Bruno Carvalho: “A carreira ficaria completa com a presença nos Jogos Olímpicos”

🖋️Por: António Vieira Pacheco

📸 Créditos: Federação Portuguesa de Badminton

⏱️ Tempo de leitura: 5 minutos

Bruno Carvalho mostra credencial de prova internacional.
Bruno Carvalho mostra credencial e leva o nome de Portugal ao resto do Mundo.

Aos 31 anos, Bruno Carvalho vive o auge da carreira no badminton português. Entre madrugadas de treinos, viagens longas e lutas silenciosas contra as próprias limitações, o atleta tornou-se um símbolo de resiliência numa modalidade que raramente ocupa as primeiras páginas. Porém, o seu percurso mostra precisamente porque merece ocupá-las.

No silêncio das manhãs, quando a raquete corta o ar como se traçasse linhas invisíveis no espaço, ergue-se a figura de um dos nomes firmes da modalidade. Bruno carrega 21 anos de seleção às costas. É uma vida inteira de dedicação, disciplina e amor pelo jogo.

A sua história não se resume a quadros de resultados ou ‘rankings’. É feita de persistência, viagens discretas por torneios internacionais, quedas que se transformam em lições e vitórias que alimentam sonhos maiores. Estreou-se em Campeonatos da Europa em 2024, na Alemanha, e regressou em 2025, na Dinamarca, consolidando o seu lugar entre os melhores.

Para muitos, o ‘ranking’ mundial é somente um número. Para Bruno, é a confirmação de que o trabalho diário faz sentido — e de que o badminton português pode ir mais longe.

Reconhecimento e valor

Perguntámos se sente que o seu nível é plenamente reconhecido na modalidade, em Portugal. Bruno não necessitou de pensar muito para responder:

“Qualquer atleta reconhece o meu nível. Estou na seleção desde os 10 anos. Mas, honestamente, isso não me afeta.”

A frase carrega maturidade — e a serenidade de quem percebe que o reconhecimento externo nunca será tão importante quanto o compromisso interno.

A dor da derrota exemplificada na foto.
A frustração da derrota. 

A dor das derrotas…

Entre perder uma final e ouvir críticas superficiais como “é o melhor lá fora, mas não ganha cá dentro”, a resposta do nativo de Lisboa é imediata:

“Perder qualquer encontro sempre foi mais duro. Sei o trabalho que faço diariamente. As derrotas são amargas, mas são oportunidades de aprender.”

Há atletas que se alimentam do barulho. Bruno alimenta-se da verdade.

Com nove títulos de campeão nacional em pares e vários outros nas categorias não seniores, há dois objetivos que continuam a escapar-lhe: o título nacional em singulares e em pares mistos.

E a explicação é sincera do atleta do CHE Lagoense, sem floreados:

“As provas são competitivas o suficiente. Se num dos quatro encontros não consigo trazer o meu melhor nível, posso acabar por não vencer o campeonato nacional. É a realidade. Sei que não preciso do título nacional para provar nada, mas, por ser um título, todos o desejam e ninguém se importa de o conquistar.” 

Ambição não lhe falta — realismo também não.

O circuito nacional não o limita

Há atletas de outras modalidades de raquetes que veem o circuito português como pequeno demais. Bruno não está nesse grupo.

“O circuito português impulsiona-me.”

É uma afirmação que contraria preconceitos e mostra que, para quem tem mentalidade vencedora, qualquer ambiente competitivo serve para crescer e brilhar.

O título nacional completa a carreira? Muitos diriam que sim. Bruno afirma que não e justifica:

“Embora gostasse de conquistar o título nacional, nos últimos 4 anos o meu foco tem estado nas competições internacionais. Todo o planeamento e investimento que faço são direcionados para alcançar sonhos a esse nível, pelo que a competição nacional acaba por ficar em segundo plano. A minha carreira ficaria completa com uma qualificação para um Mundial ou Jogos Olímpicos.”

É aqui que se percebe a dimensão da ambição: ela é maior que o país, maior que um pavilhão, maior que um troféu.

Bruno Carvalho festeja
A felicidade de um guerreiro.

Quando questionado se prefere conquistar o título nacional ou estar entre os 100 melhores do mundo, a resposta de Bruno surge com convicção.

“Sem dúvida, estar entre os 100 melhores do ‘ranking’ mundial.”

Para quem vive o badminton de dentro, a grandeza não se mede unicamente no palco nacional.

O atleta é o mesmo dentro e fora do País

Perguntámos se existe diferença entre o atleta que compete lá fora e o Bruno que entra nos torneios portugueses. A resposta, curta e crua, mostra consistência mental:

“Sou o mesmo.”

E sobre possíveis “irritações” com adversários nacionais:

“Talvez quando era júnior. Hoje nem é questão.”

É outro sinal de maturidade — e de foco.

As derrotas mais difíceis…

Quando a derrota é emocional, recupera-se com trabalho mental. Mas quando o corpo falha, o tempo treina a paciência.

“As derrotas físicas são as únicas que custam realmente. As outras exigem esforço mental; as físicas exigem tempo e reabilitação. Com o tempo, tudo se ultrapassa.”

É o tipo de reflexão que só nasce da experiência.

Sobre críticas de falta de agressividade nos momentos decisivos, Bruno foi direto:

“Não sei quem o afirma, mas estão à vontade para falar comigo diretamente.”

Um recado elegante, mas firme.

O que o faria abandonar o badminton amanhã? A resposta mais curta de toda a entrevista do veterano praticante — e talvez a mais poderosa:

“Nada.”

O desporto vive dentro dele. Se presidisse à Federação Portuguesa de Badminton durante um mês? Bruno não tenta ser aquilo que não é. Reconhece limites e recusa respostas vazias:

Não tenho formação nem informação suficiente para conhecer todas as funções e responsabilidades de um presidente de federação. Por isso, qualquer opinião que desse seria sem fundamento e não teria valor neste contexto.

A franqueza é rara em ambientes onde todos têm soluções mágicas, e Bruno valoriza a honestidade acima de títulos ou elogios.

O futuro: partilhar e ensinar

Quando questionado sobre perguntas incómodas, surpreende outra vez:

“Não existem no badminton. Sempre fui honesto. Quero auxiliar os próximos que queiram seguir algumas das minhas passadas.”

O presente é competitivo; o futuro tende para a partilha de conhecimentos.

Em Portugal, as modalidades só ganham visibilidade quando surgem resultados. O lisboeta recorda que o valor real do desporto está nas jornadas de cada atleta, nos treinos, nas derrotas e nas superações. E a história dele inspira todos que acompanham o badminton e o desporto de forma geral. 

Leia também: Diamantino Ruivinho: ‘A Che Lagoense é uma grande família’.


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