Inês Murta volta a cair nos 'quartos' em Monastir, na Tunísia

                                                                Por António Vieira Pacheco

Algarvia derrapou no acesso às meias-finais em Monastir.
Créditos: ATP Tour. Algarvia falhou acesso às meias-finais numa prova em Monastir, na Tunísia.

Um regresso com espinhos

Aos 27 anos, Inês Murta regressa aos courts internacionais com o coração cheio de vontade, mas o corpo ainda a readaptar-se ao exigente ritmo do ténis profissional. Esta sexta-feira, em Monastir, a tenista portuguesa foi travada nos quartos de final do torneio ITF W15 pela jovem russa Victoria Milovanova.

O duelo, jogado sob o sol do norte de África, durou 1h42 e terminou com os parciais de 6-4 e 6-3. Murta, atual número 1132 do ‘ranking’ mundial, caiu frente a uma adversária mais jovem — 18 anos — e ligeiramente melhor posicionada na hierarquia, mas com um passado recente mais ativo.

Lutadora no silêncio dos torneios pequenos

O ténis, longe dos grandes palcos, vive do esforço invisível de quem insiste. Murta é uma dessas atletas: sem holofotes, sem grandes patrocínios, mas com a mesma fome de competir. O ITF de Monastir, torneio modesto em nome, mas duro em exigência, tem sido palco para o seu reencontro com o circuito.

A primeira partida foi decidida por um único break point — o suficiente para pender a balança. No segundo ‘set’, a portuguesa até entrou melhor, quebrando logo o serviço da russa. Mas a vantagem não se manteve. Milovanova respondeu com consistência e serenidade, aproveitando a oscilação da atleta do Clube de Ténis de Loulé para inverter o rumo do encontro.

O caminho de volta é longo

Depois de um ano de paragem, regressar à competição internacional é uma prova de resiliência. O corpo ressente-se, o ritmo escapa, e a confiança é uma chama a reacender. Ainda assim, a algarvia mostrou, ao longo da semana, traços do seu melhor ténis. Passou duas rondas com garra e inteligência, deixando pistas de que o regresso pode, com tempo, ganhar outra dimensão.

A experiência continua a ser uma das suas armas: leitura de jogo, colocação de bola, escolhas táticas. Faltam-lhe ainda, talvez, o instinto competitivo e a intensidade que só os jogos regulares devolvem.

Mais do que um resultado

Esta derrota, como tantas no percurso de atletas que lutam longe dos grandes palcos, não é um fim, mas parte do processo. No ténis, como na vida, muitas vezes perde-se antes de se começar a ganhar. E Inês Murta parece disposta a continuar — uma decisão que, só por si, já revela coragem.

Enquanto muitas jogadoras abandonam o circuito após períodos prolongados de ausência, Murta escolheu o caminho difícil: voltar, competir, recomeçar quase do zero. Esse gesto, mesmo não recompensado hoje com uma vitória, merece respeito.

Próximo serviço: persistência

A tenista de Faro deverá continuar a competir em torneios ITF nas próximas semanas, tentando somar vitórias, pontos e, acima de tudo, minutos em court. Para quem regressa, o tempo é o maior aliado — e o mais exigente dos adversários.

A caminhada faz-se a um ritmo só dela. Nem todos os regressos são épicos. Alguns são discretos, sofridos, mas igualmente valiosos. Porque há beleza na persistência, mesmo quando o marcador não é favorável.


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