Ténis de Mesa em Portugal: Falta visibilidade
A poesia escondida num jogo de sombras
O ténis de mesa, com as suas trocas
rápidas e sinfonias de movimentos coreografados, é um desporto que exige mais
do que reflexos: exige alma. Em Portugal, essa modalidade vive numa espécie de
exílio silencioso, afastada das luzes que iluminam os palcos principais do
desporto nacional. Mas por quê? Como um jogo de precisão, tática e paixão
tornou-se tão invisível?
Na mesa, cada jogada pode ser uma
obra de arte. No entanto, no panorama mediático português, a modalidade
raramente aparece. Não por falta de talento ou resultados, mas por uma
conjugação de fatores estruturais, culturais e estratégicos. Falta uma narrativa
forte, falta tempo de antena, faltam olhos a ver e ouvidos a escutar.
Estruturas pequenas, paixões gigantes
Em Portugal, o ténis de mesa
sobrevive à custa de clubes, treinadores dedicados e dirigentes locais, muitas
vezes voluntários. Esses projetos vivem de orçamentos mínimos e de uma paixão
que contrasta com a ausência de meios. A formação de atletas, árbitros e
treinadores é feita quase sempre em contexto de esforço pessoal e institucional
limitado.
Esta dedicação — admirável — também
tem os seus limites. Sem visibilidade mediática, o retorno para patrocinadores
é baixo. Sem retorno, o investimento não cresce. O resultado é um ciclo vicioso
que impede o crescimento natural da modalidade.
Escolas: um viveiro que tarda em florescer
O ténis de mesa tem tudo para ser uma
modalidade de base escolar: é barato, acessível, tecnicamente desafiante e
educativo. No entanto, poucas escolas têm equipamentos adequados ou integram a
modalidade nos seus programas de educação física. A ausência de contacto
precoce com a modalidade traduz-se na perda de gerações inteiras de praticantes
e fãs em potencial.
É uma oportunidade perdida, num país
onde outras modalidades — menos acessíveis e mais dispendiosas — conseguem,
paradoxalmente, mais espaço.
A ausência visível de quem devia
comunicar
Num mundo cada vez mais digital, o
ténis de mesa português sofre com uma presença ‘online’ frágil. A
comunicação — tanto da federação como dos clubes — é esparsa, pouco envolvente
e aproveita raramente as dinâmicas das redes sociais ou os formatos multimédia
que dominam a atenção pública.
A Federação Portuguesa de Ténis de
Mesa (FPTM) tem aqui um papel crucial. No entanto, nos últimos tempos, tem
sido notória a ausência do vice-presidente responsável pela comunicação, bem
como de figuras que, até recentemente, assumiam funções de assessoria em
contexto de provas e eventos.
Não se sabe se se trata de
afastamento formal, redefinições internas ou outras prioridades. O que se sabe
é que, num momento em que a modalidade mais precisa de ser comunicada, quem
deveria ser rosto e voz dessa missão parece ter recuado para fora do campo de
visão.
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Créditos: Marcos Freitas, o nome mais sonante da modalidade. |
Onde estão os nomes que deviam
inspirar?
Apesar da forte tradição de atletas
como Marcos Freitas, Tiago Apolónia, João Geraldo ou João Monteiro, há uma
ausência notória de referências atuais na comunicação desportiva nacional.
Promessas como Júlia Leal ou Tiago Abiodun vão ganhando espaço em provas
internacionais, mas a sua presença é raramente amplificada nos meios de
comunicação ou plataformas federativas.
Num cenário ideal, estes nomes deviam
ser o rosto de campanhas, o tema de reportagens, os protagonistas de vídeos
virais. Hoje, são exceções discretas num desporto que parece esconder os seus
próprios talentos.
Para onde vai o ténis de mesa em
Portugal?
