Tour. A frustração do Lidador na despedida de singulares em Roland Garros.

A história foi feita, mas o sabor ficou agridoce

Nuno Borges entrou em Roland Garros para competir, saiu com um lugar na história do ténis português. Na passada quarta-feira, tornou-se no primeiro homem luso a alcançar a terceira ronda de singulares na catedral da terra batida — e não o fez sozinho, pois dias depois viu o compatriota e amigo Henrique Rocha seguir-lhe os passos. Ainda assim, a saída desta sexta-feira, em três ‘sets’ frente a Alexei Popyrin, deixou-lhe um travo amargo.

“Faltou jogar melhor”

Sem rodeios e com a franqueza que o caracteriza, o número 41 do ‘ranking’ ATP não escondeu a desilusão com a sua prestação:

“Faltou jogar melhor. Fiz muitos erros não forçados, houve muitas bolas em que tomei as decisões erradas ou executei mal. Passei dois ‘sets’ sem conseguir responder ao serviço dele, é patético. A este nível é a verdade, não pode acontecer. Mesmo assim estive perto e senti que fisicamente, no fim, estava melhor do que ele, mas não consegui jogar bem.”

Foi uma análise dura, crua, de quem esperava mais. Borges sabia o que tinha em mãos — uma oportunidade de ouro — e não a conseguiu aproveitar.

A exigência da terra batida e as dificuldades técnicas

Apesar do feito, o Lidador não se deixou embalar pelo momento. Reconheceu as exigências únicas da superfície de Roland Garros e assumiu que não correspondeu:

“Para ser sincero, ponho um bocadinho em causa a terceira ronda, porque sabia que estava na terceira ronda, mas não joguei da maneira que estava à espera. Sabia que tinha de trabalhar para ganhar hoje, mas não consegui fazer as coisas bem. A terra batida exige muito mais do que o piso rápido e senti-me vulnerável em várias situações.”

“Tinha os pés bem assentes na terra”

Questionado sobre a pressão e as expetativas após eliminar o norueguês Casper Ruud, ex-número dois mundial, o maiato rejeitou essa leitura:

“Sinceramente, tinha os pés bem assentes na terra. Sei que só consegui crescer no encontro com o Casper porque ele não estava bem fisicamente. Hoje tinha de jogar melhor, mas as condições estavam muito diferentes. No outro dia as respostas encaixaram ao nível da cintura, hoje foi tudo muito mais alto, com a bola muito mais saltitona.”

As condições meteorológicas mudaram — o calor elevou-se, a bola saltou mais — e o maiato sentiu isso particularmente na esquerda, zona onde admitiu ter perdido muitos pontos.

“Tive muitas dificuldades na esquerda, principalmente a responder, e o serviço dele já ia saltar mais à partida e com esta diferença de temperatura ainda aumentou.”

Frustração, mas também sinais de força

À saída dos singulares, Borges não escondia a frustração — sentimento inevitável quando se sente que havia margem para mais. No entanto, mesmo sob o peso da derrota, encontrou clareza para olhar para a frente:

“Tenho dificuldades em ver algo de positivo neste momento, devido à frustração. Mas tiro 100 pontos extremamente importantes e uma prestação que faz os outros jogadores ver que estou aqui para competir e para ficar.”É essa mentalidade que, apesar da queda, deixa a porta aberta a um futuro ainda mais promissor. 

Portugal ainda resiste em Roland Garros

O Lidador continua em prova nos pares, ao lado do francês Arthur Rinderknech, e terá este sábado novo encontro. Mas todas as atenções recaem agora também sobre Henrique Rocha, que com apenas 20 anos poderá tornar-se no primeiro português de sempre a chegar aos oitavos de final de singulares em Roland Garros.

Mesmo com a despedida precoce, Borges sai de Paris maior do que entrou. A sua honestidade brutal é, também ela, parte do seu valor como atleta — e o ténis português agradece.

 

 

 

 

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