"Senti-o atrapalhado": Nuno Borges analisa triunfo inédito sobre top 10 mundial

                                                                Por António Vieira Pacheco
Lidador é um senhor do ténis nacional.
Créditos: ATP Tour. Borges encanta Paris e está na terceira ronda de Roland Garros.

                              

As luzes de Paris brilham para o Lidador

Com sobriedade e uma calma quase clínica, Nuno Borges entrou para os livros de história do ténis português. Esta quarta-feira, o número um nacional assinou a vitória mais sonante da carreira ao eliminar Casper Ruud — atual número 7 do mundo e duas vezes finalista de Roland Garros — com os parciais de 2-6, 6-4, 6-1 e 6-0.

Mais do que uma simples vitória, o triunfo teve um triplo significado: a primeira de Borges sobre um jogador do top 10, a primeira de um português frente a um adversário deste calibre num torneio do Grand Slam, e a primeira presença masculina nacional na terceira ronda de Roland Garros.

“Tem um significado gigante para mim”

Na conferência de imprensa após o encontro, Nuno Borges não disfarçou a satisfação, mas optou por manter os pés bem assentes na terra — batida.

“Como é óbvio, tem um significado gigante para mim”, começou por admitir, antes de explicar que, apesar da lesão de Ruud no joelho esquerdo, o mérito da vitória continua intacto.

“Apesar de ter perfeita consciência e de ter-me apercebido durante o encontro que ele não estava a 100%, continua a ser uma vitória ótima para mim. Da maneira como ele jogava no primeiro ‘set’ era complicado e acho que não teria conseguido ganhar, apesar de sentir que conseguia fazer melhor, até porque não entrei da melhor maneira.”

Borges enfrentava o seu 14.º desafio contra um jogador do top 10. Até então, somava somente dois ‘sets’ ganhos — contra Daniil Medvedev (Australian Open 2024) e Carlos Alcaraz (Australian Open 2025). Mas desta vez, o desfecho foi diferente.

“No terceiro senti-o muito atrapalhado”

Ruud revelou debilidades físicas visíveis a partir do terceiro ‘set’. Borges não as ignorou, mas também não sobrevalorizou o impacto.

“Sinceramente, no segundo eu não tinha a certeza e acho que não foi assim tão claro. Houve um ou outro winner em que senti ‘ok, apanhei-o’, porque não esperava ganhar o ponto daquela maneira, mas nessa altura não senti nada muito diferente.”

“No terceiro senti-o muito atrapalhado, com a cabeça fora do sítio e já a cometer erros pouco normais. Percebi que quando o puxava para a direita ele não conseguia ir tão bem e a partir do momento em que fiz o break fiquei mais à vontade.”, acrescentou.


Foco no essencial: “Continuo em competição”

Perante a avalanche de perguntas sobre o feito histórico, Borges manteve o seu perfil habitual: focado, prudente e comedido.

“É a minha maneira de ser, a minha maneira de manter-me focado no que tenho à minha frente. Continuo em competição, então tento não pensar nos segundos e terceiros significados das coisas. Simplesmente foi uma ótima vitória para mim e quero tentar ir buscar o máximo de confiança a este encontro em vez de estar a meter-lhe um peso extra que não ajuda nada.”

Ainda assim, não deixou de agradecer aos que o acompanham, dentro e fora do court:

“Senti muito apoio de portugueses nas bancadas, e também do grupo que está comigo. O João Maio, meu treinador desde sempre, veio da Maia para estar aqui — e é também o treinador do Henrique Rocha, que joga amanhã. É especial.”

Um novo marco à vista?

Com Michelle Larcher de Brito a servir de referência (terceira ronda em 2009), Borges poderá tornar-se no primeiro português de sempre a atingir os oitavos de final em Roland Garros. Para isso, terá de ultrapassar Alexei Popyrin.

“Ele pode enganar acerca da terra batida. Vi-o jogar na semana passada em Genebra e fez um encontro espetacular. Tem um serviço que funciona em qualquer superfície e não se vê de maneira nenhuma um peixe fora de água no que toca a mexer-se na terra batida, portanto é um jogador perigosíssimo. Mas neste momento ignoro, ainda tenho um par para jogar e depois logo preocupo-me com o singular”, concluiu o número um português.

Com discrição e consistência, o Lidador reescreve a história do ténis nacional. E fá-lo com uma naturalidade que impressiona tanto quanto o seu ténis.


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