Ténis de Mesa em Portugal: Falta visibilidade

Por António Vieira Pacheco



A poesia escondida num jogo de sombras

O ténis de mesa, com as suas trocas rápidas e sinfonias de movimentos coreografados, é um desporto que exige mais do que reflexos: exige alma. Em Portugal, essa modalidade vive numa espécie de exílio silencioso, afastada das luzes que iluminam os palcos principais do desporto nacional. Mas por quê? Como um jogo de precisão, tática e paixão tornou-se tão invisível?

Na mesa, cada jogada pode ser uma obra de arte. No entanto, no panorama mediático português, a modalidade raramente aparece. Não por falta de talento ou resultados, mas por uma conjugação de fatores estruturais, culturais e estratégicos. Falta uma narrativa forte, falta tempo de antena, faltam olhos a ver e ouvidos a escutar.

Estruturas pequenas, paixões gigantes

Em Portugal, o ténis de mesa sobrevive à custa de clubes, treinadores dedicados e dirigentes locais, muitas vezes voluntários. Esses projetos vivem de orçamentos mínimos e de uma paixão que contrasta com a ausência de meios. A formação de atletas, árbitros e treinadores é feita quase sempre em contexto de esforço pessoal e institucional limitado.

Esta dedicação — admirável — também tem os seus limites. Sem visibilidade mediática, o retorno para patrocinadores é baixo. Sem retorno, o investimento não cresce. O resultado é um ciclo vicioso que impede o crescimento natural da modalidade.

Escolas: um viveiro que tarda em florescer

O ténis de mesa tem tudo para ser uma modalidade de base escolar: é barato, acessível, tecnicamente desafiante e educativo. No entanto, poucas escolas têm equipamentos adequados ou integram a modalidade nos seus programas de educação física. A ausência de contacto precoce com a modalidade traduz-se na perda de gerações inteiras de praticantes e fãs em potencial.

É uma oportunidade perdida, num país onde outras modalidades — menos acessíveis e mais dispendiosas — conseguem, paradoxalmente, mais espaço.

A ausência visível de quem devia comunicar

Num mundo cada vez mais digital, o ténis de mesa português sofre com uma presença ‘online’ frágil. A comunicação — tanto da federação como dos clubes — é esparsa, pouco envolvente e aproveita raramente as dinâmicas das redes sociais ou os formatos multimédia que dominam a atenção pública.

A Federação Portuguesa de Ténis de Mesa (FPTM) tem aqui um papel crucial. No entanto, nos últimos tempos, tem sido notória a ausência do vice-presidente responsável pela comunicação, bem como de figuras que, até recentemente, assumiam funções de assessoria em contexto de provas e eventos.

Não se sabe se se trata de afastamento formal, redefinições internas ou outras prioridades. O que se sabe é que, num momento em que a modalidade mais precisa de ser comunicada, quem deveria ser rosto e voz dessa missão parece ter recuado para fora do campo de visão.

O madeirense podia ser cabeça de cartaz em ações de promoção da modalidade.
Créditos: Marcos Freitas, o nome mais sonante da modalidade.

Onde estão os nomes que deviam inspirar?

Apesar da forte tradição de atletas como Marcos Freitas, Tiago Apolónia, João Geraldo ou João Monteiro, há uma ausência notória de referências atuais na comunicação desportiva nacional. Promessas como Júlia Leal ou Tiago Abiodun vão ganhando espaço em provas internacionais, mas a sua presença é raramente amplificada nos meios de comunicação ou plataformas federativas.

Num cenário ideal, estes nomes deviam ser o rosto de campanhas, o tema de reportagens, os protagonistas de vídeos virais. Hoje, são exceções discretas num desporto que parece esconder os seus próprios talentos.

Para onde vai o ténis de mesa em Portugal?

