Nuno Borges e o murmúrio da história em Wimbledon

                                                         Por António Vieira Pacheco

Lidador torna-se o primeiro português a chedar à terceira ronda em todos os Majors.
Créditos: Direitos Reservados. Lidador festeja o acesso à terceira ronda na Catedral do ténis.

Uma vitória sem barulho, mas com peso histórico

Há feitos que não fazem barulho, mas que ecoam longe. No silêncio respeitoso dos courts de Wimbledon, onde a tradição se entrelaça com a modernidade, Nuno Borges deu mais um passo firme rumo à história do ténis português. Dois dias após conquistar a sua primeira vitória na relva sagrada do All England Club, o tenista maiato voltou a vencer — e com isso tornou-se no primeiro português de sempre a alcançar a terceira ronda nos quatro torneios do Grand Slam.

Serenidade e eficácia nos momentos decisivos

A façanha foi selada com uma exibição de maturidade, inteligência e serenidade competitiva. Borges, atualmente 37.º no ‘ranking’ ATP, superou o britânico Billy Harris (151.º) com os parciais de 6-3, 6-4 e 7-6 (7), num encontro que se prolongou por duas horas e 30 minutos. Apesar de enfrentar mais pontos de break do que o adversário (nove no total), Borges revelou uma notável frieza nos momentos críticos — especialmente no tiebreak do terceiro parcial, onde salvou dois ‘sets’ points consecutivos antes de fechar o encontro.

Um feito inédito no ténis português

Com esta vitória, Borges inscreve o seu nome na história como o primeiro português a atingir pelo menos a terceira ronda em todos os quatro Majors — Wimbledon, Roland Garros, US Open e Australian Open. Um feito que atesta não somente a sua consistência competitiva, mas também o trabalho meticuloso e discreto que tem desenvolvido ao longo dos últimos anos.

Já este ano, em Roland Garros, havia atingido a mesma fase. Em 2023, fê-lo no US Open. E, em 2022, já o havia conseguido na Austrália. Agora, completa o ciclo com a relva de Wimbledon como pano de fundo.

O seu estilo, discreto, mas elegante, combina bem com o espírito de Wimbledon. Não há exuberância gratuita. Nem há gestos teatrais. Borges baseia o seu jogo na solidez, na leitura do adversário e na capacidade de manter a compostura em momentos de pressão. Essa abordagem, que privilegia a inteligência posicional e a consistência, torna-o particularmente perigoso em jogos longos — como ficou claro esta quarta-feira.

O desafio seguinte: Karen Khachanov

Na terceira ronda, o português enfrentará um novo teste de grande exigência. Do outro lado estará o russo Karen Khachanov, número 20 mundial e semifinalista de Grand Slam. O natural de Moscovo, de 29 anos, chega à ronda seguinte depois de uma batalha a cinco ‘sets’ frente ao japonês Shintaro Mochizuki (144.º), num jogo de alta intensidade física.

Será uma oportunidade para o Lidador medirá forças com um jogador habituado aos grandes palcos. Mas será também um momento para continuar a mostrar que pertence a este patamar.

Um exemplo silencioso para o ténis nacional

Aos 28 anos, Borges é já uma referência para o ténis português. A sua trajetória, feita de etapas bem construídas, sem pressas nem atalhos, é exemplo de como o sucesso se alcança com dedicação, paciência e uma profunda ligação ao jogo. O seu percurso, entre os estudos nos Estados Unidos e a ascensão no circuito ATP, inspira jovens atletas e reforça a importância de acreditar num projeto a longo prazo.

Um momento para saborear

No final da partida, Borges não celebrou com euforia. Atirou o boné para relva. A sua expressão era serena, como quem reconhece o valor do momento, mas sabe que o caminho continua. Esse equilíbrio entre ambição e humildade é, talvez, o traço que melhor define a sua presença em court.

Portugal pode orgulhar-se: o ténis nacional tem agora um nome que ressoa nos quatro cantos do mundo do Grand Slam. E mesmo que a caminhada em Wimbledon termine brevemente, a marca portuguesa já ficou gravada — discreta, firme e histórica.

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