Tiago Pereira: A luz que não se apagou
![]() |
Créditos: MEO. A raça de um Algarvio que basta um passo para o quadro principal. |
O dia 28 de abril de 2025 ficará gravado na memória por um fenómeno raro: um apagão generalizado deixou regiões inteiras da Península Ibérica e de outros países europeus sem eletricidade. Aviões desviados, comboios e metros parados, comunicações cortadas.
Mas em Cascais, no Millennium
Estoril Open, uma energia diferente resistia à falha: Tiago Pereira. O
português, número 409 do ‘ranking’ ATP, Tour não se deixou afetar nem pelo colapso
elétrico, nem pela pressão de um cabeça de série e seguiu para a ronda de
acesso ao quadro principal.
O palco é o mesmo, mas o contexto
mudou. Em 2025, o Millennium Estoril Open desce temporariamente à
categoria de ATP Challenger 175, sem perder o brilho, nem a importância para o
ténis nacional. E foi neste cenário de transição que Pereira, jovem
de 20 anos, ofereceu a primeira vitória
portuguesa da edição.
Um triunfo suado, vibrante e cheio de
simbolismo, numa batalha contra o alemão Patrick Zahraj (n.º 271 ATP)
que se estendeu por quase três horas. O resultado — 7-5, 4-6 e 7-6 (6) —
traduz a dureza de um duelo decidido somente ao sétimo match point.
Um combate até à última gota
Na terra batida de Cascais, cada
ponto foi lutado como se fosse o último. Zahraj, com ‘ranking’ superior e mais
experiência, não facilitou. O primeiro ‘set’ caiu para Tiago, mas o segundo
escapou-lhe. O terceiro tornou-se uma guerra mental, onde os nervos, o físico e
a fé se misturaram.
No tiebreak decisivo foi o
espelho da partida: intenso, imprevisível, e à beira do colapso emocional.
Tiago teve de lidar com seis match points desperdiçados antes de
encontrar, enfim, o golpe certo — a batida que ecoou como um rugido no
silêncio do Estoril.
A luz do Algarve na linha de Cascais
Pereira representa a nova
geração do ténis português. Natural do Algarve, traz consigo não só o talento,
mas também a resistência que caracteriza quem cresce longe dos centros de
decisão. Com somente 20 anos, impôs-se num cenário maior, num jogo onde a
juventude e o ‘ranking’ mais baixo pareciam deixá-lo à margem.
Mas o court, tal como a vida, tem os
seus próprios códigos. E naquele momento, foi Tiago quem os decifrou melhor.
O Millennium Estoril Open pode ter
descido de categoria, mas o valor simbólico permanece inalterado. Aqui nascem
carreiras, escrevem-se histórias e afirmam-se nomes que o mundo ainda
desconhece. A vitória de Tiago não foi apenas o início da sua campanha —
foi uma afirmação de talento, carácter e perseverança.
Enquanto muitos viam esta edição como
um parêntesis competitivo, Tiago viu nela uma oportunidade para brilhar
com mais intensidade, sem precisar de luz artificial.
Neste regresso à terra batida de
casa, Portugal já tem mais um nome a seguir com atenção. Porque há partidas que
valem mais do que pontos ou ‘rankings’ — são sinais de que o futuro já
começou no presente.
Comentários
Enviar um comentário
Críticas construtivas e envio de notícias.