Madeira vs borracha: O segredo da raquete no Ténis de Mesa

 🖋️Por: António Vieira Pacheco

📸 Créditos: Direitos Reservados

⏱️ Tempo de leitura: 5 minutos

O material de ténis de mesa.
Sem o material ilustrado na foto, os jogadores de ténis de mesa não podiam brilhar.

A dança do material na era moderna

Há algo de quase musical no ténis de mesa. É o estalar breve da bola na madeira, o sussurro elástico da borracha, o deslizar seco das sapatilhas enquanto dois jogadores orbitam a mesa. É um diálogo de precisão que roça o instinto.

Durante décadas, essa música teve um maestro absoluto: a Butterfly.
As suas madeiras de prestígio e borrachas lendárias — Tenergy, Bryce, Sriver — definiram um dogma silencioso: quem queria jogar ao mais alto nível tinha de empunhar uma Butterfly.

Hoje, esse cenário mudou.

O Fim do dogma

o Mundo após a Tenergy

As borrachas Tenergy.
As borrachas Tenergy estavam na moda há uma década.

Quinze anos depois, a paisagem do ténis de mesa transformou-se. Não foi um abalo súbito. Foi uma maré que subiu devagar, até que, quando voltámos a olhar, a praia já era outra.

O top 10 mundial tornou-se um mosaico colorido: Yasaka, Tibhar, Donic, DHS, Stiga, Nittaku, Xiom.

Cada marca traz a sua própria visão de como deve ser jogar ao mais alto nível.

Entre os jogadores comuns — os de clube, os de distrito, os apaixonados — a reação é curiosa. Alguns dizem sentir diferenças; outros encolhem os ombros. A verdade é que, para muitos, as ‘nuances’ entre borrachas e madeiras são subtis demais para serem captadas sem anos de treino rigoroso.

Como as outras marcas

recuperaram terreno

As borrachas para colarem na madeira.

A supremacia da Butterfly começou a desvanecer quando o jogo mudou.
A transição da bola de celuloide para a de plástico alterou tudo: menos ‘spin’, mais potência, trajetórias diferentes.

O ténis de mesa tornou-se mais físico e mais agressivo.

Marcas como DHS, Tibhar, Xiom e Yasaka perceberam rapidamente a oportunidade. As suas séries Hurricane, Evolution, Omega, Rakza e Bluefire trouxeram respostas concretas às novas exigências do jogo.

O inevitável tornou-se opcional. O dogma ruiu.

Madeiras: da arte à engenharia

As madeiras continuam a ser o coração da raquete.
As clássicas, como a Stiga Allround Classic ou a Nittaku Acoustic, mantêm o seu toque quente e orgânico — madeiras que parecem respirar com o jogador.

Mas o ténis de mesa moderno precisa de mais:
rigidez sem perder controlo, velocidade sem perder precisão.

É aqui que entram os compósitos: carbono, arylate, zylon, fibras híbridas que dão às madeiras um comportamento quase matemático.

A Butterfly continua pioneira com a Viscaria, Timo Boll ALC e Super ZLC.
Mas Xiom, Tibhar e DHS já falam a sua própria linguagem tecnológica.

O jogador comum, porém, raramente capta estas diferenças — e não precisa de o fazer.

Borrachas: A camada oculta

que define o jogo

Se a madeira é o coração, a borracha é a alma da raquete.

Hoje, são verdadeiras máquinas de energia em miniatura: esponjas tensionadas, topsheets elásticos, combinações moleculares desenhadas para devolver a força com precisão.

Cada marca tenta equilibrar:

  • ‘Spin’ — mordida da bola
  • Velocidade — potência natural
  • Controlo — segurança nos ângulos
  • Arco — mais direto ou mais alto
  • Sensação — dura, média ou macia

Para profissionais, estas ‘nuances’ são claras.
Para amadores, nem tanto.

Um treinador veterano disse uma vez:

“Não é a borracha que faz o jogador. É o jogador que dá vida à borracha.”

A tecnologia avança, mas o toque humano continua a ser a grande variável.

Topo para Todos: A Democratização Silenciosa

O ténis de mesa sempre foi terreno de experimentação.
Uns trocam de borracha todos os meses; outros usam a mesma madeira durante dez anos.

Hoje, o topo mundial deixou de ter uma só marca dominante.
Chineses brilham com DHS, europeus com Tibhar, japoneses com Nittaku e Butterfly, coreanos com Xiom — e todos chegam ao topo.

As marcas deixaram de ser destino.
Passaram a ser linguagens.
E cada jogador fala a sua.

Vários atletas em ação num pavilhão.
Vários atletas com diversos materiais de jogo.

Como o jogador comum vê o material

Profissionais descrevem as suas escolhas com precisão quase científica:

  • arco do ‘top’ ‘spin’
  • vibração
  • contacto da bola
  • esponja
  • receção curta
  • counter-loop

Amadores respondem com simplicidade:

Controlo melhor.”

“Dá-me segurança.”

“A bola sai direitinha.”

“Não vibra tanto.”

Ambas as formas de ver o material são legítimas.
A sensibilidade nasce do treino — não da marca impressa.

O futuro: mais tecnologia, 
a mesma essência

O ténis de mesa vai continuar a evoluir.
Novas borrachas, madeiras reforçadas, fibras futuristas, talvez até formatos inéditos.

Mas a essência será sempre a mesma:
dois jogadores, uma mesa, uma bola — um diálogo de reflexos, intenção e criatividade.

O material é somente a caneta.

Quem escreve a poesia do movimento é sempre o jogador.

Entre o mito e a realidade

Há quinze anos, a Butterfly reinava sozinha. Hoje, o reino é plural.

As madeiras e borrachas tornaram-se mais complexas e mais acessíveis. As poucas vantagens existem, mas o jogador comum nem sempre as capta.

E talvez seja isso que torna o ténis de mesa tão especial: a fusão entre ciência e sensação, tecnologia e talento, material e alma.

A mesma pequena bola branca — agora de plástico — continua a traçar parábolas impossíveis sobre o azul da mesa.

O desejo de seguir, compreender e dominar permanece intacto.

No fim, é esse pequeno gesto circular, quase poético, que move jogadores, marcas e gerações inteiras.

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