Nuno Borges vence e faz história: Portugal conquista Wimbledon

                                                         Por António Vieira Pacheco

Triunfo histórico para o Lidador em Wimbledon.
Créditos: Raquetc. Nuno Borges festeja a primeira vitória em Wimbledon.

Um dia para nunca esquecer

Nuno Borges (37.º ATP) jamais esquecerá esta segunda-feira quente em Londres. Num daqueles dias em que o destino parece querer escrever uma nova página, o tenista português superou o argentino Francisco Cerúndolo (19.º) por 4-6, 6-3, 7-6 (5) e 6-0, celebrando, com alma e raquete, a primeira vitória da carreira no quadro principal de Wimbledon.

É mais do que um simples triunfo. É uma afirmação. Um cortejo de talento português no templo da relva.

Dois anos depois, a vingança chegou com elegância

O reencontro entre Borges e Cerúndolo carregava história. Em 2023, haviam medido forças no mesmo palco, e o português esteve perto de consumar uma reviravolta quando… escorregou. Literalmente. A chuva, a interrupção e, depois, o azar tiraram-lhe o tapete — e o lugar na segunda ronda.

Desta vez, sob um céu limpo e com o calor a rondar os 32 graus, o cenário foi outro. A relva manteve-se seca e os pés firmes. E o que antes foi lamento, tornou-se redenção. Nuno Borges vingou a memória do que podia ter sido, num duelo onde foi a crescer de ‘set’ para ‘set’, até dominar por completo um top 20 mundial.

A arte da reviravolta e o triunfo mental

Após ceder o primeiro ‘set’, Borges demonstrou o que faz dos grandes jogadores algo mais do que técnica: a capacidade de resistir, ajustar e vencer. No segundo parcial, elevou o nível. No terceiro, revelou nervos de aço ao triunfar num tiebreak tenso e no quarto, ofereceu uma aula de supremacia com um inapelável 6-0. 

Não foi só físico. Foi mental. Foi tático. E, sobretudo, foi coração. No final ajoelhou-se e baixou a cabeça em direção da relva para celebrar o triunfo.

O Grand Slam de vitórias

Com este resultado, Borges torna-se somente o segundo português da história a vencer pelo menos um encontro no quadro principal de singulares de cada torneio do Grand Slam — Australian Open, Roland Garros, US Open… e agora Wimbledon.

Aos 28 anos, o maiato completa assim um círculo nobre que poucos conseguem fechar. Não é apenas uma conquista pessoal. É também um símbolo de maturidade desportiva e uma bandeira portuguesa fincada nos grandes palcos do ténis mundial.

Frente a frente com o futuro

Na próxima ronda, agendada para quarta-feira, o Lidador defrontará o vencedor do confronto entre o britânico Billy Harris (151.º) e o sérvio Dusan Lajovic (118.º), um experiente ex-top 25 mundial. Independentemente do adversário, o português chega com confiança renovada, corpo leve e mente firme.

Wimbledon já não é um mistério por decifrar — é agora um palco onde se pode sonhar mais alto.

Esta foi a quarta vitória do ano e a sétima da carreira frente a jogadores dentro do top 20. Um dado estatístico que revela consistência e ambição. Borges está, definitivamente, a habituar-se aos grandes duelos. E a ganhar.

Mais do que um momento isolado, esta vitória inscreve-se numa curva ascendente. Um passo maduro e um sinal de que há mais capítulos por escrever.

Um português original, verdadeiro

Borges joga com o que tem e o que é: um português genuíno, trabalhador, discreto e determinado. Não levanta poeira desnecessária, mas quando pisa o court, fá-lo com firmeza e elegância. A sua raquete, mesmo quando silenciosa, fala alto.

E quando vence, há uma beleza humilde no seu sorriso. Um brilho que não pede manchetes, mas que as merece.

Herança que fica

Wimbledon tem esta magia: quando se vence ali, não se leva apenas um resultado, leva-se uma memória imortal. A recordação de um dia em que o ténis português subiu mais um degrau. A de um jogador que já há muito tempo não é promessa, mas presença sólida e ambiciosa.

O português continuará a escrever a sua história. Para já, ficam as pegadas frescas naquela relva sagrada. E a certeza de que, em cada pancada certeira, há um país inteiro a bater palmas — mesmo em silêncio.

 

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