Arcádio Sousa: “O desporto tem de ser universal e gratuito para todos”
🖋️Por: António Vieira Pacheco
📸 Créditos: Real Cerveirense 1321
⏱️ Tempo de leitura: 5 minutos
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| Arcádio Sousa, o impulsionador do ténis de mesa em Vila Nova de Cerveira. |
Um novo emblema com história
Em Vila Nova de Cerveira, o som das raquetes mistura-se com o murmúrio do rio Minho e o eco das vozes de quem acredita no poder do desporto para unir uma comunidade. Longe dos holofotes mediáticos, nasce um projeto com alma, feito de persistência, amizade e sonho: o Real Cerveirense 1321.
Fundado a 25 de agosto de 2025, este clube jovem carrega no nome a história da vila — o ano do foral concedido por D. Dinis — e nas suas raízes, o desejo de fazer do ténis de mesa uma bandeira de identidade e partilha.
À frente deste desafio está Arcádio Sousa, presidente da direção, sócio fundador e árbitro da modalidade. Fala com a serenidade de quem conhece o terreno e com a paixão de quem acredita que o desporto é, antes de tudo, um espaço de liberdade e inclusão.
Em cada palavra, transparece o compromisso de transformar o ténis de mesa num
projeto de comunidade — feito de valores, persistência e amor à terra.
“Gosto de dizer que somos um clube
novo, mas com uma ligação intrínseca à história do concelho de Vila Nova de
Cerveira”, afirma
o dirigente.
Missão e compromisso com a comunidade
Mais do que um clube, o Real
Cerveirense 1321 quer ser parte ativa da vida local.
“Não queremos ser somente mais um
clube em Vila Nova de Cerveira. Queremos estar junto da comunidade. Nos nossos
estatutos temos como missão desenvolver o desporto e a cultura em Cerveira.
Sabemos que existem diversas coletividades com mais estrutura, mas com o tempo
queremos ser também uma das referências desportivas e culturais da nossa vila.”
Um projeto dedicado ao
ténis de mesa
O ténis de mesa é, por agora, a única
modalidade do Real Cerveirense 1321.
O clube foi criado precisamente com esse propósito. Consolidar e fazer crescer
a modalidade na região.
“Nunca fecharemos as portas a novas
modalidades que possam surgir”, reforça, sublinhando a ambição de continuar a
expandir.
O dirigente explica que o ténis de
mesa não caiu de paraquedas em Cerveira. Foi fruto de um trabalho paciente e
consistente, iniciado ainda nos tempos do Cerveira Futsal.
“Já existia um trabalho anterior,
desenvolvido por nós, que gradualmente foi a afirmar a modalidade. Sabemos que
não é fácil estabilizar uma modalidade numa terra onde o futebol e o futsal
dominam. Há muitas coletividades, desde o remo, ao atletismo, ao triatlo e às
artes marciais. Com uma densidade populacional pequena, captar atletas é sempre
um desafio.”
Aposta feminina e
crescimento
A entrada direta na II
Divisão Nacional Feminina foi uma das decisões mais ousadas da
direção, mas também uma aposta clara na visibilidade da modalidade.
“O facto de entrarmos no Campeonato
Nacional da segunda divisão feminina faz parte da estratégia de crescimento do
clube. É uma aposta arriscada, pois não temos jogadoras formadas por nós, mas
acreditamos que, ao apostarmos em jogadoras com talento, iremos atrair jovens
atletas e começar a nossa formação feminina.”
Orgulho e
reconhecimento
O regozijo de ver o nome de Vila Nova
de Cerveira em provas nacionais é uma das maiores recompensas para o
presidente.
“É um orgulho ver o nosso nome e o
das atletas nos palcos nacionais. Este projeto foi sonhado, trabalhado e
pensado. Quando as coisas finalmente saem do papel e começam a fluir, é um brio
enorme.”
O clube minhoto aposta numa formação
equilibrada, unindo talento nacional e internacional, e numa cultura de
partilha entre jogadoras.
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| A equipa de Vila Nova de Cerveira (à esquerda) frente ao Navais, em encontro da II Divisão. |
“A nossa equipa feminina é composta
pela Maria Pena, atleta espanhola que desde o primeiro minuto abraçou o
projeto; Sara Alfaro, também espanhola e jogadora volante do CTM Mós, um clube
amigo; Bianca Borges, uma jogadora conhecida e auxilia muito na ligação à
comunidade; e ainda Elisa Simões, jogadora do Porto, que também aceitou estar
connosco desde o primeiro momento.”
