Portugal brilha em Roehampton: Rocha e Faria avançam rumo a Wimbledon

                                                             Por António Vieira Pacheco

Canhão do Jamor não encravou na estreia do qualifying de Wimbledom.
Créditos: Mateusz Mecik. Jaime Faria junta-se a Henrique na segunda do qualifying de Wimbledon.

Portugueses estreiam-se com vitórias sólidas na relva britânica e alimenta o sonho de entrar no quadro principal do torneio mais tradicional do ténis mundial.

O verde sagrado dos courts de relva de Roehampton, onde a tradição de Wimbledon começa a ganhar forma, foi hoje palco de uma jornada memorável para o ténis português. Henrique Rocha e Jaime Faria protagonizaram vitórias convincentes na primeira ronda da fase de qualificação para o terceiro Grand Slam do ano. Com talento, confiança e determinação, os dois jovens lusos reforçaram a esperança nacional num feito raro: ver dois portugueses a atravessar com sucesso o difícil trilho do qualifying até ao All England Club.

Se para Rocha (158.º ATP) o ambiente já era familiar — foi neste mesmo cenário que, há um ano, registou a sua primeira vitória da carreira em torneios do Grand Slam —, para Faria (117.º) o momento revestiu-se de um simbolismo especial. O lisboeta não só carimbou a estreia vitoriosa na relva de Wimbledon como também assinalou o primeiro triunfo da carreira em qualquer fase de qualificação de um Major, riscando o seu nome como o 11.º português a vencer no templo da relva britânica.

Primeiro a entrar em ação, Henrique Rocha mostrou frieza competitiva e solidez tática para ultrapassar o boliviano Murkel Alejandro Dellien Velasco (223.º ATP) por 6-3 e 6-1. 

Jaime Faria vinga 2024

Mais tarde, foi a vez de Faria subir ao court e dar continuidade ao embalo nacional. O adversário era exigente: Zsombor Piros (160.º), húngaro experiente e com currículo sólido. Ainda assim, Faria não se deixou intimidar. Depois de uma entrada hesitante, ajustou rapidamente o seu jogo, encontrou o ritmo certo e desenhou uma vitória expressiva por 6-4 e 6-2, construída com dois breaks em cada parcial e uma notável consistência nas trocas de fundo.

O triunfo é carregado de simbolismo: há exatamente um ano, foi Henrique Rocha quem o derrotou logo na ronda inaugural do qualifying, adiando o seu sonho de triunfar em Wimbledon. Hoje, o lisboeta de 21 anos quebrou esse enguiço, assinando um capítulo novo na sua jovem carreira e demonstrando que o ténis português está a viver uma das suas fases mais promissoras.

Com esta vitória, o Canhão do Jamor torna-se apenas o segundo português a vencer um encontro de qualificação em Wimbledon sem nunca ter jogado o quadro principal, ao lado do feito de Frederico Gil em 2009. É também a segunda vez na história, depois de 2022, que dois portugueses vencem na mesma edição da fase de qualificação deste torneio mítico.

Rumo à segunda ronda: o desafio continua

Com a missão inicial cumprida, os dois portugueses voltam a entrar em ação na quarta-feira, com os olhos postos na ronda final do qualifying — o passaporte para o quadro principal.

O lisboeta medirá forças com o argentino Marco Trungelliti (152.º ATP), adversário experiente e conhecido pelas suas exibições combativas em torneios do circuito Challenger. Faria sabe que terá de manter a intensidade e a solidez para conseguir ultrapassar um rival habituado a jogos longos e de elevado desgaste mental.

Henrique Rocha terá um reencontro com Tomas Barrios Vera, um nome familiar no seu percurso recente. Vencê-lo novamente poderá não ser tarefa fácil, mas o historial recente dá confiança ao portuense, que parece cada vez mais confortável em palcos exigentes.

Relva, sonhos e história

Wimbledon não é apenas mais um torneio. É um local onde a mística do ténis se eleva, onde cada ponto carrega tradição, e onde os feitos ganham dimensão histórica. Para Rocha e Faria, a relva de Roehampton é a primeira página do sonho, o primeiro toque nas portas de um templo reservado aos grandes nomes da modalidade.

Com os olhos postos em Londres, os dois jovens portugueses transportam consigo a ambição de uma geração que quer mais do que participar — quer deixar marca. Seja qual for o desfecho, hoje já ficou registado como um momento de afirmação. Portugal voltou a ser falado em Wimbledon, e isso, por si só, já é uma vitória.


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