Francisco Rocha quebra o enguiço no Jamor
Por António Vieira Pacheco
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Créditos: FPT. Francisco Rocha festeja mais um jogo no Jamor. |
A primeira luz no Estádio Nacional
Sete vezes tentou. À sétima, a
recompensa chegou como chega o sol depois de muitos dias de chuva. No mítico
Complexo de Ténis do Jamor, onde tantas esperanças se constroem e tantas
perdem, Francisco Rocha quebrou finalmente o enguiço: venceu, sorriu e olhou em
frente, rumo ao quadro principal do Oeiras Open 5.
Foi no Court Central, sob o olhar
atento do irmão Henrique Rocha, que o portuense de 25 anos fez história
pessoal. Frente ao egípcio Fares Zakaria (611.º ATP), o portuense (atual 696.º do
‘ranking’ mundial) foi forçado a remar contra a maré. Perdeu o primeiro ‘set’
por 3-6, mas reagiu com garra, cabeça e coração: 6-2, 6-4, numa exibição de
maturidade em terra batida.
Reviravolta com sabor a redenção
Nada nesta vitória foi dado.
Francisco chegou a Oeiras com o peso das seis eliminações anteriores no Jamor —
três em piso rápido, três em terra batida. O passado não perdoava. Mas foi
justamente nesse palco de memórias amargas que encontrou o espaço para escrever
uma nova narrativa. A reviravolta foi mais do que tática; foi emocional.
Num jogo onde a força mental vale tanto como a técnica, o guerreiro português conseguiu manter a compostura. Quebrou o ritmo adversário, forçou o erro e encheu-se de confiança. O punho cerrado após o último ponto dizia tudo: a vitória era, acima de tudo, dele contra si próprio.
O próximo obstáculo: o último passo
A vitória vale um bilhete para a
última ronda do qualifying. Pela frente estará o vencedor do duelo entre o
neerlandês Ryan Nijboer (408.º ATP) e o russo Bekkhan Atlangeriev (1191.º). Em
teoria, ambos acessíveis. Mas o ténis não se joga com ‘rankings’: joga-se ponto
a ponto, raqueta na mão e nervos à flor da pele.
Se vencer, o portuense entra no quadro principal do Oeiras Open 5, juntando-se a cinco compatriotas, incluindo o irmão. Seria uma estreia absoluta para os dois no mesmo torneio Challenger em solo nacional. Um momento simbólico — e quem sabe, histórico.
Uma vitória com alma, suor e promessa
Francisco não é um nome ainda
conhecido do grande público, mas começa a traçar um caminho de consistência e
superação. Este ano, também se estreou a vencer no Millennium Estoril Open, a
maior montra do ténis português. Agora, no Challenger de Oeiras, quer provar
que não foi sorte — foi trabalho.
Vê-se na maneira como se mexe em
campo, como ajusta as pancadas, como respira entre pontos. Vê-se na forma como
não desiste mesmo quando o marcador não sorri. Francisco joga com alma — e, no
ténis, isso vale tanto como um bom serviço.
No silêncio concentrado de um court
de terra batida, ouvindo apenas o estalar das bolas e o roçar das solas no pó
de tijolo, o portuense começou a escrever um novo capítulo. À sétima
tentativa, venceu. Agora, o Jamor já não é o lugar onde perdia — é o lugar onde
renasceu.
Se conseguir o apuramento, o
reencontro com o irmão no quadro principal será mais do que familiar: será o
símbolo de um país onde o talento floresce mesmo fora dos grandes holofotes.
E por vezes, basta uma vitória assim
— suada, sofrida, solene — para tudo mudar.
O dia em que o ténis português dançou entre a luz e a sombra
Francisco foi o herói da tarde, mas não o único protagonista português. João Domingues também venceu e segue. Menos sorte tiveram João Graça e Guilherme Valdoleiros, afastados prematuramente. A desilusão maior veio de Diogo Coelho, que, na estreia em torneios desta dimensão, foi cilindrado pelo espanhol Daniel Mérida Aguillar: 6-0 e 6-1.
Também Dino Molokova disse adeus com números pesados: 6-1 e 6-1 frente ao veterano francês Kenny de Schepper, um ex-top 60 que este mês sopra 38 velas, mas ainda sabe usar a experiência para desequilibrar jovens promessas.
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