Ostrava 2025: Portugal conquista bronze no Europeu de Sub-19 feminino

                                                                     Por António Vieira Pacheco

O bronze é português no Europeu de Sub-19 feminino.
Créditos: FPTM. Portugal saí bronzeado em Ostrava no Europeu de Jovens.

De objetivo modesto à elite continental

Júlia Leal, Mariana Santa Comba, Matilde Pinto e o treinador Marco Rodrigues são agora nomes eternamente gravados na história do ténis de mesa português. No Campeonato da Europa de Jovens 2025, que decorre em Ostrava, a seleção feminina sub-19 conquistou hoje a medalha de bronze por equipas, um feito tão merecido quanto inspirador.

Antes do início da competição, o discurso era prudente: o objetivo era a manutenção no escalão principal. Portugal, embora competente e com talento evidente, sabia que enfrentaria nações com tradição, estrutura e investimentos muito superiores. Mas o desporto tem uma linguagem própria — e, por vezes, é no silêncio da humildade escondida as maiores ambições.

A equipa nacional foi a crescer ao longo do torneio. Com resiliência, espírito coletivo e talento genuíno, ultrapassou adversárias difíceis e foi a conquistar vitórias importantes, jogo após jogo, ponto a ponto, até chegar às meias-finais.

A meia-final com a França: um combate de gigantes

Na meia-final, Portugal encontrou uma França poderosa, com uma seleção sólida e recheada de atletas com muita experiência internacional. O resultado — 3-0 a favor das francesas — reflete a superioridade adversária neste embate específico, mas não apaga a campanha notável das jovens portuguesas.

Não foi uma derrota amarga, mas sim um ponto final digno num percurso heroico. Uma etapa final que fecha com chave de bronze uma participação que ficará, certamente, como inspiração para futuras gerações.

Bronze com sabor a ouro

A medalha de bronze não é somente um pedaço de metal. É símbolo de um trabalho profundo, de um processo que envolve anos de treinos, viagens, sacrifícios e superação. É um reflexo do que acontece quando o talento encontra a oportunidade — e quando o apoio certo permite que ele floresça.

Para uma equipa que partiu somente com a esperança de garantir a permanência, subir ao pódio continental é muito mais do que um feito desportivo. É uma afirmação clara: Portugal tem talento, tem visão e tem futuro no ténis de mesa feminino.

Protagonistas do feito

Júlia Leal

Com uma maturidade competitiva impressionante, foi peça-chave na consistência emocional da equipa. Os seus encontros demonstraram técnica apurada, mas também leitura de jogo e inteligência tática. Já é campeã nacional de seniores de equipas pelo Juncal. A brisa que chegou da Terceira e tornou-se numa maré forte no ténis de mesa europeu.

Mariana Santa Comba

Combina garra e elegância em igual medida. Com nervos de aço nos momentos decisivos, foi capaz de virar jogos com serenidade e coração quente. Uma das grandes revelações desta campanha lusitana em solo checo.

Matilde Pinto

Já considerada uma das promessas do ténis de mesa português, Matilde confirmou-se como realidade sólida no seu último ano no escalão de sub-19. Com um estilo agressivo e focado, mostrou-se pronta para grandes voos — e para carregar a camisola das quinas com responsabilidade e brilho.

Marco Rodrigues

O treinador, discreto, mas determinado, guiou estas atletas com sensibilidade e inteligência. O bronze é também seu — reflexo do seu trabalho técnico, da gestão emocional do grupo e da sua fé nas capacidades das jogadoras.

Um marco para o desporto nacional

Portugal precisa de histórias como esta. Num país onde o futebol absorve as atenções e os investimentos, conquistas como esta demonstram que há valor noutras modalidades. Que vale a pena apostar, divulgar e apoiar.

Este bronze é um sinal claro de que o ténis de mesa jovem em Portugal está vivo, e está a crescer. As estruturas de base, os clubes formadores e as famílias que acompanham cada torneio, cada estágio, também merecem o seu lugar neste pódio simbólico.

Ostrava: onde os sonhos ganham forma

Na fria Ostrava, longe dos grandes centros e longe das capas dos jornais, Portugal brilhou como nunca. Foi ali, com humildade e trabalho, que estas jovens atletas mostraram que sonhar vale a pena. Que vestir a camisola da seleção não é apenas um orgulho — é uma responsabilidade, e um trampolim para se fazer história.

E fizeram. Fizeram história. Uma história contada com suor, nervos de aço, lágrimas contidas e sorrisos largos.

O bronze conquistado por Júlia Leal, Mariana Santa Comba, Matilde Pinto e Marco Rodrigues é mais do que uma medalha. É um alerta. Um grito manso que diz: “estamos aqui”. Que diz que Portugal pode competir entre os grandes, mesmo em modalidades menos mediáticas.

Agora, que o bronze está ao peito, o sonho já não é apenas a manutenção. O sonho passa por finais, por títulos, por futuras gerações que olhem para este feito e digam: “também quero lá chegar”.

Deixem-nas sonhar. Porque já provaram que sabem transformar sonhos em conquistas.

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