Calderano e a nova era do ténis de mesa
![]() |
Créditos: Direitos Reservados. Hugo Calderano fala da crise que abalou o ténis de mesa chinês. |
A recente conquista de Calderano na Taça do Mundo de ténis de mesa não foi somente um título inédito para o Brasil e para o Continente Americano — foi um verdadeiro terramoto no desporto.
Pela primeira vez desde 2018, um atleta não chinês conquistou o troféu, e em território chinês, algo que não acontecia há 23 anos.
As ondas de choque foram imediatas: Liu Guoliang,
presidente da Federação Chinesa de Ténis de Mesa e figura lendária da
modalidade, renunciou ao cargo. A crise estava instalada.
Mas será o fim da supremacia chinesa?
Hugo Calderano: “Ainda são os
melhores”
Com a calma e a clareza de quem fez
história, o brasileiro recusa-se a entrar em euforias. Para ele, os chineses
continuam a ser o farol do ténis de mesa mundial:
“Eles ainda são os melhores, acho que
ainda vão continuar a ser, mas é ótimo ver por vezes os chineses serem
derrotados ou pelo menos desafiados por outros atletas.”
É um reconhecimento humilde, mas
carregado de esperança. O número três do mundo sabe o peso do que conquistou,
mas olha para o futuro com realismo e confiança.
O mundo encurta distâncias
A evolução da modalidade fora da
China é visível e, segundo Calderano, irreversível. A diferença entre os
melhores jogadores do mundo está mais curta, e o nível competitivo cresceu
exponencialmente:
“Se olhamos oito ou dez anos atrás,
tinha ali uns quatro atletas que podiam fazer frente aos chineses… Agora tem
ali dez, quinze atletas. Às vezes vê-se um atleta situado no 40.º lugar mundial a vencer um chinês
de topo.”
Este alargamento da elite mundial
representa um novo capítulo no ténis de mesa. É a promessa de um desporto mais
aberto, mais global, mais imprevisível. E o sul-americano é um dos protagonistas
desta nova narrativa.
A crise interna e a pressão popular!
A queda de Liu Guoliang, uma figura omnipresente no ténis de mesa chinês — ex-jogador, ex-treinador, dirigente máximo — não foi somente simbólica.
E a sua saída ocorreu num contexto de
pressão crescente após os resultados nos Jogos Olímpicos de Paris e, agora, com
a vitória de Calderano.
Na rede social Weibo, a etiqueta “O
ténis de mesa chinês precisa refletir” explodiu em popularidade, com
milhões de interações. A nação, acostumada ao domínio absoluto, exige mudanças.
Calderano, com elegância, reconhece o
impacto:
“Não sei se é exatamente uma coisa
que aconteceu devido ao meu resultado, mas é muito interessante... Espero que o meu título abra mais as portas para atletas de fora da China.”
Um novo horizonte
O ténis de mesa entra, assim, numa
fase de transição. Ainda sob o olhar atento da China, mas com cada vez mais
protagonistas a desafiar o roteiro habitual. O brasileiro não apenas venceu — ele
simbolizou uma viragem.
E talvez seja esse o maior feito:
mostrar ao mundo que o impossível pode acontecer. Que a hegemonia pode ser
questionada. Que o talento, o trabalho e a ousadia podem, sim, mudar a
história.
Comentários
Enviar um comentário
Críticas construtivas e envio de notícias.