Marcos Freitas resiste e segue com classe
Por António Vieira Pacheco
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Créditos: WTT. A classe e a experiência do melhor jogador português de sempre. |
A arte do contra-ataque
Em Doha, sob o calor seco da área de
jogo e a frieza implacável das estatísticas, Marcos Freitas, de 37 anos,
escreveu resistência com raqueta e suor. Defrontou o egípcio Omar Assar, homem
alto no ‘ranking’ e ainda mais alto nas expectativas — número 27 do mundo, 23.º
cabeça de série e de 33 anos — e venceu-o num duelo de sete capítulos, onde o
último ponto teve o sabor das epopeias.
O encontro começou torto para o
português. O primeiro ‘set’ caiu para Assar, por 11–6. Freitas, velho
marinheiro destas mesas, reagiu com precisão e conquistou o segundo por 11–8. O
terceiro foi uma dança tensa, ponto a ponto, até que o egípcio fechou por
12–10. Mas o português respondeu com arte: 11–3 e 11–8 nos dois parciais
seguintes, colocando-se a um ‘set’ da vitória.
Assar ainda prolongou o combate ao
vencer o sexto por 11–8. E então chegou o desfecho.
O ponto final
No sétimo e derradeiro ‘set’, ambos
mediram cada gesto. A igualdade manteve-se até ao fim. Aos 10–10, o coração
apertava. O madeirense serviu como se servisse o destino. O egípcio
devolveu mal. A bola saiu. 11-10. O egípcio serve e o português responde com grande mestria e o africano ataca forte. E com a bola a sair, explodiu o grito português.
Vitória por 12–10 na negra. No total:
quatro ‘sets’ para Freitas, três para Assar, ao cabo de uma hora e oito minutos
de combate.
Na folha de registos, uma diferença
de 71 lugares no ‘ranking’. Na mesa, a alma pesou mais do que os números.
João Geraldo: um primeiro ‘set’ de esperança
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Créditos: WTT. Geraldo festeja um ponto... |
Antes disso, João Geraldo começou em grande frente ao chinês Liang Jingkun, número cinco do mundo. Venceu com brilho o primeiro parcial, por 11–5. Mas a muralha chinesa ergueu-se. E nos quatro ‘sets’ seguintes, Liang tomou conta do jogo: 11–7, 11–3, 11–8 e 11–8. João caiu com dignidade. Mas caiu.
O sonho de um duelo português nos 16
avos desfazia-se ali, ao fim de 40 minutos.
Com as eliminações de João
Geraldo, João Monteiro e Tiago Apolónia, Marcos Freitas é o único
resistente luso no quadro masculino do Mundial.
No feminino, Jieni Shao mantém
viva a chama nacional. A número 59 mundial defronta na terça-feira Satsuki Odo,
do Japão, oitava do ‘ranking’ e sétima cabeça de série.
E agora, um dos colossos
Na mesma terça-feira, Freitas volta à mesa. E do outro lado estará Liang Jingkun — o mesmo que
derrotou o transmontano. Um gigante do ténis de mesa chinês.
Mas quem já derrubou um colosso
egípcio pode bem ousar desafiar um dragão.
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