Hugo Calderano de fora do WTT Las Vegas por viagem a Cuba em 2023

Por António Vieira Pacheco
Brasileiro impedido de entrar nos Estados Unidos da América.
Créditos: Direitos Reservados. O vice-campeão mundial impedido de competir no WTT de Las Vegas.

Hugo Calderano de fora do WTT Grand Smash Las Vegas

Num revés inesperado para o ténis de mesa mundial, Hugo Calderano, um dos nomes mais brilhantes da modalidade, foi impedido de embarcar rumo aos Estados Unidos e está oficialmente fora do WTT Grand Smash Las Vegas, começou hoje. A ausência do vice-campeão mundial foi confirmada mediante um comunicado pessoal, que rapidamente se espalhou pelo meio desportivo e gerou perplexidade entre adeptos e especialistas.

O brasileiro, mas com cidadania portuguesa, Calderano usufruía até agora do privilégio concedido aos cidadãos da União Europeia: a entrada facilitada nos Estados Unidos por meio do sistema ESTA (Sistema Eletrónico para Autorização de Viagem), parte integrante do Programa de Isenção de Visto. No entanto, este cenário mudou subitamente.

Segundo informações divulgadas pelo próprio atleta, o sistema de autorização não confirmou automaticamente o seu pedido, como de costume. Preocupado com a demora atípica, Hugo contactou diretamente o órgão responsável, a Alfândega e Proteção de Fronteiras dos Estados Unidos (CBP). Foi então confrontado com uma notícia inesperada: a sua elegibilidade para o programa de isenção de visto foi revogada.

O motivo? Deveria ser a participação em eventos desportivos realizados em Cuba em 2023 — nomeadamente o Campeonato Pan Americano e o torneio de qualificação para os Jogos Olímpicos de Paris 2024, organizados pela Federação Internacional de Ténis de Mesa (ITTF).

Uma viagem, múltiplas implicações

À luz da política migratória norte-americana, qualquer cidadão que tenha visitado Cuba após 2021 perde automaticamente o direito de entrar nos Estados Unidos ao abrigo do ESTA, ainda que essa visita tenha tido propósitos diplomáticos, culturais ou desportivos. Neste contexto, a presença do brasileiro em solo cubano, mesmo integrada num calendário oficial da ITTF, bastou para alterar o seu estatuto junto das autoridades fronteiriças.

Esta decisão representa mais do que um obstáculo burocrático — é uma interdição com impacto direto na carreira do atleta. Calderano não só deixará de competir num dos maiores torneios do circuito mundial, como verá o seu ‘ranking’ e calendário desportivo afetados. O WTT Grand Smash é um dos eventos mais prestigiosos da temporada, com peso significativo na pontuação internacional.

Apesar de a legislação norte-americana ser clara quanto às restrições de entrada relacionadas com Cuba, a aplicação rígida destas normas a atletas em missão oficial levanta questões sobre a separação entre política externa e o universo desportivo.

Entre o jogo e a diplomacia

Este episódio reacende um debate latente: até que ponto os atletas podem — ou devem — ser penalizados por decisões geopolíticas alheias à sua vontade? O sul-americano não esteve em Cuba por lazer ou negócios, mas para competir ao mais alto nível, num evento sancionado por entidades internacionais. O desporto, em teoria uma linguagem universal e neutra, vê-se mais uma vez atravessado por fronteiras invisíveis.

                                                   Que se segue para Calderano?

E agora? O futuro próximo passa agora pela regularização do seu visto tradicional — um processo que pode levar semanas ou até meses, dependendo da morosidade burocrática e da agenda consular. Até lá, o atleta poderá ver-se impedido de participar em outros eventos nos Estados Unidos, prejudicando a sua preparação olímpica e presença no circuito.

Mais do que um caso isolado, a situação de Calderano pode servir de alerta a outros atletas internacionais que viajaram para Cuba nos últimos anos. A necessidade de planear minuciosamente cada deslocação, em especial num ano olímpico, torna-se agora imperativa.

Num tempo em que a globalização promete unir, o caso do vencedor da Taça do Mundo do corrente ano mostra-nos que ainda existem fronteiras — físicas, políticas e simbólicas — que desafiam o espírito do desporto. Entre o som ritmado da bola na mesa e o silêncio das autoridades, fica a lição amarga de que, por vezes, o jogo mais difícil acontece longe da mesa. 

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