Nuno Borges e a relva: quando a velocidade trai até os mais fortes

                                                                 Por António Vieira Pacheco

Lidador perdeu com um adversário menos cotado e fora do top 100 mundial.
Créditos: ATP. Não é hora de olhar para a raquete, mas erguer a cabeça.

Lidador o que se passou em Eastbourne?

Nuno Borges, o 37.º do mundo e orgulho maior do ténis português, chegou a Eastbourne com a pressão silenciosa de quem não pode ceder. Afinal, contra um adversário distante no ‘ranking’ — o norte-americano Jenson Brooksby, 149.º — a expectativa era clara: vitória segura, rumo a mais um passo firme antes do altar sagrado de Wimbledon.

Mas na relva, a superfície mais veloz e traiçoeira do circuito, até as certezas parecem escorregar entre as tábuas do campo. Borges perdeu por um duplo 6-4 numa partida onde as oportunidades foram como sombras fugidias: o maiato não conseguiu rasgar brechas no marcador e viu o adversário, com a frieza de um caçador, aproveitar as poucas janelas abertas para se impor.

No primeiro ‘set’, não houve um instante em que Borges desfizesse o empate inicial. Foi Brooksby quem, aproveitando uma das raras brechas, cravou o primeiro break — como um raio inesperado num céu aparentemente claro. No segundo parcial, Borges resistiu a um primeiro golpe, defendendo-se com tenacidade, mas o solo instável da relva voltou a trair os seus passos e Brooksby avançou para fechar o encontro.

Relva: palco onde a ligeireza pesa mais que o nome

Numa superfície onde cada milésimo conta e o jogo se joga na ponta dos pés, o favoritismo não é garantido por estatuto nem ‘ranking’. A relva, com o seu tapete verde e saltos baixos, transforma qualquer embate numa dança de reflexos e coragem. Ali, a paciência dá lugar à audácia, e o mais leve erro pode ser uma brecha para o adversário.

Para Borges, esta derrota é mais do que um resultado. É o lembrete de que a relva cobra o seu preço — e que, por vezes, a velocidade pode trair até os que parecem invencíveis no papel. Agora, é hora de erguer a cabeça e sonhar ir o mais longe em Wimbledon.

Uma temporada a abrir portas para Wimbledon

Apesar do revés em Eastbourne, O Lidador encerra a sua preparação para Wimbledon com quatro vitórias na relva pelo circuito ATP na bagagem — um pequeno, mas sólido, portfólio de conquistas num terreno que exige adaptação e entrega total.

No All England Club, onde é atualmente o único português no quadro principal, o maiato carrega a ambição e a esperança de transformar estas lições em sucesso. A sua presença ganha ainda mais força com o reforço da comitiva nacional em pares, com Francisco Cabral, e a busca por novos talentos como Jaime Faria na qualificação.

No ténis, especialmente sobre relva, as vitórias são por vezes escritas com letras invisíveis: as derrotas. E é entre estas linhas, entre sombras e clarões, que Borges continua a desenhar o seu caminho rumo à glória.


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