Alexandre Bernardo: “Quero ter a oportunidade de jogar nos Jogos Olímpicos”
🖋️Por: António Vieira Pacheco
📸 Créditos: Sayaret Selyan e Direitos Reservados
O movimento em cena: Algarvio no court
Há atletas que jogam com esforço, e há atletas que dançam quando jogam.
Alexandre Bernardo, 17 anos, pertence ao segundo grupo. Não porque abdique do
rigor técnico, mas porque cada movimento seu carrega uma cadência que vem de
outro lugar. A ambição está sempre lá — contudo vestida de arte e de trabalho.
Inspirado talvez pela irmã, Beatriz, bailarina contemporânea e comunicadora nata, Alexandre leva para o badminton algo mais do que agilidade e força.
A família não gosta de comparações, mas a influência está presente. No court, os passos não são só rápidos, são ritmados; o gesto transcende a eficácia para ganhar elegância.
A leveza com que salta, o
equilíbrio nos apoios, a fluidez com que ocupa o espaço… tudo lembra a
disciplina da dança, onde o corpo comunica para além do que o olhar alcança.
No court, é impossível não reparar:
enquanto outros chegam com tensão nos ombros, Alexandre entra com uma
naturalidade quase cénica. Como se o court fosse palco e cada ponto parte de
uma coreografia cuidadosamente invisível. No desporto, onde o tempo de reação é
mínimo e a velocidade dita as regras, ele joga com um tempo só dele — nem mais
lento, nem mais rápido, simplesmente mais expressivo.
Do Parchal para o badminton nacional
Parchal, no concelho de Lagoa, é mais do que o lugar onde cresceu. É a raiz que
o liga a uma comunidade que apoia cada passo da sua carreira.
Treina e representa o CHE Lagoense,
um dos clubes mais importantes da modalidade em Portugal, mas o horizonte já
vai muito para além das fronteiras nacionais.
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Alexandre Bernardo no início da carreira. |
Alexandre recorda, em exclusivo ao Entrar
no Mundo das Modalidades, o início, na prática deste desporto:
“Comecei a praticar badminton a partir das atividades das férias desportivas
de verão e logo a seguir apaixonei-me pela dinâmica do jogo, pela intensidade e
pela energia que era correr atrás de um volante.”
Sobre os maiores desafios para chegar ao nível competitivo atual, responde sem hesitar:
“Já passei por alguns”, declarou. E explica quais foram os desafios: “inclui a diferença de altura ou de maturidade, por ser sempre o mais novo ou dos mais novos quando jogava no meu primeiro ano de alguma categoria, ou então os momentos de mais baixo rendimento. Porém, todos os momentos foram ultrapassados com apoio e muita força mental.”
Inspirações e referências
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A comunhão de Alexandre com o público. |
“Em termos nacionais nunca tive alguém que pudesse seguir de perto. No entanto, desde sempre assisti a encontros de jogadores estrangeiros como o indonésio Anthony Ginting. Sempre me identifiquei muito com o estilo de jogo dele e para mim é uma inspiração a garra e a sua dinâmica.”
Sobre os atletas portugueses que admira
respondeu sem pestanejar:
“Apesar de, nacionalmente, não ter
seguido de perto alguma carreira ou retirado inspiração, gosto e admiro muito
certos atletas. Admiro-os como pessoas e pela carreira que tiveram. Exemplos
são o Duarte Anjo e o Pedro Martins, que tive a oportunidade de ver jogar.”
Momentos marcantes
Quando lhe solicitamos para definir
um momento marcante na sua ainda curta carreira, o jovem algarvio considera
difícil escolher:
“Já tive muitas alegrias e muitos momentos importantes. Como a minha vitória na primeira ronda do Campeonato da Europa, que me abriu portas para visibilidade internacional. E também o meu mais recente, terceiro lugar no All England. São tudo momentos que guardo, tal como outros.”
Aprendizagem internacional
Alexandre também já teve a oportunidade de fazer um estágio na Dinamarca, no
centro de excelência da Badminton Europe, e partilha:
“Retirei uma dinâmica e uma aprendizagem diferente sobre o badminton,
especialmente em questões de treino, organização e planeamento.”
Sobre o estágio com treinadores
malaios realizado em Portugal revelou:
“Foram treinos agressivos, intensos e muito sérios no que toca ao badminton.
É isso que se procura em todos os treinos: encarar cada sessão com seriedade e
empenho.”
Força técnica e mentalidade de campeão
Falando sobre si como praticante, revela:
“Considero-me tecnicamente forte, com batimentos bem trabalhados e
consistentes. Sou muito persistente, tenho garra em campo, não largo um
objetivo e nunca desisto do que quero. Quero sempre mais.”
Sobre a preparação mental, profere
com convicção:
“Gosto de me visualizar como quero que as coisas aconteçam. Imaginar o
desfecho antes de acontecer ajuda-me a acalmar e a focar, e traz-me confiança.”
O peso de representar Portugal
“Sinto mais orgulho do que pressão ao representar o meu país: a vontade
supera sempre a pressão.”
Visão para o badminton português
Alexandre acredita que o desporto está a ganhar visibilidade, mas tem ideias
para aumentar o interesse pela modalidade:
“Sinto que a modalidade está a ganhar mais visibilidade ao longo do tempo,
mas acho que seria bom fazer jogos de exibição para mostrar o verdadeiro
badminton.”
Sobre como atrair mais público sugere
sem rodeios e com a maturidade de um adulto:
“Atividades como jogos de rua envolvendo badminton poderiam ajudar. Aumentar
a visibilidade nas redes sociais e envolver mais a comunidade também seria
importante.”
Objetivos no horizonte
Quanto aos planos de curto prazo, partilha:
“O meu objetivo imediato é o Internacional da Irlanda, no final deste mês. Quero chegar ao pódio. Outro objetivo é o Campeonato do Mundo, onde espero
ficar entre os 5-8 melhores, ou seja, alcançar os quartos de final.”
Sobre as metas a longo prazo,
responde sem hesitar:
“Quero ter a oportunidade de jogar nos Jogos Olímpicos e representar
Portugal ao mais alto nível.”
O Mundo começa a vê-lo a voar nas asas do badminton
Alexandre não é apenas mais um nome
no badminton. É um intérprete de um jogo rápido, que transforma cada ponto em
arte e cada torneio em palco. Tal como o Rio Arade que atravessa Lagoa e liga
várias comunidades com a sua força e fluidez, o algarvio conecta o talento à
paixão, o esforço à elegância. O Parchal viu-o crescer; o mundo começa agora a
vê-lo voar.
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