Francisco Cabral eliminado na segunda ronda de Wimbledon

                                                                        Por António Vieira Pacheco
Portuense diz adeus a Wimbledon na segunda ronda.
Créditos: Direitos Reservados. Portuense travado na Catedral por checos,


Sob o olhar atento do mítico All England Club, Francisco Cabral voltou a sentir o peso de uma eliminação que já se repete por quatro anos consecutivos em Wimbledon. Desta vez, o português não esteve sozinho na luta; partilhou o campo com o austríaco Lucas Miedler, formando uma dupla que, apesar de esforços notáveis, acabou por cair diante dos jovens checos Petr Nouza e Patrik Rikl.

O encontro desta sexta-feira não foi somente mais um jogo, foi um capítulo onde a memória e a emoção se entrelaçaram com o desporto. Antes do primeiro serviço, Cabral exibiu um pequeno laço negro na manga esquerda do seu equipamento, um gesto simples, mas carregado de significado: uma homenagem silenciosa e respeitosa a Diogo Jota, o futebolista português que, num triste acidente rodoviário, faleceu ontem, com o irmão André Silva.

Um jogo de emoções e desafios

O dia começou com uma atmosfera carregada de simbolismo. Cabral e Miedler, respetivamente 40.º e 47.º no ‘ranking’ mundial de pares, entraram em court com a responsabilidade de continuar o caminho aberto no All England Club, um palco que todos os tenistas ambicionam conquistar. Após uma estreia vitoriosa, onde a confiança parecia florescer, a dupla portuguesa-austríaca encontrou nos checos Nouza e Rikl, ambos a ocupar a 65.ª posição, adversários fortes e determinados.

O jogo teve o ritmo acelerado dos encontros de alta competição, onde cada ponto é uma batalha de nervos e técnica. No primeiro ‘set’, os checos aproveitaram algumas falhas da dupla lusa e impuseram um 6-3 que pesou no espírito de Cabral e Miedler. Porém, a segunda partida trouxe um crescendo de intensidade e emoção. O equilíbrio esteve presente em cada jogo, até que o desfecho se resolveu num tiebreak sufocante, onde Cabral e Miedler lutaram até ao último ponto, chegando mesmo a dispor de dois ‘set’ points que, infelizmente, não conseguiram concretizar.

A sombra de uma final que foi e não será

Este duelo não foi inédito. No passado mês de abril, em terras portuguesas, Cabral e Miedler venceram precisamente Nouza e Rikl nas meias-finais do Millennium Estoril Open, num jogo memorável que anunciava uma dupla com potencial para deixar marca. Agora, no relvado britânico, a história parecia repetir-se num duelo tenso, quase épico, onde o desfecho só poderia ser decidido por detalhes ínfimos.

Apesar da derrota, a capacidade de resistir e criar oportunidades de vitória numa arena tão exigente como Wimbledon confirma o valor e a persistência de Cabral e Miedler, que deixam o torneio com a certeza de terem dado tudo em cada ponto.

Um tributo além do desporto

Porém, mais do que a partida em si, foi o gesto de Cabral que ficou gravado na memória dos que assistiram. O laço negro na manga esquerda do seu equipamento não passou despercebido. A organização do All England Club, conhecida pela rigidez do seu código de vestuário que exige o branco dos tenistas, abriu uma exceção para permitir esta singela homenagem.

Diogo Jota, um dos nomes mais brilhantes do futebol português, havia falecido apenas no dia anterior, num acidente de viação que chocou o país e o mundo do desporto. Cabral, natural do Porto, partilhou não só as cores nacionais como Jota, mas também a dor da perda, manifestando-a com delicadeza e respeito no centro do court 5.

O legado e os próximos passos dos portugueses em Wimbledon

Com a saída de Cabral, a responsabilidade de manter a chama portuguesa acesa em Wimbledon passou para Nuno Borges. O português, que tem surpreendido pelo seu desempenho e pela capacidade de ultrapassar adversários de grande calibre, prepara-se para a terceira ronda de singulares frente ao russo Karen Khachanov, um duelo que promete muita intensidade e que poderá representar mais um marco para o ténis nacional.

Além disso, Borges também se prepara para competir na segunda ronda de pares, desta vez ao lado do norte-americano Marcos Giron. A esperança de uma forte representação portuguesa permanece viva, alimentada por jogadores que honram o país e a sua história, dentro e fora dos courts.

A eliminação do natural do Porto em Wimbledon, embora dolorosa, ficou marcada por algo maior que o resultado desportivo. Ficou a imagem de um atleta que, num momento de máxima exposição mundial, não esquece as suas raízes e a tragédia que abalou Portugal. Um gesto que transcende o desporto e fala à humanidade, à solidariedade e ao respeito pela vida.

No fim, é este o verdadeiro espírito que torna o All England Club não só um templo do ténis, mas um palco onde as histórias humanas se cruzam, onde o suor e a emoção se encontram, e onde a memória se perpetua com a mesma força que se luta por um ponto.

 

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