Portugal vice-campeão da Europa de Sub-19

                                                         Por António Vieira Pacheco

Créditos: FPTM. Faltou um ponto a Portugal para conquistar o título, mas saí de cabeça erguida.

Ostrava foi palco de uma final épica contra a Roménia

A cidade de Ostrava, na República Checa, foi testemunha de uma batalha desportiva que ficará nos registos mais emocionantes do ténis de mesa juvenil europeu. A seleção masculina de Sub-19 de Portugal conquistou a medalha de prata no Campeonato da Europa de Jovens, perdendo por 3-2 frente à Roménia numa final dramática, intensa e heroica, que se prolongou por três horas e meia.

Foi uma final imprópria para cardíacos, onde a esperança se renovava a cada ponto e a glória pareceu, por momentos, tão próxima que quase se podia tocar. Os nossos jovens guerreiros caíram de pé, com orgulho e com a certeza de terem escrito uma página inesquecível da história do ténis de mesa nacional.

Desde o primeiro minuto que o ambiente se tornou quase insuportável. A buzina romena, símbolo sonoro da pressão e do fervor das claques do leste europeu, soou ininterruptamente desde o primeiro serviço até ao último ponto da final. Não houve pausa, não existiu trégua. Mas os portugueses não se deixaram intimidar.

A resposta dos nossos atletas não veio com ruído, mas com talento, foco e coração. Em cada jogada, Portugal deixou o seu nome, a sua alma, a sua vontade. O silêncio entre pontos era somente a pausa entre dois ataques de coragem.

Abiodun: a vitória escapou por milímetros

O primeiro momento-chave do encontro aconteceu no terceiro singular e teve como protagonista Tiago Abiodun, filho do internacional sénior nigeriano Bode Abiodun, herdeiro de uma linhagem e de um talento que o tempo começa agora a confirmar. Frente a Iulian Chirita, um dos nomes mais respeitados do circuito juvenil, Tiago entrou sem medo e sem complexos.

Venceu o primeiro ‘set’, perdeu o segundo, e voltou a adiantar-se no terceiro, colocando-se numa vantagem de 2-1. O jogo estava nas mãos do português, que exibia uma combinação de potência, visão tática e frieza competitiva digna de um veterano. Mas Chirita sobreviveu. E como sobrevivem os grandes: ponto a ponto, devolução a devolução, até inverter o rumo.

Clément Laine Campino: entre a glória e o abismo

A derradeira partida da final carregava tudo: a esperança, o título, o sonho. E foi aí que Clément Laine Campino teve o destino nas mãos — e nos dedos. O jovem luso-francês protagonizou uma batalha feroz frente a Dragos Bujor, número dois romeno. Foi um jogo de alta voltagem emocional, com match points salvos, outros desperdiçados, e o coração de todos os que assistiam preso a cada troca.

O quinto ‘set’ foi um turbilhão: Laine teve match points, defendeu outros, e acabou por cair por 18-16, naquele que foi talvez o momento mais dramático de todo o Campeonato da Europa. 

Ao falhar a receção no último ponto, caminhou em direção ao banco lusitano e atirou a toalha ao chão em sinal de frustração, num gesto tão instintivo quanto carregado de emoção. 

De cabeça baixa, foi rapidamente rodeado e confortado pelos colegas de equipa, que, mesmo sem o título, sabiam que tinham conquistado muito mais: a honra de pertencer a uma geração de ouro.

Prata de peso, prata com futuro

Com esta prestação, Portugal conquista o seu melhor resultado de sempre na categoria masculina de sub-19. A seleção lusa superou adversários de enorme valor, como a República Checa e a Hungria, para chegar à final — um percurso que confirmou o crescimento da formação nacional.

A prata obtida em Ostrava não é um ponto final: é uma promessa. Estes atletas provaram que o ténis de mesa português tem presente — e tem futuro. Os nomes que hoje brilham nos escalões de base são os mesmos que amanhã carregarão a bandeira nas arenas seniores.

E que fiquem registados: Tiago Abiodun, Rafael Kong, Clément Laine Campino e Tiago Olhero, e toda a equipa que vestiu a camisola de Portugal em Ostrava honraram o nome do país. Fizeram-no com raquetes e com alma.

Um feito que inspira

O ténis de mesa nacional, tantas vezes ofuscado pelas grandes modalidades mediáticas, viveu ali um dos seus momentos mais altos. Não só pelos resultados, mas pelo espírito competitivo, pela maturidade desportiva, e pela resiliência demonstrada em campo.

O Europeu de Ostrava será, para sempre, uma referência. Um exemplo do que se pode alcançar com trabalho, foco e paixão. Os nossos jovens não ganharam o ouro — mas conquistaram algo maior: o respeito da Europa, e a admiração de quem os viu lutar até ao fim.

Foi mais do que uma final — foi um espelho da alma do desporto português: talento, sacrifício e paixão sem garantias. No momento em que Clément Baine Campino deixou cair a toalha no chão, não caiu somente o peso de uma derrota: caiu também o silêncio de um país que raramente olha para além do futebol.

Mas neste espaço, olhamos, contamos e honramos.
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Sub19 Masculinos – Final
Roménia, 3 – Portugal, 2

Iulian Chirita, 3 – Clément Campino, 0 (11-5, 11-5, 13-11)
Dragos Bujor, 2 – Tiago Abiodun, 3 (2-11, 11-9, 7-11, 11-7, 6-11)
Robert Istrate, 1 – Rafael Kong, 3 (13-11, 8-11, 12-14, 5-11)
Iulian Chirita, 3 – Tiago Abiodun, 2 (9-11, 11-8, 3-11, 11-4, 11-6)
Dragos Bujor, 3 – Clément Campino, 2 (11-4, 6-11, 11-6, 11-13, 18-16)

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