Henrique Rocha explica: "A celebração certa para o momento certo"

                                                               Por António Vieira Pacheco

Portuense está pronto para outra batalha.
Créditos: ATP Tour. Portuense revela: "A cabeça virou quando fui à casa de banho",

Da qualificação a protagonista em Roland Garros

Henrique Rocha tinha diante de si uma missão hercúlea. Não inédita — Nuno Borges abrira o caminho dias antes —, mas ainda assim rara e exigente.

Frente ao checo Jakub Mensik, num duelo de resistência e fé, o jovem português reescreveu a narrativa com tinta épica: venceu após estar a perder por dois ‘sets’ a zero. E, com isso, tornou-se o primeiro homem português a somar cinco vitórias num único torneio do Grand Slam.

A arte de virar o destino

“Os primeiros dois ‘sets’ não foram nada fáceis. Ele é um ótimo jogador”, começou por dizer Henrique, num inglês comedido, ainda sob o peso da adrenalina. “Comecei a servir melhor, a jogar mais agressivo e o encontro mudou muito.”

Mas foi em português que revelou com clareza o momento-chave:

“Quando fui à casa de banho [após o segundo ‘set’], pensei: ‘sirvo pior, a responder pior… o que posso mudar?’.”

A resposta veio com estratégia e frieza: mais primeiros serviços, agressividade no segundo saque, e movimentações subtis na resposta para destabilizar o adversário.

“Mesmo estando break abaixo, continuei a lutar. Quando fiz o break, senti que já estava mais perto, mesmo ainda estando longe. E acabei a jogar melhor do que ele.”

Lucidez no meio do feito e humildade como norte, e com a serenidade de quem compreende que o caminho é longo, Henrique evitou euforias.

“O Nuno fê-las primeiro”, lembrou, referindo-se aos feitos inéditos.

Mas também reconheceu, com orgulho contido:

“Hoje desbloqueei mais um nível. Quero continuar com esta ambição.”

Corpo fresco, mente pronta

Depois de 10 ‘sets’ e uma maratona emocional, apesar do esforço acumulado — desde a fase de qualificação — Rocha garantiu estar fisicamente bem.

“Sinto-me bastante fresco”, assegurou.

E mentalmente, também. Pronto para o próximo embate. Pronto para outra batalha.

A celebração viral

“Que cold”: o grito vindo do coração. Nas redes e nos corredores do Roland Garros, a celebração de Rocha virou símbolo.

“É algo que fazemos muito lá no CAR. Quando estamos a ver jogos, dizemos ‘que cold’”, explicou, rindo.

Sem planeamento, sem pose. Apenas instinto. Uma expressão de grupo, de casa, de identidade.

O portuense conquistou mais do que uma vitória em Paris. Conquistou um lugar na história, uma página no ténis nacional e um espaço no coração dos que acreditam no poder da resiliência. O caminho é longo, como ele próprio sabe. Mas para já, Paris é dele.


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