Tiago Berenguer: “Quero valorizar o badminton em Portugal”
🖋️Por: António Vieira Pacheco
📸 Créditos: Federação Portuguesa de Badminton
Da Madeira para o mundo
A raquete como leme
Na Madeira, onde o mar e a montanha
vivem num abraço constante, nasceu um campeão nacional de badminton: Tiago
Berenguer.
Nesta ilha, o vento não sopra exclusivamente nas falésias — sopra também nos sonhos. Com somente 16 anos, carrega esse
vento nas mãos e na raquete. Campeão nacional de seniores em 2024, medalhado em
Campeonatos da Europa de juniores e líder no ‘ranking’ europeu da sua categoria,
a sua trajetória é um farol de ambição a emergir do Atlântico.
A sua história começou antes dos
títulos, com a curiosidade de um menino que seguia o pai, Cosme Berenguer —
treinador e farol — pelas competições.
Era ali, entre redes montadas e
volantes voando, que se formava o jovem atleta. O som seco da raquete a bater
no volante misturava-se com as ondas ao longe, como se cada treino fosse também
um diálogo com o mar.
Com o tempo, a curiosidade
transformou-se em compromisso. Hoje, a sua rotina é feita de aviões, treinos
intensos e conquistas marcadas em páginas de história do badminton nacional.
Mas Tiago mantém a simplicidade no olhar: sabe que cada ponto
conquistado é fruto de horas invisíveis de trabalho.
O mar de treino
Na ilha, aprendeu que a paciência tem
tanto valor quanto a força. Nos trilhos da ilha, o percurso não se vence correndo — é
conquistado passo a passo. No mar, a ondulação não se desafia — aprende-se a
dançar com ela. E, no badminton, Tiago soube que vencer implica aguardar o
momento exato, tal como aquele salto perfeito que acontece entre a brisa e o
voo do volante.
Essa filosofia acompanha-o dentro e
fora do campo.
Tailândia: onde o
treino se torna filosofia
Há experiências que moldam mais do
que a técnica: moldam a mentalidade. O estágio de alto rendimento na Tailândia
foi um desses momentos para Tiago, uma imersão total numa cultura onde o
badminton é muito mais do que um desporto.
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| Uma experiência para mais tarde recordar. |
Com um sorriso que mistura respeito e
entusiasmo, revela:
“O estágio na Tailândia foi uma experiência transformadora. Treinar num país onde o badminton é parte da cultura e acompanhado por atletas e treinadores de altíssimo nível permitiu-me absorver novas metodologias, maior intensidade de trabalho e uma mentalidade de disciplina diária”, revelou entusiasmado.
“Mais do que técnicas específicas, aprendi a importância de
uma rotina estruturada e do foco total em cada sessão de treino.”
Ao falar sobre as diferenças, a sua
expressão torna-se mais séria, como quem descreve uma lição que ficará para a
vida:
“A intensidade é notoriamente
superior e há uma grande ênfase na repetição e no trabalho físico rigoroso. Os
treinos são mais longos, com pouco tempo de pausa, e existe uma cultura muito
forte de sacrifício e resiliência. A principal diferença está na mentalidade —
lá, o treino é quase uma forma de vida.”
O jogo mental: a força invisível
Nem sempre o que se vê no encontro
explica a vitória. Há um trabalho invisível, feito no silêncio e na preparação.
Tiago não tem dúvidas de que a mente é tão importante quanto o corpo. É aí que,
muitas vezes, se decide quem aguenta a pressão e quem cede nos momentos
decisivos.
Num tom confidente, elucida:
“Procuro trabalhar o aspeto mental
tal como treino o físico. Estabeleço objetivos claros para cada competição. Foco-me nos progressos e não somente nos resultados, e recorro a técnicas de
visualização para reforçar a confiança. Também é essencial ter uma boa rede de
apoio — família, treinadores e colegas — para manter o equilíbrio emocional e a
motivação em momentos mais desafiantes.”
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| Tiago Berenguer quer fazer história no badminton português. |
Tiago sabe que o adversário não é somente
o que está do outro lado da rede. O adversário é, muitas vezes, a dúvida
interior, a pressão de um ponto decisivo, o cansaço acumulado de semanas longe
de casa.
Equilibrar estudos e treinos: um desafio diário
À primeira vista, poderia parecer
impossível gerir um calendário cheio de treinos, viagens e competições com a
exigência dos estudos. Contudo, o campeão português encara esta dupla missão
com método e disciplina.
Entre voos e torneios, aproveita qualquer intervalo para abrir livros e cumprir trabalhos escolares. O telemóvel serve tanto para rever vídeos de jogos como para participar em aulas ‘online’. Sem rodeios, conta em exclusivo ao Entrar no Mundo das Modalidades:
“É um desafio constante que exige
organização e disciplina. Utilizo bem o tempo entre treinos para estudar e
planeio os períodos de maior carga competitiva para não comprometer os estudos.
É um equilíbrio delicado, mas acredito que tanto a formação académica como a
desportiva contribuem
para o meu crescimento pessoal.”
O conselho que parte do coração
Quando a conversa se volta para os
jovens que hoje dão as primeiras pancadas numa raquete, Tiago afasta-se
das fórmulas prontas e fala com a leveza de quem sabe que a paixão é a melhor
treinadora.
Com um tom quase cúmplice, confessa:
“Diria para se divertir no processo e
não se preocupar somente com os resultados. O badminton é um desporto exigente,
mas muito gratificante, e o segredo está em manter a paixão e a curiosidade
para aprender todos os dias. A persistência, aliada à alegria de jogar, é o que
fará a diferença a longo prazo.”
Este conselho, simples e direto,
esconde uma filosofia que guia a sua própria carreira: não perder de
vista a razão pela qual se começou a jogar.
Um legado de inspiração
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| O salto para o topo do Mundo. |
Com voz firme e olhar projetado para
a frente, afirma:
“Gostaria de contribuir para que o
badminton seja mais conhecido, praticado e valorizado em Portugal. Se conseguir
inspirar jovens atletas a acreditarem no seu potencial e mostrar que é possível
alcançar patamares internacionais, sentirei que deixei uma marca positiva no
desporto que tanto me apaixona.”
Títulos que entram para a história
O atleta insular possui um palmarés
nacional e internacional comprovado:
|
Campeão Europeu Sub-15 – Singulares
Homens (Ibiza, 2022), primeira medalha de ouro europeia portuguesa neste
escalão. |
|
Medalha
de bronze no Campeonato da Europa de Sub-19 (Ibiza, 2024), um marco inédito no escalão. |
|
Campeão nacional absoluto de
seniores, o mais jovem de sempre (16 anos) a conquistar este título. |
|
Sexto lugar no ‘ranking’ mundial de juniores, a melhor posição portuguesa de sempre. |
Estes números não são exclusivamente estatísticos
— são capítulos de uma história que continua longe do epílogo.
Olhar no horizonte
Ainda no presente do seu percurso,
Tiago já construiu um futuro possível. Com a serenidade dos pescadores que
partem ao amanhecer, sabe que o mar pode ser generoso ou rigoroso — e aprendeu
a navegar nos dois. Enquanto houver rede, volante e vontade, continuará a
lançar a raquete como se lançasse uma âncora no futuro.
Porque, para ele, o horizonte não é
um limite. É somente o próximo destino. O próximo voo está próximo: o Mundial de
Juniores.

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