"Senti-o atrapalhado": Nuno Borges analisa triunfo inédito sobre top 10 mundial
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Créditos: ATP Tour. Borges encanta Paris e está na terceira ronda de Roland Garros. |
As luzes de Paris brilham para o Lidador
Com sobriedade e uma calma quase
clínica, Nuno Borges entrou para os livros de história do ténis português. Esta
quarta-feira, o número um nacional assinou a vitória mais sonante da carreira
ao eliminar Casper Ruud — atual número 7 do mundo e duas vezes finalista de
Roland Garros — com os parciais de 2-6, 6-4, 6-1 e 6-0.
Mais do que uma simples vitória, o
triunfo teve um triplo significado: a primeira de Borges sobre um jogador do
top 10, a primeira de um português frente a um adversário deste calibre num
torneio do Grand Slam, e a primeira presença masculina nacional na terceira
ronda de Roland Garros.
“Tem um significado gigante para mim”
Na conferência de imprensa após o
encontro, Nuno Borges não disfarçou a satisfação, mas optou por manter os pés
bem assentes na terra — batida.
“Como é óbvio, tem um significado
gigante para mim”, começou por admitir, antes de explicar que, apesar da lesão
de Ruud no joelho esquerdo, o mérito da vitória continua intacto.
“Apesar de ter perfeita consciência e
de ter-me apercebido durante o encontro que ele não estava a 100%, continua a
ser uma vitória ótima para mim. Da maneira como ele jogava no primeiro ‘set’
era complicado e acho que não teria conseguido ganhar, apesar de sentir que
conseguia fazer melhor, até porque não entrei da melhor maneira.”
Borges enfrentava o seu 14.º desafio contra um jogador do top 10. Até então, somava somente dois ‘sets’ ganhos — contra Daniil Medvedev (Australian Open 2024) e Carlos Alcaraz (Australian Open 2025). Mas desta vez, o desfecho foi diferente.
“No terceiro senti-o muito
atrapalhado”
Ruud revelou debilidades físicas
visíveis a partir do terceiro ‘set’. Borges não as ignorou, mas também não
sobrevalorizou o impacto.
“Sinceramente, no segundo eu não
tinha a certeza e acho que não foi assim tão claro. Houve um ou outro winner
em que senti ‘ok, apanhei-o’, porque não esperava ganhar o ponto daquela
maneira, mas nessa altura não senti nada muito diferente.”
“No terceiro senti-o muito atrapalhado, com a cabeça fora do sítio e já a cometer erros pouco normais. Percebi que quando o puxava para a direita ele não conseguia ir tão bem e a partir do momento em que fiz o break fiquei mais à vontade.”, acrescentou.
Foco no essencial: “Continuo em
competição”
Perante a avalanche de perguntas
sobre o feito histórico, Borges manteve o seu perfil habitual: focado, prudente
e comedido.
“É a minha maneira de ser, a minha
maneira de manter-me focado no que tenho à minha frente. Continuo em
competição, então tento não pensar nos segundos e terceiros significados das
coisas. Simplesmente foi uma ótima vitória para mim e quero tentar ir
buscar o máximo de confiança a este encontro em vez de estar a meter-lhe um peso
extra que não ajuda nada.”
Ainda assim, não deixou de agradecer
aos que o acompanham, dentro e fora do court:
“Senti muito apoio de portugueses nas
bancadas, e também do grupo que está comigo. O João Maio, meu treinador desde
sempre, veio da Maia para estar aqui — e é também o treinador do Henrique
Rocha, que joga amanhã. É especial.”
Um novo marco à vista?
Com Michelle Larcher de Brito a
servir de referência (terceira ronda em 2009), Borges poderá tornar-se no
primeiro português de sempre a atingir os oitavos de final em Roland Garros.
Para isso, terá de ultrapassar Alexei Popyrin.
“Ele pode enganar acerca da terra
batida. Vi-o jogar na semana passada em Genebra e fez um encontro espetacular.
Tem um serviço que funciona em qualquer superfície e não se vê de maneira
nenhuma um peixe fora de água no que toca a mexer-se na terra batida, portanto
é um jogador perigosíssimo. Mas neste momento ignoro, ainda tenho um
par para jogar e depois logo preocupo-me com o singular”, concluiu o número um português.
Com discrição e consistência, o
Lidador reescreve a história do ténis nacional. E fá-lo com uma naturalidade
que impressiona tanto quanto o seu ténis.
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