Portugal faz história em Ostrava com seis medalhas no Europeu de Ténis de Mesa

                                                                    Por António Vieira Pacheco

Depois da prata, chegou o bronze, faltando conhecer a cor das outras duas medalhas.
Créditos: FPTM. A segunda medalha de Tiago Abiodun no Europeu de Sub-19 é de bronze.

O som das medalhas e a exceção de Ostrava

Há tardes em que o desporto deixa de ser somente competição e se transforma numa sinfonia. E neste sábado, em Ostrava, as superfícies de jogo de ténis de mesa deixaram de ser somente palcos de embates para se tornarem instrumentos de algo maior: Portugal tocou notas de bronze numa partitura que será lembrada como um hino ao talento, à persistência e à juventude.

Portugal conquistou mais três medalhas no Campeonato da Europa de Jovens, elevando para seis o total alcançado até agora — e talvez ainda não tenhamos ouvido o último acorde. Em Ostrava, cidade industrial e discreta, ouviu-se algo novo: o som claro e ritmado de um país a erguer-se, ponto a ponto, até à eternidade de uma página de ouro no ténis de mesa europeu.

E há dias, aconteceu o improvável: o Presidente da ETTU, homem de discursos contidos e protocolos rigorosos falhou, abriu uma exceção pública para falar de Matilde Pinto. Não era hábito, mas 'era Matilde' proferiu. Pela sua coragem, pela sua leveza firme, ele desviou-se do guião e concedeu-lhe palavras de reconhecimento. Foi um gesto raro — como um maestro que, em pleno andamento da orquestra, suspende a batuta para destacar um solo improvável.

Créditos: FPTM. Tiago Abiodun nas meias-finais.

Agora, o palco voltou a erguer-se, desta vez com ainda mais brilho. 

Abiodun, com quatro medalhas em quatro frentes, lidera uma geração que escreve em Ostrava uma das páginas mais douradas da história do ténis de mesa português.

Portugal totaliza seis medalhas, sinal de um movimento, de um futuro a acender-se.

Que o Presidente, antigo líder da FPTM durante 12 anos, encontre de novo essa centelha de exceção, e fale também do Tiago. Porque o que nasce em Portugal já não cabe no silêncio diplomático da Europa. Precisa de eco. Precisa de palco. E merecia, no mínimo, mais uma vez, a sua voz. Abriu a porta...

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Tiago Abiodun, o menino que sonha de raquete na mão!

Na vanguarda desta epopeia está Abiodun, um nome que já sê famoso, somente de aplauso. O jovem prodígio português, com raízes africanas, garantiu a presença nas meias-finais de singulares e pares masculinos, depois de já ter conquistado o bronze em pares mistos e a prata por equipas. Cada ponto jogado parece carregar uma frase inteira de uma história que ele escreve com precisão e alma.

Abiodun sonha com o título europeu de singulares.
Créditos: FPTM, A estrela lusa em Ostrava.

Quatro competições. Quatro medalhas. Um atleta que joga como se estivesse a pintar um quadro. As vitórias sobre Nathan Lam (4-2), Luca Khidasheli (4-1) e Stepan Brhel (4-1) não foram apenas encontros vencidos — foram peças de um mural onde se vê crescer um campeão com a firmeza dos grandes e a leveza dos raros.

Em pares masculinos, ao lado do romeno Iulian Chirita, Abiodun continua a sua viagem. Venceram os croatas Leon Benko/Ivan Hencl por 3-2, com a maturidade de quem joga de olhos postos no horizonte. Seguem agora contra os polacos Rafal Formela/Alan Kulczycki, num encontro que promete mais do que tensão — promete beleza.

Matilde Pinto e o equilíbrio entre força e leveza

Mas não se faz história sozinho. Ao lado de Abiodun, Matilde Pinto tem sido mais do que presença — tem sido impulso. Já conquistou uma medalha de bronze por equipas e, com a parceira ucraniana Veronika Matiunina, está nas meias-finais de pares femininos. É mais uma medalha garantida. Mais uma nota a ecoar para Portugal.

O ténis de mesa é, por vezes, um bailado contido. E Matilde joga como se dançasse: passos certos, toques suaves, movimentos cheios de intenção. Contra as duplas mais fortes, responde com determinação. Agora, ao enfrentarem a romena Bianca Mei Rosu e a eslovena Sara Tokic, não levam apenas vontade — levam também o brilho de quem já fez o suficiente para inspirar uma nova geração.

