Tiago Cação regressa após três anos e fala da “segunda versão” da sua carreira

 🖋️Por: António Vieira Pacheco

📸 Créditos: Federação Portuguesa de Ténis

⏱️ Tempo de leitura: 4 minutos

🎬 Créditos: Federação Portuguesa de Ténis
O tenista de Peniche fala tudo sobre a sua segunda vida no ténis na Conferência de Imprensa da CT Porto Cup.
Cação desabafa na conferência de imprensa: revela a pausa, o regresso e a nova versão na carreira. 

PORTO — Três anos após ter deixado o circuito profissional, Tiago Cação voltou a competir e trouxe consigo não somente vitórias. Trouxe também uma nova visão sobre o ténis e a própria vida. 

O tenista de Peniche descreve este regresso como uma “segunda versão” da sua carreira, mais madura e consciente.

Logo após a eliminação na segunda ronda do qualifying da CT Porto Cup, o tenista abriu-se numa conferência de imprensa. E explicou as razões que o levaram a parar e, sobretudo, aquilo que o fez regressar.

O desgaste e a pausa

Com franqueza, Cação revelou em Conferência de Imprensa que o desgaste foi determinante para a pausa:

“Comecei a pensar no regresso seis meses após parar. Gosto imenso de competir e, como todas as pessoas sabem, o ténis não é um desporto nada fácil, tem de aguentar a pressão e muitas vezes fazer tudo isso sozinho. Gerir essas emoções não era saudável para mim, não tinha prazer e quando uma pessoa não sente prazer o melhor é dar um passo atrás e tentar encontrar a felicidade.”

Explicou ainda no pré-fabricado minúsculo da sala de imprensa do CT Porto que precisou de abrandar o ritmo frenético da carreira, para recuperar a energia e a motivação que lhe faltavam:

“Tentei acalmar um pouco a vida, não viajar tanto, não ter tanta pressão porque tinha de estar sempre muito acelerado para encontrar energia e motivação em cada encontro. Isso desgastava-me muito.”

Interclubes como ponte para o regresso

Durante esse período, o nativo de Peniche não abandonou totalmente o ténis. Manteve-se ativo em competições de clubes espalhados pela Europa, o que lhe deu equilíbrio, mas também a clareza necessária para perceber que queria mais.

“Mantive-me sempre a jogar interclubes no Luxemburgo, na Alemanha, na Bélgica e na França, portanto, de abril a julho jogava bastante, praticamente todos os fins de semana. Estava basicamente a viver a minha vida para isso, mas comecei a pensar que não valia a pena viver assim. Então decidi voltar enquanto o físico ainda me permitia.”

“Era agora ou nunca”

A convicção foi a surgir gradualmente, até que tomou a decisão definitiva:

“Senti que era agora ou nunca. E estou aqui de novo.”

Apesar de ter ficado às portas do quadro principal, Tiago Cação não se deixa iludir. Ele sabe que o regresso é um processo gradual e que ainda precisa de tempo para recuperar o ritmo de outrora. E fala de Idanha-a-Nova, o torneio que regressou nesta segunda vida.

“Estava perfeitamente preparado para chegar lá e perder na primeira ronda. Ainda me estou a descobrir e a ver em que patamar é que estou porque estive três anos sem jogar a este nível. Não tinha nenhum ponto, por isso o meu único objetivo era conseguir um ponto para começar a ser capaz de definir o meu calendário.”

Esse objetivo foi alcançado rapidamente. Em Idanha-a-Nova, o nativo de Peniche somou nove pontos ATP com oito vitórias, e no Porto juntou mais dois, que deverão colocá-lo próximo do top 1000 já após o US Open.

Maturidade e liberdade

Com esse arranque promissor, o jogador admite que voltou a colocar “os olhos completamente postos na carreira de jogador”. Ainda assim, mantém uma nova tranquilidade, fruto da maturidade conquistada fora dos courts.

“Estou mais relaxado. Agora estou a jogar porque é uma decisão minha, porque quero estar aqui. E sei que se não estiver também não há problema. Acho que às vezes é isso, os jogadores têm mais dificuldades em encontrar-se porque não é fácil ver um caminho fora do ténis.”

Nessa descoberta, Tiago afirma ter aprendido algo fundamental: a sua vida não depende apenas do ténis.

“Agora sei que consigo ser outra pessoa fora do ténis, que consigo gerar riqueza. Sei o que gosto de fazer se não for jogador de ténis, portanto estou muito mais tranquilo. Se me fartar vou ser treinador de ténis ou apanhar castanhas, não interessa, mas sei que tenho essa escolha, que sou livre de a fazer e que consigo ser bem-sucedido na vida.”

O presente é agora

Com um sorriso sereno, o jogador reconhece que os objetivos continuam lá, mas já não o consomem da mesma forma.

“O principal é bater o que fiz e a partir daí logo se vai vendo. Jogar os torneios do Grand Slam faz parte da lista, claro, mas o caminho é tão longo que ainda agora começou e não posso estar já a pensar nisso. Por isso estou só a tentar desfrutar do que faço e a tentar ganhar pontos.”

Para já, Tiago soma 11 pontos ATP desde o regresso e promete continuar a acrescentar até ao próximo verão. O futuro é incerto, mas uma coisa é clara: a nova versão de Tiago joga não apenas para vencer, mas também para viver.


Comentários

Mensagens populares deste blogue

João Paulo Brito: as vitórias sem árbitros oficiais no ténis de mesa

Gilberto Garrido é um farol da Madeira

FPT continua em festa