Michelle de Brito: a melhor lusa de sempre!
Por António Vieira Pacheco
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Créditos: ATP Tour. Michelle de Brito desapareceu do radar dos portugueses... Está na Flórida. |
Há quase 12 anos, Michelle venceu Sharapova
Ninguém do ténis nacional sabe dela. Michelle
Larcher de Brito desapareceu do mapa mediático como quem fecha um capítulo e
guarda o livro numa prateleira alta, longe do olhar e do ruído. Tentámos
contactá-la pelas redes sociais. Esperámos. Insistimos. Mas não houve resposta.
Fechou-se numa bolha — invisível,
impenetrável — onde o tempo parece ter parado.
E mesmo assim, o Entrar no Mundo das Modalidades não desistiu. Porque há silêncios que também contam
histórias.
Ficámo-nos pelo que temos: ecos de raquetas, imagens esbatidas, recordações de um talento feroz. Um grito que ficou na memória de quem a viu jogar. E um nome que, apesar da distância, continua a ser um dos maiores do ténis português.
Há quase 12 anos, no relvado sagrado de Wimbledon, onde se
escrevem as histórias mais encantadas do ténis, brilhou um dia o nome de uma
jovem portuguesa.
A 26 de junho de 2013, Michelle Larcher de
Brito venceu a russa Maria Sharapova, numa das maiores surpresas de sempre
do torneio. A força do gesto, a serenidade do olhar e o som seco da raqueta a
ditar uma nova página do desporto nacional.
Da infância à elite mundial
Lisboeta de nascimento, mas com alma moldada
sob o sol da Florida, Michelle partiu com somente nove anos para os
Estados Unidos, após vencer o nacional de sub-12, em outubro de 2002, em busca
de melhores condições para evoluir no ténis.
Com 14 anos já vencia encontros no circuito
WTA, e antes dos 15 tornava-se campeã do prestigiado Orange Bowl. Pouco depois,
ganhava um ‘set’ a Serena Williams. E aos 16, entrava no top 100 mundial da
WTA, tornando-se a primeira — e ainda única — portuguesa a alcançar tal feito.
Uma carreira escrita em feitos
Ao longo da sua curta, mas intensa carreira, Michelle venceu cinco jogadoras que estiveram em finais de Grand Slams — entre elas, Ivanovic, Pennetta, Kuznetsova, Radwanska e, claro, Sharapova. Conquistou quatro títulos no circuito ITF, esteve presente em dez quadros principais de Grand Slams e representou Portugal inúmeras vezes na Fed Cup.
Mas a rapidez com que subiu trouxe também o
desgaste. Lesões, cansaço e a pressão constante do circuito profissional
começaram a deixar marcas. Com somente 25 anos, Michelle afastou-se da
competição. Nunca anunciou oficialmente a retirada, mas não voltou a
competir desde 2018.
Hoje, continua a ser a grande referência do
ténis feminino nacional. O seu legado permanece — em números, memórias e inspiração.
Reinventar-se com elegância
Longe dos campos de ténis, Michelle
reinventou-se com a mesma dedicação com que atacava cada ponto. Vive na Florida
desde a infância e ali construiu novas paixões. Primeiro, abriu um hotel para
animais. Mais tarde, deu aulas de ténis em clubes locais. Presentemente, abraçou o ramo
do imobiliário de luxo, trabalhando com a empresa 342
Vacation Rentals.
Através do seu Instagram profissional
(@michelledebrito_342realestate), partilha moradas de sonho com o mesmo cuidado
com que antes traçava a linha de fundo nos campos de ténis. Vende casas, mas continua a
contar histórias — agora com paredes e janelas em vez de redes e raquetes.
Um legado que resiste ao tempo
O impacto no ténis português é
inegável. Num país onde o ténis feminino ainda procura espaço, ela abriu
caminho com raiva criativa e talento puro. Demonstrou que é possível vencer, mesmo
vinda de um pequeno país. Mostrou que o sonho, quando trabalhado, se
concretiza.
Num tempo em que nenhuma jovem com menos de 18
anos figurava no top 100 mundial, Michelle chegou lá com 16. E ali ficou,
enquanto o corpo e a cabeça permitiram.
A sua história é um convite à esperança, à
coragem e à superação. Mesmo que tenha deixado o circuito cedo, o que construiu
até aos 25 anos tem o peso e a beleza de uma carreira inteira.
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