Uma constelação chamada Portugal

Portugal tem agora seis medalhas: uma de prata, duas de bronze e três já asseguradas à espera de cor final. Mas o que realmente se conquista vai além do pódio. Conquista-se o respeito, a memória, a capacidade de fazer história fora dos grandes centros — em silêncio, em humildade, mas com brilho.

E foi isso que o Presidente da ETTU reconheceu. Não foi apenas uma exceção retórica. Foi quase um poema. Num gesto inesperado, elogiou Portugal como quem acende um holofote num céu nublado, mostrando que, mesmo nas margens do continente, se podem acender luzes que iluminam toda uma modalidade.

O eco de Ostrava

O que fica de Ostrava não são apenas os resultados, embora eles sejam brilhantes. Fica a ideia de que quando o talento encontra apoio, o impossível se aproxima do real. Que quando a juventude é acreditada, a bandeira sobe por mérito próprio. E que quando um Presidente se curva à exceção, não está a fugir da regra — está a reconhecer a grandeza.

Portugal não conquistou apenas medalhas. Conquistou um momento raro: o mundo parou para ouvir uma pequena nação a tocar alto — e bem — no coração da Europa.

E esse som não se esquece.

Leia também os anteriores artigos relacionados com o Campeonato da Europa de Jovens.

Conhece a história de Matilde Pinto? Leia aqui.

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Resultados de sábado, 19 de julho


Sub19 – Singulares Femininos – Quartos de Final


Veronika Matiunina, 4 – Júlia Leal, 0


14-12, 11-5, 11-8, 11-0


Leana Hochart, 4 – Matilde Pinto, 1


11-4, 11-5, 11-7, 9-11, 11-5


Sub19 – Singulares Masculinos – Quartos de Final


Nathan Lam, 2 – Tiago Abiodun, 4


8-11, 11-7, 10-12, 10-12, 11-9, 9-11


Sub15 – Pares Femininos – Quartos de Final


Alexia Nodin/ Lou-Anne Boucquet, 3 – Irina Silva / Leonor Gomes, 1


11-3, 11-3, 11-13, 11-8


Sub19 – Pares Femininos – Quartos de Final


Veronika Matiunina/Matilde Pinto, 3 – Zofia Sliwka/Oliwia Wator, 0


11-9, 11-4, 11-8


Sub19 – Pares Masculinos – Quartos de Final


Iulian Chirita/Tiago Abiodun, 3 – Leon Benko/Ivan Hencl, 2


12-10, 8-11, 7-11, 11-2, 11-6


Sub15 – Singulares Masculinos – Oitavos de Final


P. Lacki, 4 – Rodrigo Andrade, 3


11-9, 11-8, 10-12, 11-4, 12-14, 9-11, 11-8


Sub19 – Singulares Femininos – Oitavos de Final


Mariana Santa Comba, 1 – B. M. Rosu, 4


 10-12, 6-11, 10-12, 11-9, 8-11


Júlia Leal, 4 – Sara Tokic, 3


6-11, 11-9, 9-11, 5-11, 11-9, 11-5, 11-9


Matilde Pinto, 4 – Olha Ponko, 3


8-11, 13-11, 11-7, 7-11, 11-8, 6-11, 11-7


Sub19 – Singulares Masculinos – Oitavos de Final


Luca Khidasheli, 1 – Tiago Abiodun, 4


9-11, 5-11, 7-11, 11-7, 4-11


Sub15 – Singulares Masculinos – Ronda de 32


Rodrigo Andrade, 4 – Viktor Dimitrov, 0


11-9, 11-5, 11-8, 11-8


Sub19 – Singulares Femininos – Ronda de 32


Mariana Santa Comba, 4 – Agnes Svensson, 3


9-11, 9-11, 9-11, 11-6, 13-11, 11-9, 11-9


Matilde Pinto, 4 – Alesia Sferlea, 3


11-7, 12-10, 9-11, 6-11, 9-11, 11-2, 13-11


Júlia Leal, 4 – Andreea, 0


 11-5, 13-11, 15-13, 11-8


Sub19 – Singulares Masculinos – Ronda de 32


Stepan Brhel, 1 – Tiago Abiodun, 4


 11-9, 3-11, 3-11, 3,11, 4-11


Programa de domingo, 20 de julho


Sub19 – Pares Masculinos – Meias-Finais
09h40:


 I. Chirita/Tiago Abiodun – R. Formela / A. Kulczycki 


Sub19 – Pares Femininos – Meias-Finais
09h40:


Veronika Matiunina/ Matilde Pinto – Bianca Mei Rosu / Sara Tokic


Sub19 – Singulares Masculinos – Meias-Finais
10h10: 

Marcel Blaszczyk – Tiago Abiodun

 

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