O céu é o limite: Portugal voa para as 'meias' do Europeu de Sub-19 em Ostrava
Por António Vieira Pacheco
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Créditos: Entrar no Mundo das Modalidades. A festa é lusa em Ostrava. Não foi fado, mas samba. |
Manutenção? Não! Superação!
A medalha de bronze já está assegurada no Europeu de Sub-19 feminino de ténis de mesa. E, com ela, uma onda de emoção varreu o pavilhão em Ostrava, onde a seleção feminina portuguesa de ténis de mesa escreveu mais uma página dourada na sua história. A vitória por 3-1 sobre a Hungria garantiu à equipa o acesso às meias-finais do Campeonato da Europa de Equipas, um feito que, para muitos, parecia um sonho longínquo. Mas para quem conhece estas atletas — e para quem as viu de perto, olhos nos olhos — percebeu que a ambição sempre foi maior do que o simples objetivo da manutenção.
Quando o Entrar no Mundo das
Modalidades cruzou-se com Matilde Pinto, Mariana Santa Comba
e Júlia Leal nos dias que antecederam a competição, havia nelas uma luz
silenciosa. Um brilho nos olhos que dizia mais do que mil palavras. Falaram com
humildade, sim. Com respeito pelos adversários, claro. Mas havia algo de
indizível naquela confiança tranquila. Algo que somente quem sente
verdadeiramente o peso — e o poder — de representar um país consegue carregar
no peito.
Na altura, o discurso era de
prudência. A manutenção no escalão principal era o objetivo declarado. Mas
dentro de cada jogadora, vivia um desejo sussurrado: mostrar ao velho continente
que Portugal pode estar entre os melhores da Europa. E hoje, após o triunfo
frente à Hungria, esse desejo já é realidade.
A batalha frente à Hungria: coragem, frieza e talento
O duelo contra a seleção húngara
começou tenso, como se cada ponto carregasse o peso de um país inteiro. A
Hungria, historicamente mais experiente nestas andanças, não facilitou. Mas
Portugal apresentou-se coeso, determinado, e com uma maturidade tática impressionante
para a juventude de algumas das suas jogadoras.
Com o resultado de 3-1,
Portugal impôs a sua garra, segurou os nervos nos momentos cruciais e
conquistou a vitória com autoridade. Não foi somente uma vitória tática — foi
emocional, foi coletiva, foi fruto de anos de trabalho silencioso, muitas vezes
à margem dos grandes palcos mediáticos.
Uma geração que cresce com alma
A beleza desta equipa reside na sua
mistura de juventude e coragem. Matilde Pinto, que ainda há poucos anos jogava
no circuito de formação, mostrou uma vez mais porque é uma das maiores
promessas — já realidade — do ténis de mesa português. Ao lado dela, Mariana
Santa Comba e Júlia Leal trouxeram consistência, energia e entrega total.
Estas jogadoras não são apenas
atletas. São exemplos de superação, de paixão por uma modalidade que luta por
mais reconhecimento em Portugal. Representam um novo ciclo, um novo paradigma —
onde o talento se alia à atitude, e a juventude traz esperança em vez de
incerteza.
Ostrava: palco de um sonho partilhado
O ambiente no pavilhão em Ostrava foi
vibrante, quase mágico. Quando se ouviu o último ponto e a vitória foi
consumada, não foi só o banco português que explodiu em alegria — foram também
os poucos, mas apaixonados adeptos lusos presentes, os treinadores, os colegas
de seleção… e, à distância, os muitos que acompanharam em direto o desenrolar
desta história.
Com a medalha de bronze garantida,
não há mais medo de sonhar. Agora, Portugal enfrentará a França nas
meias-finais. Um adversário de peso, sim. Mas também uma oportunidade de ouro
para continuar a surpreender, para continuar a elevar o nome do país entre os
melhores.
“Deixem-nas sonhar…”
Ninguém imaginava que Portugal
pudesse estar entre os quatro finalistas neste escalão. Mas estas jogadoras
nunca deixaram de acreditar. Nunca deixaram de trabalhar, de ouvir, de evoluir.
O que para uns eram utopias, para elas era apenas um caminho ainda por trilhar.
Agora, com o bronze já ao peito, a
próxima batalha será livre de pressões externas. Vão jogar como gostam: com o
coração na ponta da raquete, com os olhos postos na vitória, mas os pés firmes
no chão. Sabem que, mesmo que o percurso termine aqui, já ganharam muito mais
do que uma medalha: conquistaram respeito, orgulho e a certeza de que pertencem
a este palco.
Deixem-nas sonhar. Porque são esses sonhos que
constroem as futuras campeãs.
Muito mais do que um resultado
Esta vitória representa algo maior do
que um simples acesso às meias-finais. É um marco para o ténis de mesa feminino
português, tantas vezes ofuscado pela escassa cobertura mediática e pelos
apoios limitados. É uma prova viva de que, com investimento, estrutura e visão,
Portugal pode estar entre os grandes da Europa também nestas modalidades.
Foi e é um grito silencioso que diz: olhem
para nós. Porque enquanto outros dormiam, estas atletas treinavam. Enquanto
poucos acreditavam, elas já visualizavam a vitória. Hoje, são inspiração para
as próximas gerações, para os clubes, para os jovens que começam a dar os
primeiros toques na bola, ainda sem saber que podem, um dia, também eles, jogar
uma meia-final europeia.
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Créditos: FPTM. Festa lusitana. |
E agora?
O ténis de mesa português vive um
momento especial. Ostrava será, por muitos anos, lembrada como o palco onde uma
nova era começou no ténis de mesa lusitano. Onde a ambição ultrapassou os limites do possível. E onde o
bronze soube a ouro. E onde os olhos brilhantes da Matilde, da Mariana e da
Júlia provaram que o desporto é, sempre, o lugar onde os sonhos ganham forma.
Seja qual for o desfecho frente à
França, estas atletas já nos deram o mais valioso dos presentes: a certeza de
que o futuro do ténis de mesa português é brilhante.
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