Tensão no Jamor: Elias vence Rocha num épico de nervos e alma
Por António Vieira Pacheco
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Créditos: FPT. Elias admitiu que o encontro caiu para o seu lado, mas podia ter ido para o outro. |
Tensão em estado puro
Tensão. Palavra dita e sentida. Palavra
que se colou à pele, ao olhar e às raquetes. Tensão foi a sombra constante no
duelo entre Gastão Elias e Henrique Rocha, dois
homens que se conhecem demasiado bem para se enganarem com facilidade, dois
parceiros de treino a jogarem como rivais de coração inteiro. E foi o mais
velho, com mais chão batido sob os pés, que sorriu no fim de mais de três horas
de luta no Court Central do Jamor, selando a passagem aos quartos de final
do Oeiras Open 5.
“Foi um encontro tenso, físico, com
os dois a não querer dar nada ao adversário”, confessou o tenista natural da Lourinhã exausto, mas
aliviado.
“Caiu para mim…, mas podia ter caído para o lado dele.”
Um reencontro com o melhor de si
E podia mesmo. O terceiro ‘set’, que Henrique
Rocha quase roubava após salvar match point e empatar a 5-5, foi
o espelho de uma batalha sem tréguas. Quem assistiu, teve a memória puxada:
Réus, Estoril, os fantasmas que Elias já viu quando tudo parecia controlado.
Mas desta vez, não.
“Veio o filme à cabeça… ia acabar no
Guinness se perdesse outra vez assim”, brincou, sempre com a leveza de quem já passou muito.
Desde abril de 2022 que não chegava tão longe no Jamor — palco onde já venceu três títulos Challenger e onde só caiu nas meias-finais contra… um tal de Carlos Alcaraz. Mas este reencontro com os quartos teve algo de íntimo: foi realizado no court mais mítico do país que voltou a vencer um jogo completo, dois anos depois da final do Oeiras Open 2.
Um adversário que é quase família
O adversário, porém, não foi um
qualquer. Henrique Rocha, jovem em clara ascensão, conhece Elias
de olhos fechados. Treinam juntos há quase dois anos, vivem os mesmos
ritmos, afiam-se mutuamente. E isso também pesa.
“É sempre stressante jogar com
amigos. Há aquele jogo mental do ‘ele sabe que eu sei que ele sabe’. Isso pode
ser perigoso.”
Por isso, Elias teve de mudar.
Assumiu mais risco, foi agressivo, reinventou-se.
“Fui mais agressivo do que o normal.
Isso fez a diferença.”
A vitória começa fora do court
Elias soube sair do labirinto com
preparação — dentro e fora do court. Hidratou-se mais do que nunca, leu o
corpo, respeitou os limites e armou-se com a experiência.
“Preparei-me da melhor forma possível
fora do campo. Talvez o tenha feito melhor do que ele. A experiência ajuda em
alguma coisa.”
“Cansado, mas senti-me bastante bem
fisicamente”,
admitiu, visivelmente orgulhoso da resistência construída com anos de estrada.
Próxima paragem: Cristian Garin
Agora, o próximo capítulo
chama-se Cristian Garin, antigo top 20 mundial. O desafio será tanto
físico como mental. Mas Elias sabe ao que vai. Já lá esteve antes e já sentiu
este peso, esta pressão, esta esperança.
“O segredo será o início do encontro.
Tenho de começar intenso e não deixar o cansaço tomar conta. Depois… ele vai embora.”
No Jamor, onde a terra guarda
segredos e as linhas falam em silêncio, Elias escreveu mais
uma página. Com nervo, com memória… e com poesia disfarçada de suor.
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