O ténis de mesa português vive num
impasse: apaixonado e talentoso, mas ausente da atenção coletiva. Para quebrar
este ciclo, é necessária uma visão estratégica, sustentada em quatro pilares
claros:
- Reforçar
a comunicação profissional e digital
- Integrar
a modalidade nas escolas e programas públicos
- Valorizar
atletas e treinadores como protagonistas mediáticos
- Unir
clubes e federação em torno de um plano de crescimento realista
Este não é um desporto pequeno. É um
desporto grande, apenas à espera de ser descoberto — por mais pessoas, por mais
jovens, por mais instituições. Quando as pancadas rápidas e certeiras voltarem
a ecoar fora dos pavilhões, talvez Portugal perceba que tinha, nas sombras, um
desporto de ouro.
Marcos Freitas, Tiago Apolónia, João
Geraldo ou João Monteiro podem ser nomes que, para alguns, já evocam orgulho.
Mas quantas crianças portuguesas vêm um jogo de ténis de mesa na televisão?
Quantas sabem o que é um ‘top’ ‘spin’ de direita ou um bloco rápido?
Estruturas limitadas, paixões enormes!
Em Portugal, os clubes e associações
de ténis de mesa funcionam quase exclusivamente graças ao esforço de alguns
voluntários e dirigentes locais apaixonados. As estruturas são pequenas, os
orçamentos curtos e a formação de atletas, treinadores e árbitros depende,
muitas vezes, do amor à camisola.
Essa dedicação é admirável, mas
também limitadora. Sem visibilidade, o retorno para patrocinadores é reduzido.
Sem investimento, a capacidade de expandir projetos é quase nula. O círculo
vicioso fecha-se sobre si, impedindo o crescimento natural da modalidade.
A escola que podia ser um viveiro
O ténis de mesa é um desporto ideal
para as escolas: acessível, barato, excelente para o desenvolvimento motor,
cognitivo e emocional dos jovens. Mas quantas escolas em Portugal têm mesas da
modalidade em condições? Quantas integram a modalidade de forma sistemática nos
seus programas de educação física?
A resposta é desanimadora. As
oportunidades de contacto precoce com a modalidade são escassas. E sem esse
primeiro impacto, perde-se uma geração de praticantes, de talentos, de paixões
futuras.
Falta de comunicação, falta de voz
Outro dos grandes entraves à
afirmação do ténis de mesa é a ausência de uma comunicação moderna, atrativa e
constante. Em tempos digitais, onde cada clique conta, a modalidade precisa de
estar onde está a atenção: nas redes sociais, nas plataformas de vídeo, nos
‘podcasts’ desportivos.
Contudo, essa presença é escassa ou
mal planeada. A Federação Portuguesa de Ténis de Mesa tem
responsabilidades nesse campo, tal como os clubes e as associações regionais. É
necessário criar histórias, divulgar atletas, transformar resultados em narrativas
que emocionam. É preciso profissionais de comunicação.
A cultura do "pequeno
desporto"
Em Portugal, subsiste uma cultura
desportiva profundamente centralizada em torno do futebol. Modalidades como o
ténis de mesa têm de lutar por cada minuto de atenção, por cada euro de apoio,
por cada linha num jornal. Essa condição marginalizada cria um sentimento de
resignação dentro da própria comunidade da modalidade. Como se todos já
aceitassem que "isto é assim".
Mas não tem de ser. Outros países com
culturas semelhantes conseguiram transformar modalidades de nicho em polos de
excitação desportiva. Com estratégia, com dedicação e com uma visão.
Para onde vamos?
Créditos Direitos Reservados. Onde está o público?
A pergunta é simples e justa: o que
queremos para o ténis de mesa português? Queremos manter a paixão apenas dentro
de paredes fechadas, em pavilhões anónimos sem público, ou queremos que este
desporto respire, inspire e cresça?
Para isso, é preciso mais do que
talento e entrega. É preciso estratégia, é necessária comunicação, é preciso
vontade política e institucional. E é preciso que os agentes da modalidade se
unam em torno de um plano comum, que envolva escolas, clubes, federação e
media.
O ténis de mesa não é um desporto
pequeno. É somente uma modalidade ainda por descobrir por muitos.
Por fim, quando o som das pancadas da bola
começar a ecoar nos pavilhões, nas escolas e nas televisões, talvez Portugal
finalmente perceba que tinha, na sombra, um desporto de ouro.
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