Um novo equilíbrio em Viana do Castelo
Na perspetiva de Arcádio, o
ténis de mesa no distrito sempre teve um protagonista histórico — o CRC Neves. Contudo,
o Real Cerveirense 1321 quer agora acrescentar um novo capítulo.
“O ténis de mesa em Viana do Castelo
sempre foi dominado pelo CRC Neves, um clube com grande tradição e excelente
trabalho na formação. Nós, enquanto Cerveira Futsal, já tínhamos começado a
chegar perto, conquistando títulos distritais. Agora, com o Real Cerveirense
1321, queremos afirmar-nos como um clube de topo no distrito.”
Formação e futuro
A aposta na formação é clara e
estruturada, para criar um ciclo sustentável de crescimento.
“Queremos ser um clube formador.
Temos vários atletas desde os sub-13 que podem crescer em sub-15, sub-17 e
sub-19. Como só há ténis de mesa no concelho de Viana, podemos ser atrativos
para jovens de Valença, Caminha, Paredes de Coura e, claro, Cerveira.”
O sucesso de uma coletividade também
se mede pela força das parcerias que a sustentam. Arcádio reconhece o papel
fundamental das instituições locais.
“Desengane-se quem pensa que uma
coletividade pode sobreviver sem o apoio de um município. Temos a sorte de ter
uma câmara que, apesar das dificuldades, não nega apoio logístico. Dou o
exemplo das deslocações a torneios nacionais, como o recente Torneio de Lagos.
O município garantiu transporte, e isso faz toda a diferença.”
Além do suporte institucional, há
outro pilar fundamental que ajuda a sustentar o caminho do clube:
“O tecido empresarial também é
essencial. O dinheiro não é tudo — por vezes, as parcerias e sinergias criadas
são o que assegura a sustentabilidade de um clube.”
O clube e a comunidade
A ligação à população tem crescido de forma orgânica. O entusiasmo do público é, para Arcádio, sinal de que o projeto está no caminho certo.
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| A estreia vitoriosa do clube minhoto na Taça de Portugal. |
“As pessoas perguntam quando há
encontros. Tivemos uma boa moldura humana na Taça de Portugal e na primeira
jornada do feminino. Como árbitro, vejo muitas salas vazias noutros clubes, por
isso fico feliz em ver que aqui é diferente.”
Mesmo sem metas definidas no papel,
há uma ambição silenciosa que move o clube — a vontade de evoluir e deixar
marca.
“Não temos metas específicas, mas
acreditamos na nossa capacidade de disputar ponto a ponto, jogo a jogo. Tenho
sonhos, mas prefiro guardá-los para mim.”
Olhar o futuro com esperança
O futuro é construído passo a passo,
com dedicação e fé no projeto.
“Temos a nossa formação, as nossas
ideias e queremos ser reconhecidos no ténis de mesa. Vamos trabalhando, vamos lutar, e depois veremos o que o futuro nos reserva.”
No final da conversa, o presidente deixa
uma mensagem clara e inclusiva — o desporto deve estar ao alcance de todos.
“A mensagem que deixo a todos os
jovens é que venham experimentar. Todos gostamos de ténis de mesa. Todos já
batemos umas bolinhas na escola. Recebemos toda a gente, dos 6 aos 106 anos. O
nosso coordenador, Paulo Leal, tem grande experiência, e os nossos voluntários
vivem o ténis de mesa totalmente. Ninguém paga nada para estar no Real
Cerveirense 1321. O desporto tem de ser universal e gratuito para todos. Esse é
o nosso propósito e a nossa convicção.”
Em Vila Nova de Cerveira, há um lugar
onde a arte encontra o desporto, onde o som do rio se mistura com o tilintar
das bolas sobre a mesa. O Real Cerveirense 1321 é mais do que um emblema recente. É uma ponte entre
tradição e futuro, entre a herança de D. Dinis e o pulsar dos jovens que
acreditam no amanhã.
Aqui, cada serviço é um gesto de esperança, cada ponto uma pequena vitória da comunidade. E quando o silêncio cai sobre o pavilhão, fica exclusivamente o eco suave de uma certeza: em Cerveira, o desporto é feito de coração.




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