Profissões em jogo: a comitiva portuguesa brilha na final do Europeu de Veteranos
Por António Vieira Pacheco
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Créditos: Marco Pedro. A comitiva portuguesa em Novi Sad juntos. Ainda há esperança no ouro. |
O talento não veste só equipamento!
No palco do Campeonato da Europa de Veteranos de
Ténis de Mesa, em Novi Sad, Sérvia, a comitiva portuguesa não se limita a
disputar pontos. Cada atleta traz consigo não só o amor pelo jogo, mas também o
reflexo de outro mundo — o das profissões. Médicos, arquitetos, dirigentes,
reformados e professores, outras profissões, partilham a paixão pela modalidade,
fazendo de cada encontro uma metáfora viva da vida.
É uma equipa que mistura o suor dos
treinos com a precisão de um bisturi, a paciência de um projetista com a
estratégia de um gestor. Uns vivem o desporto como profissão, outros como
refúgio. Mas todos o vivem com intensidade, dedicação e nobreza.
A medicina do movimento
Na comitiva portuguesa há médicos
que, fora da mesa, devolvem saúde com o mesmo cuidado com que devolvem bolas
cruzadas. No desporto, encontram uma terapia de equilíbrio e superação. Ao
entrarem em campo, deixam o estetoscópio à porta, mas levam consigo a mesma
atenção ao detalhe — um olhar clínico que também lê o adversário.
Jogam com a sabedoria de quem conhece
os limites do corpo e a importância da mente. Paradoxalmente, é na exigência
física e mental do ténis de mesa que encontram a sua própria cura.
Reformados que não penduraram o espírito!
Alguns atletas chegam a esta competição já reformados. Mas engane-se quem pense que abandonaram a atividade —
somente trocaram os compromissos laborais por uma paixão a tempo inteiro. São
antigos professores, ou economistas, que agora devolvem ao jogo a mesma entrega
que dedicaram às suas carreiras.
Na mesa, não se reformaram da vida:
reinventaram-se nela. Cada jogo é uma aula, cada ponto uma memória em
construção, cada vitória um lembrete de que o tempo, bem vivido, amadurece o
talento.
Arquiteto da bola, arquiteto da vida
Há quem desenhe edifícios de dia e
linhas de corte à noite. Os arquitetos da comitiva portuguesa constroem o jogo
como constroem espaços: com geometria, visão e paciência. Sabem que cada ponto
tem uma fundação e que não se ergue uma vitória sem planeamento.
Jogam com ângulos imprevisíveis, como
se cada jogada fosse um esboço, cada ‘set’ um edifício em ascensão. Na mesa,
erguem pontos como quem ergue pontes — com precisão e arte.
Os dirigentes que suam como atletas
Alguns atletas não são apenas
jogadores. São também dirigentes — líderes de clubes, associações regionais ou
até membros da Federação Portuguesa de Ténis de Mesa. São eles que promovem
torneios, descobrem talentos e organizam calendários. E, mesmo assim, arranjam
tempo para competir.
Na mesa, colocam em prática o que
pedem aos outros: compromisso, coragem, desportivismo. Demonstram que a
liderança mais eficaz é a que se faz com o exemplo.
Quando o desporto se cruza com o mundo real
A comitiva portuguesa também conta
com professores e outras profissões. São pessoas com vidas cheias, horários
apertados e compromissos diversos, mas conseguem colocar o desporto nos
intervalos da vida.
Treinam à noite, competem ao fim de
semana, sonham de forma silenciosa — até que chegam aos palcos da Europa e
mostram que o talento não depende da profissão, mas da dedicação.
É essa diversidade que dá força à
equipa portuguesa: uma miniatura do país real, unida por uma paixão comum e uma
vontade de superação que não conhece idades.
Olga Chramko e os pilares da equipa
Aos 48 anos, Olga Chramko é,
presentemente, o rosto mais visível da comitiva. Natural da Rússia, mas há
décadas em Portugal, representa a ADC Ponta do Pargo e soma títulos nacionais e
internacionais. Em Novi Sad, já garantiu uma medalha — ainda não se sabe se
será bronze, prata ou ouro. É a imagem da longevidade competitiva.
Ao seu lado brilham nomes como Paula
Penedo, José Alvoeiro, João Oliveira e João Gouveia. Cada um com uma
profissão, uma história, um estilo. Juntos, são mais do que uma equipa — são um
retrato da dedicação multigeracional ao desporto.
Mais do que medalhas: heróis do desporto invisível
Nem todos chegaram às meias-finais.
Alguns perderam por detalhes, outros sairão sem prémios visíveis. Mas todos
regressarão com o que verdadeiramente conta: jogos bem disputados, amizades
reforçadas, experiências vividas.
Este Europeu de Veteranos não é só
uma competição — é uma celebração da longevidade, da amizade e do espírito
amador no melhor sentido. Um palco onde o desporto é praticado por quem nunca
desistiu de jogar.
Portugal que resiste, joga e sonha
A comitiva portuguesa de veteranos é
mais do que um grupo de atletas. É uma prova de que o desporto pode e deve
fazer parte da vida adulta, mesmo quando a juventude já ficou para trás. É o
exemplo de que competir, aprender e melhorar não têm prazo de validade.
E se muitos veem nestes jogadores
somente 'veteranos', talvez devêssemos ver outra coisa: cidadãos que
nunca desistiram de brincar, de lutar, de sonhar. Porque o desporto, como a
vida, vive mais intensamente em quem não desiste dela.
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