Frederico Silva regressa às vitórias com desistência em Milão
Por António Vieira Pacheco
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Créditos: FPT. Portuense regressou após lesão com a mão a ferver e faminto de vitórias. |
Um início promissor… interrompido
Nem sempre é pela força da pancada
que se vence. Às vezes, a vitória surge do desgaste do outro, da persistência
silenciosa, ou até da cedência inesperada. Foi assim que Frederico
Silva voltou a conhecer o sabor da vitória ontem, em Milão, onde o
calor do saibro italiano acolheu o seu primeiro triunfo desde março.
O tenista natural das Caldas da
Rainha, atual 266.º do ‘ranking’ ATP, entrou decidido na primeira ronda do Challenger
milanês, frente ao russo Alexey Vatutin, um adversário com passado de top 150 e
experiência em grandes palcos.
O primeiro ‘set’ mostrou um Frederico
sólido, agressivo nos momentos certos, com bolas profundas e um ritmo difícil
de contrariar. E o parcial caiu com naturalidade para o lado do português: 6-3,
uma vantagem conquistada com critério e confiança.
No início do segundo ‘set’, com o
resultado em 1-1, Vatutin surpreendeu todos ao dirigir-se ao árbitro e anunciar
a desistência. Desconforto físico? Limitações acumuladas? Não houve explicações
públicas. Somente o silêncio e o gesto de abandono.
Assim, sem necessitar de mais jogos, Silva voltou a vencer um encontro no circuito ATP — algo que não acontecia
desde o ITF M25 de Faro, em março.
Uma travessia longa
O ano de 2024 tem sido exigente para
o português de 30 anos. Com presenças esporádicas em torneios Challenger e ITF,
a consistência tem escapado, ora por sorteios ingratos, ora por falta de ritmo
competitivo. As derrotas somaram-se e os pontos ATP rarearam, o que ditou uma
queda progressiva no ‘ranking’.
Mas Milão trouxe algo diferente. A
leveza no movimento, o foco nos momentos-chave, e uma energia renovada deixaram
antever que o melhor de Silva poderá ainda não ter sido contado nesta
temporada.
Um duelo de peso na próxima ronda
A tarefa seguinte, no entanto, é de
respeito. Hoje, Frederico mede forças com o italiano Marco
Cecchinato, que já foi 19.º do mundo e semifinalista de Roland Garros em
2018.
Cecchinato, hoje fora do top 100,
continua um nome imponente no saibro e será um verdadeiro teste à resistência e
ambição de Frederico Silva. A jogar em casa, com o público a seu favor,
o transalpino promete elevar o nível de exigência. Mas se há algo que o
português demonstrou nesta estreia foi disponibilidade para lutar.
Um passo de cada vez
Mais do que um resultado, esta
vitória simboliza algo essencial para qualquer atleta em busca de retoma: confiança.
Ganhar, mesmo que por desistência, permite quebrar o ciclo de insucesso e
acreditar de novo.
A caminhada em Milão pode terminar já
na próxima ronda — ou ser o início de algo maior. Num circuito tão competitivo,
o ténis profissional não perdoa hesitações, mas também sabe recompensar os
persistentes.
E Frederico Silva, entre
sombras e silêncios, ainda não disse adeus ao seu lugar no jogo.
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