Calderano e a nova era do ténis de mesa

                                                                    Por António Vieira Pacheco
Créditos: Direitos Reservados. Hugo Calderano fala da crise que abalou o ténis de mesa chinês.

A recente conquista de Calderano na Taça do Mundo de ténis de mesa não foi somente um título inédito para o Brasil e para o Continente Americano — foi um verdadeiro terramoto no desporto. 

Pela primeira vez desde 2018, um atleta não chinês conquistou o troféu, e em território chinês, algo que não acontecia há 23 anos. 

As ondas de choque foram imediatas: Liu Guoliang, presidente da Federação Chinesa de Ténis de Mesa e figura lendária da modalidade, renunciou ao cargo. A crise estava instalada.

Mas será o fim da supremacia chinesa?

Hugo Calderano: “Ainda são os melhores”

Com a calma e a clareza de quem fez história, o brasileiro recusa-se a entrar em euforias. Para ele, os chineses continuam a ser o farol do ténis de mesa mundial:

“Eles ainda são os melhores, acho que ainda vão continuar a ser, mas é ótimo ver por vezes os chineses serem derrotados ou pelo menos desafiados por outros atletas.”

É um reconhecimento humilde, mas carregado de esperança. O número três do mundo sabe o peso do que conquistou, mas olha para o futuro com realismo e confiança.

O mundo encurta distâncias

A evolução da modalidade fora da China é visível e, segundo Calderano, irreversível. A diferença entre os melhores jogadores do mundo está mais curta, e o nível competitivo cresceu exponencialmente:

“Se olhamos oito ou dez anos atrás, tinha ali uns quatro atletas que podiam fazer frente aos chineses… Agora tem ali dez, quinze atletas. Às vezes vê-se um atleta situado no 40.º lugar mundial a vencer um chinês de topo.”

Este alargamento da elite mundial representa um novo capítulo no ténis de mesa. É a promessa de um desporto mais aberto, mais global, mais imprevisível. E o sul-americano é um dos protagonistas desta nova narrativa.

A crise interna e a pressão popular!

A queda de Liu Guoliang, uma figura omnipresente no ténis de mesa chinês — ex-jogador, ex-treinador, dirigente máximo — não foi somente simbólica. 

E a sua saída ocorreu num contexto de pressão crescente após os resultados nos Jogos Olímpicos de Paris e, agora, com a vitória de Calderano.

Na rede social Weibo, a etiqueta “O ténis de mesa chinês precisa refletir” explodiu em popularidade, com milhões de interações. A nação, acostumada ao domínio absoluto, exige mudanças.

Calderano, com elegância, reconhece o impacto:

“Não sei se é exatamente uma coisa que aconteceu devido ao meu resultado, mas é muito interessante... Espero que o meu título abra mais as portas para atletas de fora da China.”

Um novo horizonte

O ténis de mesa entra, assim, numa fase de transição. Ainda sob o olhar atento da China, mas com cada vez mais protagonistas a desafiar o roteiro habitual. O brasileiro não apenas venceu — ele simbolizou uma viragem.

E talvez seja esse o maior feito: mostrar ao mundo que o impossível pode acontecer. Que a hegemonia pode ser questionada. Que o talento, o trabalho e a ousadia podem, sim, mudar a história.


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