O ténis de mesa português vive num impasse: apaixonado e talentoso, mas ausente da atenção coletiva. Para quebrar este ciclo, é necessária uma visão estratégica, sustentada em quatro pilares claros:

  • Reforçar a comunicação profissional e digital
  • Integrar a modalidade nas escolas e programas públicos
  • Valorizar atletas e treinadores como protagonistas mediáticos
  • Unir clubes e federação em torno de um plano de crescimento realista

Este não é um desporto pequeno. É um desporto grande, apenas à espera de ser descoberto — por mais pessoas, por mais jovens, por mais instituições. Quando as pancadas rápidas e certeiras voltarem a ecoar fora dos pavilhões, talvez Portugal perceba que tinha, nas sombras, um desporto de ouro.


Marcos Freitas, Tiago Apolónia, João Geraldo ou João Monteiro podem ser nomes que, para alguns, já evocam orgulho. Mas quantas crianças portuguesas vêm um jogo de ténis de mesa na televisão? Quantas sabem o que é um ‘top’ ‘spin’ de direita ou um bloco rápido?

Estruturas limitadas, paixões enormes!

Em Portugal, os clubes e associações de ténis de mesa funcionam quase exclusivamente graças ao esforço de alguns voluntários e dirigentes locais apaixonados. As estruturas são pequenas, os orçamentos curtos e a formação de atletas, treinadores e árbitros depende, muitas vezes, do amor à camisola.

Essa dedicação é admirável, mas também limitadora. Sem visibilidade, o retorno para patrocinadores é reduzido. Sem investimento, a capacidade de expandir projetos é quase nula. O círculo vicioso fecha-se sobre si, impedindo o crescimento natural da modalidade.

A escola que podia ser um viveiro

O ténis de mesa é um desporto ideal para as escolas: acessível, barato, excelente para o desenvolvimento motor, cognitivo e emocional dos jovens. Mas quantas escolas em Portugal têm mesas da modalidade em condições? Quantas integram a modalidade de forma sistemática nos seus programas de educação física?

A resposta é desanimadora. As oportunidades de contacto precoce com a modalidade são escassas. E sem esse primeiro impacto, perde-se uma geração de praticantes, de talentos, de paixões futuras.

Falta de comunicação, falta de voz

Outro dos grandes entraves à afirmação do ténis de mesa é a ausência de uma comunicação moderna, atrativa e constante. Em tempos digitais, onde cada clique conta, a modalidade precisa de estar onde está a atenção: nas redes sociais, nas plataformas de vídeo, nos ‘podcasts’ desportivos.

Contudo, essa presença é escassa ou mal planeada. A Federação Portuguesa de Ténis de Mesa tem responsabilidades nesse campo, tal como os clubes e as associações regionais. É necessário criar histórias, divulgar atletas, transformar resultados em narrativas que emocionam. É preciso profissionais de comunicação.

A cultura do "pequeno desporto"

Em Portugal, subsiste uma cultura desportiva profundamente centralizada em torno do futebol. Modalidades como o ténis de mesa têm de lutar por cada minuto de atenção, por cada euro de apoio, por cada linha num jornal. Essa condição marginalizada cria um sentimento de resignação dentro da própria comunidade da modalidade. Como se todos já aceitassem que "isto é assim".

Mas não tem de ser. Outros países com culturas semelhantes conseguiram transformar modalidades de nicho em polos de excitação desportiva. Com estratégia, com dedicação e com uma visão.

Para onde vamos?

Público ausente das competições nacionais e regionais.
Créditos Direitos Reservados. Onde está o público?

A pergunta é simples e justa: o que queremos para o ténis de mesa português? Queremos manter a paixão apenas dentro de paredes fechadas, em pavilhões anónimos sem público, ou queremos que este desporto respire, inspire e cresça?

Para isso, é preciso mais do que talento e entrega. É preciso estratégia, é necessária comunicação, é preciso vontade política e institucional. E é preciso que os agentes da modalidade se unam em torno de um plano comum, que envolva escolas, clubes, federação e media.

O ténis de mesa não é um desporto pequeno. É somente uma modalidade ainda por descobrir por muitos.

Por fim, quando o som das pancadas da bola começar a ecoar nos pavilhões, nas escolas e nas televisões, talvez Portugal finalmente perceba que tinha, na sombra, um desporto de ouro. 


 

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