Seleções Sub15 e Sub19 preparam-se para o Europeu de Jovens em Ostrava
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Créditos: FPTM. Portugueses treinam afincadamente em Gaia com a mira apontada para Ostrava. |
Novos ares e velhos sonhos no verão de Gaia
No calor abafado de julho, quando o ar quase
se pode cortar à faca e o sol obriga a procurar sombra, há quem escolha estar
de pé, a suar — por convicção, não por castigo. Num tempo em que muitos se
refugiam no descanso, os jovens talentos do ténis de mesa português enfrentam o
calor e os desafios no Centro de Alto Rendimento (CAR) de Vila Nova de Gaia.
Ali, decorre, até 9 de julho, o estágio de
preparação das seleções nacionais de sub15 e sub19 para o Campeonato da Europa
de Jovens, que terá lugar entre os dias 11 e 20 de julho em Ostrava, na Chéquia.
Com a ajuda dos novos sistemas de ar
condicionado — instalados a tempo deste desafio —, treina-se com intensidade e
propósito. Cada batida de bola, cada correção do treinador, cada gota de suor
conta. Porque o sonho é grande. E o talento… também.
Treze atletas, um objetivo e múltiplas histórias
A comitiva portuguesa é composta por 13
atletas — entre eles, nomes que já brilham dentro e fora de portas. Há
sotaques distintos, vivências únicas, e até línguas que não se cruzam… exceto
na linguagem universal do desporto. Todos respiram o mesmo ar de ambição. Todos
partilham a mesma missão: elevar Portugal no panorama europeu.
Sub19 Masculinos: onde o ‘francês’ também
conta
Entre todos os nomes da comitiva
nacional, Tiago Abiodun destaca-se com naturalidade. O jovem
luso leva já no currículo um
feito que poucos da sua idade podem reivindicar: integrar a poderosa equipa
do Ochsenhausen, da Alemanha — considerada, por muitos, a liga mais
forte de ténis de mesa do mundo.
Ali, entre estrelas internacionais e treinos
de elite, Tiago tem evoluído a olhos vistos. A sua presença no estágio em Gaia
não é somente uma convocatória: é uma afirmação. Um aviso de que o futuro
chegou mais cedo.
No CAR, os olhos seguem-no com atenção. Os colegas admiram-lhe a postura, os técnicos reconhecem-lhe a maturidade. E embora ainda jovem, há nele uma compostura — uma aura — de quem já percorre caminhos de gigante.
A surpresa vai, inevitavelmente, para Clement
Campino (4S Tours/Arrabães). Ele ainda não fala
português — mas fala fluentemente a língua da raquete. O ténis de mesa, para
ele, é idioma materno.
A adaptação cultural é suavizada pelos colegas e pelo treinador Diogo Silva, que gere com mestria o equilíbrio entre a exigência e o espírito de equipa. Ao lado de Clement, surgem a estrela Tiago Abiodun (Sporting / Ochsenhausen, Alemanha), Tiago Olhero e Rafael Kong (ambos do CTM Mirandela). Juntos, criam uma dinâmica competitiva e cúmplice, onde o francês se mistura com o português — e onde o foco é sempre o mesmo: crescer.
Sub19 Femininos: precisão, energia e união
A equipa feminina é formada por quatro atletas
com estilos diferentes, mas perfeitamente complementares: Beatriz Pinto
(Boa Hora), Júlia Leal (Juncal), Mariana Santa Comba (CTM
Mirandela) e Matilde Pinto (Sporting CP).
Treinadas por Marco Rodrigues, apresentam-se confiantes e maduras. O estágio reforça não só o jogo técnico, mas também o espírito de entreajuda. Jogam com intensidade, mas sorriem nos intervalos. Disputam cada ponto com garra, mas partilham dicas e incentivos. Porque sabem que o sucesso individual começa na força do coletivo.
Sub15 Masculinos: juventude com maturidade tática
Mais jovens, mas nem por isso menos
ambiciosos, estão Lucas Adão (Saavedra Guedes) e Rodrigo Vilhena (Galomar).
Ainda no início dos seus percursos, demonstram uma impressionante maturidade
competitiva.
O selecionador Hélder Melim conhece-lhes cada
gesto, cada detalhe. Exige sem nunca desmotivar, corrige sem perder o sorriso.
Sabe que são atletas em formação — mas com alma de veteranos.
Sub15 Femininos: onde o talento é também herança
Irina Silva
(CTM Santa Teresinha), Leonor Gomes (CD São Roque) e Maria Ruivo
(CTM Mirandela) formam o trio feminino de sub15. Três atletas que impressionam
pela determinação e qualidade técnica.
Irina carrega, literalmente, o ADN da
modalidade: é filha da campeã europeia de veteranos Olga Charamko e de Artur
Silva, figura de referência na formação nacional. Mas no CAR, não vive de
nomes: brilha por mérito próprio, guiada pela treinadora Xie Juan, que
com a sua presença serena e sabedoria meticulosa, molda futuras campeãs.
O ambiente no CAR é de concentração. De manhã
à noite, o som das bolas a bater ecoa como um mantra. Há lugar para risos,
claro — mas são curtos, quase tímidos. Todos sabem por que estão ali. Vestir as
cores de Portugal obriga a dar mais. A sentir mais. A sacrificar-se.
Enquanto muitos procuram refúgio nas praias ou
nos centros comerciais, este grupo escolheu o desafio. O calor e o esforço.
Ostrava à vista e Gaia no coração
Quando partirem rumo a Ostrava, não levarão
apenas material desportivo. Levarão memórias de um verão vivido intensamente.
De treinos duros, de aprendizagens diárias, de gestos técnicos repetidos à
exaustão, de brincadeiras rápidas entre sessões. Levarão a certeza de que, independentemente do resultado, deram tudo.
O Centro de Alto Rendimento de Gaia deu-lhes
condições. Mas foi o grupo que trouxe a alma. A vontade. A poesia do desporto.
E isso, como se diz em qualquer língua, não se
ensina. Vive-se.
Fica atento — porque estes jovens
podem ainda não ter nome nas manchetes… mas estão a escrever o futuro, ponto a
ponto, raquete na mão.
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