Nuno Borges: exausto e quase herói na relva de Wimbledon

Por António Vieira Pacheco
Lidador cedeu pelo cansaço.
Créditos: ATP Tour. Lidador teve o pássaro na mão, mas deixou o fugir.

O tenista que quase fez história… e sentiu-se luz apagada

Exausto. Assim se apresentou Nuno Borges, com o peito pesado e os ombros caídos, menos de uma hora após a dura derrota por 7-6(6), 4-6, 4-6, 6-3 e 7-6 (8) contra Karen Khachanov. O encontro, que durou três horas e 48 minutos, ficou marcado por um momento de glória não concretizada: um 5-2 no quinto ‘set’, seguido por duas duplas faltas que devolveram a esperança ao adversário russo. E, com ela, a história que poderia ter sido escrita com tinta portuguesa.

O número um nacional, hoje 37.º no ‘ranking’ ATP, esteve cara a cara com um marco histórico — ser somente o segundo português da história a alcançar os oitavos de final de Wimbledon, feito inédito desde João Sousa, que nessa fase cedeu a Rafael Nadal há seis anos.

Mas o Lidador não cedeu a frustrações profundas. A voz cansada revelou uma honestidade rara:

“Sinceramente não me sinto super frustrado. Obviamente senti que estive muito perto de ganhar e que de certa maneira merecia ter conseguido melhor, mas o esforço foi tanto que agora estou mesmo muito cansado. Não me lembro de ter um dia assim tão cansativo, portanto nem consigo estar assim tão frustrado com a derrota.” 

Aquela exaustão não era somente física. Era a mistura de emoções que aperta no peito quando se está tão perto de concretizar um sonho, sob o sol e as sombras do All England Club.

O sacrifício visível na expressão e no jogo

No confronto decisivo, entrou carregado de energia, mas à medida que os pontos se acumulavam, essa energia foi consumida. O primeiro ‘set’, dominado no tiebreak, estabeleceu o tom. Nos ‘sets’ seguintes, houve momentos de brilho (o 6-3 no quarto) e momentos complicados (cair para 4-6 em dois ‘sets’ seguidos). Mas foi no quinto que se revelou a intensidade emocional que definia cada minuto.

Liderar por 5-2 e servir para a vitória a 5-3 era a materialização de todos os sonhos acumulados num relvado sagrado. O momento chegou, mas a pressão também. O primeiro dos dois match points desapareceu na apatia do momento; o segundo veio com uma dupla falta que encerrou tudo.

“Servia para chegar à quarta ronda de Wimbledon, acho que é normal. Também fui quebrado noutros jogos de serviço, esse acabou por ser mais um.” 

O maiato assume a normalidade daquilo que aconteceu — como quem reconhece que, no ténis, a linha entre a glória e a queda é traçada com décimos de segundo.

Um laço negro com significado maior

Durante todo o confronto, e como homenagem permitida pelo All England Club, Nuno usou um discreto laço negro. Uma pequena lembrança a Diogo Jota, craque do futebol português, falecido num trágico acidente rodoviário dias antes. O gesto é discreto, mas a mensagem foi clara:

“Inicialmente, falámos [com o agente] sobre vestir uma camisola da seleção para entrar no court, mas acabou por ser algo mais pequeno porque foi o que conseguimos fazer. Acho que ainda assim consegui passar a mensagem certa.” 

Naquele momento, o luto e o respeito foram partes da sua imagem em court. Um tributo silencioso, mas carregado de emoção, que ecoou em cada canto do clube.

A evolução visível e histórica

Esta foi a quarta participação de Borges em Wimbledon, e, pela primeira vez, deixou a marca de vitórias reais — avançou até à terceira ronda, confirmando-se como o primeiro português a atingir tal feito em todos os torneios do Grand Slam. Agora, sem a energia de entrar nos oitavos, despede-se com dignidade e evolução visível — uma afirmação silenciosa de que este já não é o mesmo tenista de há alguns anos.

Para completar o périplo britânico, continua reservada a partida de pares, jogada este sábado ao lado de Marcos Giron. Uma última missão antes do regresso, onde continuará a provar que o caminho está bem traçado — mesmo sem a glória que tanto desejou.

As emoções que o corpo não permite pensar

No centro de imprensa, já sem força para refletir profundamente, o maiato deixou transparecer algo mais do que a frieza tipicamente exigida por um desportista. Estava mesmo exausto. E é nesse espaço físico de fadiga extrema que se enraíza a sua sensatez.

“Sinceramente não me sinto super frustrado…” repetiu, admitindo que a sua mente estava já a recuar, a precisar de descanso, e, ao mesmo tempo, a questionar-se sobre o que poderia ter sido. Mas o facto de não sentir raiva ou arrependimento intenso mostra a maturidade de quem encara a derrota como parte de um caminho, não como um erro definitivo.

Uma despedida com honra

Embora a derrota açambarque grande parte da atenção, a noite foi também marcada pela dignidade da partida. Quitar do relvado com a cabeça erguida, carregar nas costas a exaustão, mas sentir que deu tudo — é assim que Borges se despede de Wimbledon este ano.

Agora regressa para casa, após uma campanha que o projeta para outro patamar — não só pela qualidade do ténis, mas pelo modo como lidou com pressão, com história e com si próprio. Foi uma derrota, sim. Mas não uma cedência — antes um sinal de até onde pode ir.

E o leitor?

O leitor como se sentiu? Também sentiu o coração apertar com esta derrota tão próxima da glória? Acredita que este é apenas o início da jornada de Nuno Borges rumo às grandes conquistas?

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