Com as fichas viradas para Monte Carlo
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Créditos: ATP. Que piso é este? Talvez se questionou o Lidador. |
Nuno Borges, número um português e 43.º no
‘ranking’ mundial, deu hoje um passo em falso nos quartos de final do ATP 250
de Marraquexe, em Marrocos, num encontro que, certamente, será recordado como
um dos mais incomuns da sua carreira. Aos 28 anos, o tenista da Maia
entregou-se ao desafio contra o espanhol Roberto Carballes Baena, campeão da
prova em 2023 e finalista em 2024, mas a sua luta, que terminou com uma derrota
por um duplo 6-4, ecoou como uma sucessão de oportunidades perdidas,
deixando-lhe uma derrota amarga profundamente gravada na memória.
A partida, com mais de uma hora e
meia de intensas trocas de bola, foi marcada por uma sucessão de erros não
forçados, que se tornaram quase uma constante. O Lidador, que parecia ter o
controlo nas suas mãos, viu-se subitamente refém de uma superfície de jogo
traiçoeira, o piso irregular de Marraquexe, que parecia desafiar a sua vontade.
De nada valeu a sua determinação inquebrável em impor-se. O número de break
points foi, por si só, algo inusitado: 17 tentativas, das quais somente duas
foram convertidas. No segundo ‘set’, um dado cruel: 11 oportunidades de quebra
de serviço desperdiçadas das 12 possíveis. O desenlace foi inesperado, até
surreal, e ambos os breaks sofridos chegaram, como que em nota dissonante, por
duas duplas faltas consecutivas, como um peso que caiu com estrondo sobre a sua
confiança.
A sua exibição, apesar de alguns
lampejos de brilho, foi marcada por uma irregularidade difícil de ignorar. Com
31 winners, os números são ótimos, mas o reverso da medalha surgiu na forma de
uma enxurrada de erros não forçados — 48, para ser exato. Não há memória de
tantos erros não forçados num encontro de somente dois ‘sets’ para o Lidador. O
serviço, uma das suas principais armas, revelou-se um campo minado, com
percentagens de sucesso demasiado baixas do que habitual. Ao longo da
temporada, Borges tem sido implacável no serviço, com 112 ases
em 20 encontros, uma média impressionante de 5,6 por partida.
Em Marraquexe, cometeu erros incomuns
no seu jogo, com Carballes Baena a aproveitar as falhas com a solidez e
resistência de um veterano da terra batida. Basta olhar para as estatísticas
para perceber o acerto do espanhol. O adversário, igualmente, não se deixou
impressionar, agarrando-se ao jogo com a mesma determinação que torna o seu
estilo tão difícil de ultrapassar.
O português, com a sua força e
coragem de sempre, parte agora para o ATP Masters 1000 de Monte Carlo, onde
fará a sua estreia, como se o horizonte de Marrocos tivesse ficado para trás,
uma página virada. E, embora o palco seja novo, o desafio permanece — mas
também a esperança de que, ao recomeçar, consiga encontrar o equilíbrio
entre os acertos e os erros, como se dançasse com a própria superfície. Quem
sabe, talvez consiga fazer o inesperado acontecer, com o toque delicado de quem
sabe que a perfeição é um jogo que se constrói gradualmente.
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