Mariana Santa Comba: “Quero desfrutar e chegar ao mapa final no Europeu”
Por António Vieira Pacheco
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Créditos: FPTM. Mariana Santa Comba, de 17 anos, treina em Gaia para representar Portugal. |
Mariana Santa Comba, a princesa do Tua
Mariana Santa Comba treina em Gaia para representar Portugal no Campeonato da Europa de sub-19 em ténis de mesa. Entre treinos e sonhos, fala da paixão pelo jogo e da força que nasce das derrotas.
Há atletas que falam com a raquete.
Outros, com o olhar. E há os raros que, mesmo na juventude, já transportam nos
gestos a densidade de quem vive o desporto com corpo inteiro — e alma inteira.
Mariana Santa Comba, de 17 anos, atleta do CTM de Mirandela, pertence a esse
grupo. No silêncio dos treinos e na vibração dos jogos, cultiva-se uma campeã
em construção. Uma atleta que caminha entre a exigência e a leveza, entre o
foco e o prazer de simplesmente jogar.
Estamos a poucos dias do início do
Campeonato da Europa de Jovens, categoria sub-19. O nervosismo típico destes
momentos parece não a contaminar. Ou talvez o esconda sob uma serenidade que só
quem aprendeu a crescer com o ténis de mesa sabe cultivar. Mariana fala com
calma, com surpresa com a presença do repórter do Entrar do Mundo das Modalidades, que ela conhecia do ténis de mesa de outra área, mas com clareza.
As ideias vêm com fluidez, sem adornos em excesso, mas com uma verdade rara.
“Ainda não saiu o sorteio da prova de equipas, mas o objetivo principal é garantir a manutenção na I Divisão. Mas claro, queremos sempre mais. Espero que as coisas corram bem. Mas queremos ir o mais longe possível.”
Uma pausa entre treinos intensos
Encontrámo-la no Centro de Alto
Rendimento, em Vila Nova de Gaia, onde tem estado a preparar-se com afinco com
Matilde Pinto e Júlia Leal, as suas companheiras de Seleção Nacional. A
intensidade dos treinos é visível no rosto, no ritmo do corpo, nas pausas
medidas entre exercícios. Foi ali, no meio de um dia exigente de preparação
física, tática e mental, que Mariana nos recebeu — ainda um pouco surpresa.
Quando o treinador a chamou para
falar com o jornalista… ela respondeu: 'eu?'
A surpresa, no entanto, não a impediu
de se abrir com naturalidade. Porque, tal como na área de jogo, Mariana sabe
adaptar-se ao momento.
A maturidade da simplicidade
Há em Mariana uma maturidade revelada
na forma como olha o caminho. Não se perde em promessas grandiosas nem em
projeções desmedidas. Vive o desporto como quem lê um livro página a página,
sem saltar capítulos.
“Individualmente, não tenho objetivo. Apenas quero desfrutar o momento. Pensar jogo a jogo e dar o meu melhor e chegar ao mapa final.”
As frases parecem simples, mas guarda
a filosofia dos grandes atletas: viver o presente com intensidade, sem a
ansiedade do que continua por chegar. Mariana sabe que o ténis é feito de
instantes — e que cada ponto, cada serviço, cada troca, pode conter um
universo.
Físico, emoção e o estilo próprio
Num tempo em que os jovens atletas
são levados, por vezes, a uniformizar o jogo, Mariana mantém firme a sua
identidade em campo. Reconhece as exigências físicas da modalidade, mas também
sabe quais são os seus limites e preferências.
“Prefiro fazer serviços e mais exercícios físicos, sendo mais cansativo, do que, por exemplo, blocos… não é o meu jogo.”
Há um respeito pelo corpo, pela
energia e pelo estilo que a faz única. O ténis de mesa, para Mariana, não é uma
luta contra a própria natureza — é, antes, uma dança com ela. E é com esse
equilíbrio que projeta a próxima temporada com a ambição de conquistar o lugar
que sente ser seu.
“Quero sagrar-me campeã nacional da I Divisão feminina na próxima temporada pelo CTM de Mirandela.”
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Créditos: CTM Mirandela. Mariana junto das colegas de equipa. |
Uma final que não se esquece (mas não se fala)
Questionada sobre o que correu mal na
última época, a transmontana responde com um desvio delicado. Fala do que
aconteceu antes do final — e cala o desfecho, como quem ainda carrega uma mágoa
que precisa de tempo.
“Fizemos uma boa época. Ganhámos os 14 encontros da fase inicial. Ganhámos nas meias-finais os dois encontros ao Sebastianense. Na final, aconteceu aquilo que todos sabem... não quero falar disso...”
A resposta é um retrato fiel do que significa competir com paixão. As derrotas doem. E há algumas que ficam sem palavras. Mas Mariana não se esconde do sentimento — assume-o. Assume a frustração, o temperamento, a necessidade de digerir antes de reagir com sabedoria.
“Sou meio-explosiva. Fico triste e
reajo a quente. Depois chego a casa e analiso os encontros, observo onde falhei
para melhorar e nos treinos fortalecer os meus pontos fracos.”
Para quem agora começa
No final da conversa, Mariana deixa
uma mensagem simples a quem dá os primeiros passos na modalidade. E,
como tudo nela, a simplicidade vem cheia de sentido.
“Desfrutar o desporto... e vencer o máximo para conquistar os seus objetivos.”
Não há pressa na voz. Nem fórmulas mágicas. Somente a consciência de que, sem prazer, o caminho perde cor. E que a vitória, por muito que se deseje, só floresce se for regada com dedicação, consistência e paixão.
Mariana é mais do que uma promessa do
ténis de mesa. É o reflexo de uma geração de atletas que entende que o sucesso
não se mede somente em troféus, mas em resiliência, em amor pelo jogo, em
capacidade de aprender — mesmo nos dias nublados.
Em cada frase que diz, há
honestidade. Em cada meta, há intenção. E em cada silêncio, há força.
O Campeonato da Europa está prestes a
começar. O sorteio ainda não saiu. Os adversários ainda são incógnitos. Mas
Mariana já começou a jogar — com o coração calmo, a mente preparada e os pés
bem assentes no chão dos seus sonhos.
Mariana Santa Comba: uma estrela em ascensão no ténis de
mesa. E o leitor, já a conhece de perto?
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