Tiago Pereira e o ponto que faltou à história
Por António Vieira Pacheco
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Créditos: Algarvio quase vencia um ‘set’ a um top 100 mundial. |
No Complexo de Ténis do Jamor, entre
nuvens errantes e calendários desfeitos pela chuva, escreveu-se mais um
capítulo do velho romance entre o ténis português e o
infortúnio: 16 derrotas em singulares na primeira ronda do qualifying e
quadro principal, entre homens e mulheres. Uma tragédia que parece escrita a
quatro mãos por Eça de Queiroz e Luís Vaz de Camões, com raquetas em vez de penas.
Mas nem tudo foi desalento. Houve um
lampejo. Um quase milagre no vale do Jamor.
Tiago Pereira, sétimo melhor português do
‘ranking’ e 413.º na hierarquia mundial, enfrentou o veterano Dusan
Lajovic (97.º ATP), antigo top-25 e finalista em Monte Carlo.
No Court 14 do Jamor, Pereira não se encolheu. Após um primeiro ‘set’
dominado pelo sérvio (6-2), o jovem algarvio de 20 anos adaptou-se ao ritmo
traiçoeiro e inteligente de Lajovic — feito de slices venenosos e aberturas de
ângulo subtis — e chegou a liderar por 4-2 no segundo parcial. Dispôs
mesmo de um ‘set’ point a 6-5. Mas foi Lajovic quem, com frieza balcânica,
anulou o perigo e depois venceu os sete pontos do tiebreak sem
misericórdia: 7-6(0).
Foi, talvez, a mais poética das
derrotas. Mas não a única. Ao todo, foram 16 os portugueses
eliminados na primeira ronda de singulares. Um número que assusta, mas que
no contexto nacional já começa a soar familiar. Ainda assim, nem tudo está
perdido: ainda há dois portugueses por estrear na variante de singulares
do Oeiras Open Challenger 125, adiados pela chuva e pela reestruturação do
calendário. Duas esperanças adiadas, mas não anuladas.
E há mais. O filho de Pedro
Pereira permanece em competição nos pares, ao lado de Gastão
Elias, e poderá ainda regressar ao court esta quarta-feira — se o céu deixar.
O ténis português resiste.
Entre derrotas e adiamentos, há sempre uma pancada que promete mais do que
entrega, e um talento que teima em florescer à sombra das estatísticas. E quem
sabe se não será um desses dois encontros ainda por disputar que o feitiço se
quebra.
Por ora, o Jamor ecoa nomes, quedas e
promessas por cumprir. Mas enquanto houver raquetes e vontade, ainda há
história para escrever — mesmo que comece com uma derrota e termine com
reticências.
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