O poder dos votos no ténis de mesa
Por António Vieira Pacheco
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Créditos: Direitos Reservados. Na FPTM, o poder escuta quem vota. Os outros são peões no tabuleiro. |
A influência está
concentrada principalmente nas pessoas que votam — enquanto as demais vozes têm
menor visibilidade.
No ténis de mesa português, a verdade mais sincera é também a mais amarga: no fim, só interessa quem vota. Tudo o resto — a paixão, o suor, a dedicação, as ideias — esconde-se atrás de um silêncio pesado, como se não passasse de um eco distante numa sala onde só se escuta o tilintar dos votos a cair.
Como se distribuem os votos?
Quando olhamos para o colégio
eleitoral da Federação Portuguesa de Ténis de Mesa (FPTM), vemos,
presentemente, 45 votos para eleger os representantes para os respetivos Órgãos. Contudo, o que estes números não
revelam é o peso e a influência que cada voto carrega. Apesar do cenário
parecer democrático, o poder concentra-se nas mãos de poucos, que com um gesto
ou um aceno, definem o rumo da modalidade.
O colégio eleitoral é atualmente
composto pelos seguintes delegados:
16 de clubes das associações
distritais |
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Esta divisão não é somente uma questão
estatística. É o guião onde se escreve a melodia das decisões da modalidade.
Maioria votante: clubes e associações
Com 31 votos no total, os clubes e
associações dominam claramente a votação. São, em muitos casos, as estruturas
mais fáceis de mobilizar, e funcionam como a base de apoio mais previsível para
quem se candidata à liderança federativa.
Por contraste, os jogadores, árbitros
e treinadores — os protagonistas ativos da modalidade — ficam reduzidos a 14
votos, ou seja, a cerca de um terço da assembleia.
Votos que valem mais
Na prática, quem quer subir ou manter-se no poder foca-se nos votos que realmente contam para ganhar: os das estruturas associativas. É ali que se define o desfecho eleitoral. Os agentes individuais podem participar, mas sabem que o seu peso real é limitado. Em último caso, alguns são convidados para fazerem parte da estrutura técnica (treinadores e árbitros).
Nesta configuração, conceitos como mérito
e independência são frequentemente fragilizados:
Mérito: torna-se irrelevante quando a
fidelidade política ou institucional dita mais do que o trabalho feito.
Independência: torna-se difícil de praticar num
sistema que penaliza vozes críticas.
O preço de pensar diferente
Quem ousa propor mudanças ou
simplesmente questionar decisões instala-se numa zona de risco. A margem para
críticas construtivas é cada vez mais estreita. Não é incomum que agentes que
defendem maior abertura acabem por ser marginalizados — não por falhas no seu
trabalho, mas por divergirem da linha dominante.
O labirinto federativo
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Créditos: Direitos Reservados. O labirinto… |
O sistema eleitoral funciona como um
labirinto controlado por quem já está dentro. As paredes são altas para quem
tenta entrar. As portas estão bem guardadas.
A arquitetura do poder foi construída para resistir à mudança, protegendo quem
já ocupa posições-chave.
Nas últimas eleições federativas, em novembro de 2024, houve quem votasse com as pernas a tremer — não pela responsabilidade da escolha, mas pelo medo das consequências e da pressão. A liberdade de voto, em teoria garantida, perde força quando associada a pressões veladas ou expectativas de lealdade.
O silêncio dos que fazem a modalidade
A maioria dos envolvidos na
modalidade — atletas, treinadores de base e árbitros — não tem voz no processo.
Podem ter opinião, mas raramente têm voto. E isso contribui para um sentimento
generalizado de afastamento relativamente às decisões federativas.
A resposta, em parte, está na estabilidade que o sistema oferece a quem está instalado. Mudar é sempre mais arriscado do que manter. Assim, o conservadorismo institucional instala-se, mesmo que isso signifique adiar decisões que poderiam beneficiar a modalidade no médio e longo prazo.
O ténis de mesa português precisa de uma renovação que vá além das mesas e dos resultados. É essencial repensar o sistema eleitoral e ouvir mais quem vive a modalidade no terreno. Isso, no entanto, é uma tarefa para o IPDJ e para os deputados da Nação.
Só assim será possível aproximar o
poder de quem tem o mérito, a visão e a coragem para fazer diferente.
Quem são os delegados da Assembleia Geral da FPTM
Praticantes |
Ana Alexandra Carvalho Pisco |
Treinadores |
António Carlos Coelho Rato |
Árbitros |
Décio David Silva Faustino |
Clubes |
ATM Algarve – Nuno Filipe Silva Fernandes |
Associações |
Associação Ténis de Mesa do Algarve |
Nota Editorial
Este artigo é publicado pelo Entrar no Mundo das Modalidades no exercício da liberdade de expressão e para promover o debate informado sobre a representatividade no desporto
português.
A análise aqui apresentada baseia-se
em informações públicas e dados institucionais disponíveis à data da
publicação. Não se pretende, em momento algum, ofender, difamar ou imputar condutas ilícitas a qualquer pessoa, ou entidade.
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