Portugal resiste em Lima: Borges e Cabral mantêm viva a chama da Taça Davis
🖋️Por: António Vieira Pacheco
📸 Créditos: Federação Peruana de Ténis
⏱️ Tempo de leitura: 5 minutos
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Francisco Cabral e Nuno Borges mantém Portugal vivo na eliminatória com o Peru. |
Sem margem para errar
Nasce um sopro de esperança
Na poeira avermelhada da terra batida
do Clube Lawn Tennis de La Exposición, em Lima, o destino parecia
inclinar-se para o Peru. Bancadas cheias, aplausos vibrantes e um calor húmido
que prendia a respiração: o cenário estava montado para uma festa local. Porém,
foi nesse palco carregado de simbolismo, onde cada ponto ecoava como um batuque
andino, que a Seleção Nacional encontrou fôlego para respirar de novo.
A derrota nos dois primeiros
singulares havia mergulhado Portugal numa corda bamba. Sem margem para
errar, Borges e Cabral entraram em court com a missão de inverter a
narrativa. E cumpriram. Amigos de infância, cúmplices desde os sub-10,
mostraram em Lima que a verdadeira comunicação no ténis de pares pode dispensar
palavras: basta o olhar, basta a intuição.
Com parciais de 7-5 e 6-3,
derrotaram Ignacio Buse e Juan Pablo Varillas, mantendo viva a esperança
lusa no Grupo Mundial I da Taça Davis.
A vitória que nasceu do silêncio
Os campeões do Estoril Open 2022 enfrentaram
a dupla peruana com a calma de quem já percorreu muitas batalhas juntos. Cabral,
com o saque carregado de potência, abriu espaços; Borges, com a
consistência na resposta, cravou pontos decisivos. O equilíbrio foi ténue, mas
sempre sob controlo português.
As estatísticas confirmam a
história: 49 pontos ganhos contra 42 dos peruanos, cinco ases, e duas
quebras convertidas. Do outro lado, Buse e Varillas criaram cinco oportunidades
de break, mas nunca encontraram o golpe capaz de abalar o muro português.
A cada serviço bem-sucedido, o
público peruano caía num silêncio breve, como se a cordilheira dos Andes
tivesse suspendido o fôlego. Foi nesse contraste entre o fervor local e a
serenidade lusa que Borges e Cabral esculpiram o triunfo.
Borges e Cabral: uma aliança forjada no tempo
Mais do que números, a vitória foi um
retrato da cumplicidade de ambos que cresceram juntos no circuito juvenil.
Amizade e rivalidade saudável entrelaçaram-se desde cedo, e hoje transformam-se
em química competitiva em campo.
O seu jogo é um diálogo silencioso,
feito de gestos, de olhares e de confiança.
Para Borges, esta foi a quarta
vitória em oito encontros de pares pela seleção. Cabral, igualmente, soma o
mesmo número, consolidando o estatuto de dupla de referência nas escolhas do
selecionador nacional Rui Machado.
A pressão que não desaparece
Mas, apesar do alívio momentâneo, a
eliminatória continua inclinada para os peruanos: 2-1 no marcador.
Portugal terá de desenhar uma reviravolta perfeita para sonhar com os Qualifiers
de 2026.
No duelo dos números um, Nuno
Borges (52.º ATP) enfrenta Ignacio Buse (112.º), um jovem em ascensão
que já se alimenta da confiança conquistada ao vencer Jaime Faria. Se Borges
vencer, o fecho recairá sobre os ombros de Jaime Faria (115.º) frente
a Gonzalo Bueno (209.º).
O destino da eliminatória, e com ele
a presença de Portugal no mapa maior da Taça Davis, será escrito sob pressão
máxima.
Lima, palco de contrastes
Disputar uma eliminatória em Lima é
entrar num território de contrastes. De um lado, a beleza vibrante da cidade,
com mercados coloridos, muralhas coloniais e o Pacífico a perder de vista; do
outro, a tensão sufocante de um court fechado por gritos patrióticos.
O Clube Lawn Tennis de La
Exposición é um lugar histórico para o desporto peruano. Ali, cada ponto
ganho pelos da casa é celebrado como um triunfo nacional. Para Portugal, cada
silêncio imposto à multidão vale ouro. É uma luta não só contra os adversários,
mas contra o ambiente, contra a altitude emocional de um país inteiro.
Nesta atmosfera, a vitória de Borges
e Cabral foi mais do que técnica. Foi uma metáfora da resiliência: como
dois viajantes que, perante a vastidão dos Andes, continuam a escalar, passo
após passo, sem perder de vista o cume.
A Taça Davis e o espírito coletivo
A Taça Davis tem uma essência
própria. Diferente dos torneios do circuito, aqui a vitória é coletiva, o peso
da camisola fala mais alto. Borges e Cabral carregaram isso em Lima. Não
jogaram apenas por si, mas por um país inteiro que, a milhares de quilómetros,
acompanhava com esperança.
Foi esse espírito que impediu que
Portugal se deixasse afundar após o arranque em falso nos singulares. Quando o
adversário parece mais forte, é a união que mantém viva a chama. E, em Lima,
essa chama voltou a brilhar.
O que está em jogo
A importância da eliminatória vai
muito além do imediato. Chegar aos Qualifiers de 2026 significa
manter Portugal no radar das grandes seleções do ténis mundial. Representa
garantir mais visibilidade, mais investimento, mais oportunidades para jovens
talentos seguirem o caminho aberto por nomes como João Sousa, Nuno Borges e
Francisco Cabral.
No fundo, cada serviço bem colocado e
cada passing shot certeiro carregam o peso de um futuro inteiro para o ténis
português.
A corda bamba da esperança
A vitória no par não resolve a
eliminatória, mas abre uma janela de esperança. Portugal continua sobre a corda
bamba, equilibrando-se entre a queda e a glória. Mas, se há algo que a dupla
Borges-Cabral demonstrou, é que mesmo em território hostil, mesmo quando o
vento sopra contra, a resiliência pode escrever capítulos de resistência.
Em Lima, Portugal encontrou um sopro
de vida. Agora, cabe a Borges e Faria transformar esse sopro em grito de
vitória.
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