Novak Djokovic, o tempo e a raqueta
Por António Vieira Pacheco
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Créditos: Bussiness Traveler. O sérvio ainda não quer se retirar ainda do circuito internacional. |
Na primeira manhã deste mês, de maio, ainda fresca, chegou-nos uma capa invulgar. Novak Djokovic,
rosto sereno e olhar firme, surgia estampado na edição norte-americana da Business
Traveler. O maior vencedor de Grand Slams da história não falava somente de
ténis — falava de legado. De saúde, de filhos e futuro. E recusava, com uma
calma desarmante, o peso da palavra “fim”.
Um campeão inquieto
Djokovic, prestes a completar 38
anos, poderia descansar na glória. Mas não. Com 24 títulos de Grand Slam em
singulares, ele não olha para trás, nem para o lado. “O seu maior adversário é sempre a pessoa que era ontem”, proferiu E nessa frase, onde mora em toda a
filosofia do sérvio — a constante superação, não somente nos campos de ténis,
mas na vida.
Insiste em manter-se curioso, aberto,
atento ao detalhe. A vitória, diz ele, é filha da inovação. “No
desporto de alto rendimento, parar é regredir.” E Djokovic não está
pronto para parar.
Além do court: saúde, ciência e propósito
Quando não está com a raqueta na mão,
o sérvio investe — em ideias, em pessoas, em futuro. É fundador do projeto
SILA, dedicado ao bem-estar físico e mental. Acredita num equilíbrio entre
medicina tradicional e terapias alternativas. Defende a prevenção antes da
prescrição.
“Vivemos num ritmo que nos afasta da
nossa essência”,
afirmou. Por isso, aposta em soluções integradas, como a prática de ioga,
alimentação consciente e apoio emocional. Com a esposa Jelena, é também sócio
de um laboratório na Dinamarca que lidera investigações na área da farmacologia
— incluindo medicamentos contra a COVID-19.
Não é um desportista que assina
produtos; é um homem que pensa sistemas.
Pai, jogador, inspiração
A chegada dos filhos Stefan e Tara
alterou-lhe o eixo. Djokovic reconhece: a paternidade tornou-se o centro da sua
motivação. Queria que o vissem jogar. Queria que percebessem quem é o pai, no
palco sagrado de Wimbledon. E conseguiram. Stefan, hoje com 10 anos, vibra a
cada visita ao All England Club.
“É sempre uma questão de encontrar
novas maneiras de te inspirares. Porque é isso que te faz levantar de manhã”, declarou
Longe do ruído do circuito, Djokovic
é um pai presente. Brinca, ensina, escuta. E isso, confessa, “enche-lhe o
coração”.
A sombra da reforma... e a luz da persistência
Na entrevista, há uma pausa que diz
mais do que mil frases. Quando questionado sobre a retirada, Djokovic hesita.
Sorri. E responde: “Ainda não sinto que seja o suficiente.” Essa
ausência de fim soa mais a princípio. Há recordes por alcançar, jovens rivais
por desafiar, sonhos por refinar.
No ténis, explica, “quando
sentes que é suficiente, é mesmo o fim. E ainda não estou lá.”
Num desporto onde os anos pesam como
chumbo, Djokovic flutua. Não por milagre, mas por método. Cuida do corpo como
um templo, da mente como um jardim. E segue, raqueta em punho, rumo ao seu
centésimo título ATP — e além.
Um homem em pleno voo
Este não é apenas um atleta lendário.
É um cidadão do mundo. Um pai com prioridades claras. Um investidor atento às
urgências do nosso tempo. E, acima de tudo, um homem fiel a si próprio.
Djokovic não é movido pelo medo da
derrota, mas pela fome de evolução. É essa energia — calma, sólida,
comprometida — que o mantém de pé, a sorrir sob os holofotes, enquanto tantos
já baixaram os braços.
O sérvio, aos 37 anos, recusa
despedidas. Não porque nega o tempo, mas porque aprendeu a caminhar com ele. E,
enquanto houver chão, ele jogará.
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