Madeira, a ilha onde o ténis de mesa germinou do betão e floresceu em campeões

🖋️Por: António Vieira Pacheco

📸 Créditos: Associação de Ténis de Mesa da Madeira

⏱️ Tempo de leitura: 5 minutos

As memórias do ténis de mesa da Madeira.


Madeira com duas décadas de ouro

Durante quase duas décadas, a Madeira não se limitou a praticar ténis de mesa. Viveu-o, moldou-o e, em muitos momentos, tornou-se o epicentro da modalidade em Portugal.

Não foi por dispor de grandes pavilhões ou patrocínios generosos. Foi porque criou um ecossistema próprio, sólido como o betão, alimentado por uma paixão coletiva.

Esta paixão transformou a modalidade numa verdadeira linguagem da comunidade, que atravessou gerações e espaços, unindo jogadores, escolas e bairros numa cultura desportiva singular.

O nascimento de um território de talento

No Funchal, desde 11 de dezembro de 1997, o Pavilhão Rafael Gomes ergue-se como espaço emblemático, integrando também os serviços administrativos da Associação de Ténis de Mesa da Madeira. 

Recebeu o nome de Rafael Gomes, em homenagem ao primeiro presidente da associação e à sua contribuição para a modalidade na região.

O Pavilhão funciona como um centro de excelência, acolhendo competições regionais, encontros dos campeonatos nacionais e programas de treino de alto rendimento. 

As atividades realizadas reforçam o compromisso da ATMM em promover o ténis de mesa com qualidade, consolidando a Madeira como referência nacional. Este espaço é também ponto de encontro da comunidade e berço de campeões, testemunho vivo da história da modalidade.

Formação com propósito

Formação de Treinadores com o preletor Abílio Cruz.
Abílio Cruz a ministrar um curso de treinadores a madeirenses nos anos dourados da modalidade.

O sistema educativo passou a integrar o ténis de mesa de forma contínua, através do Desporto Escolar. Professores dedicados — muitos formados na própria Madeira — identificavam talentos, organizavam encontros locais e regionais e ofereciam as primeiras raquetes, fortalecendo a formação de atletas da Madeira desde cedo.

Clubes históricos, como CD São Roque, Estreito, CD 1.º de Maio e Câmara de Lobos, consolidaram estruturas de treino. Alguns, como o São Roque, tornaram-se autênticas academias, acumulando dezenas de títulos regionais e nacionais.

 Pavilhão Rafael Gomes:
O coração do Ténis de Mesa na Madeira

No Funchal, desde 11 de dezembro de 1997, o Pavilhão Rafael Gomes ergue-se como um espaço emblemático, integrando também os serviços administrativos da ATMM. Mais do que um local físico, é o coração pulsante da modalidade, onde história, dedicação e futuro se encontram.

A infraestrutura recebeu o nome de Rafael Gomes, em homenagem ao primeiro presidente da ATMM e à sua contribuição inestimável para o ténis de mesa na região.

 Funciona como um centro de excelência, acolhendo competições regionais, encontros dos campeonatos nacionais e programas de treino de alto rendimento.

Aqui, jovens atletas treinam diariamente, inspirados pelo legado de Rafael Gomes e pelos feitos de nomes madeirenses, como Marcos Freitas, bandeira do arquipélago e de Portugal em competições internacionais e Jogos Olímpicos.

Cada torneio e sessão de treino reforça o compromisso da ATMM em promover o ténis de mesa regional com qualidade e profissionalismo, consolidando a Madeira como referência nacional. 

O lugar é mais que um espaço físico. É ponto de encontro para a comunidade, berço de campeões e testemunho vivo da história da modalidade na ilha.

Cada torneio e cada sessão de treino no pavilhão reforçam o compromisso da ATMM em promover o ténis de mesa com qualidade e profissionalismo, consolidando a Madeira como referência no panorama nacional da modalidade. O Pavilhão Rafael Gomes, assim, é mais do que um espaço físico, sendo um ponto de encontro para a comunidade. Um berço de campeões e um testemunho vivo da história do ténis de mesa madeirense.

Uma ilha campeã

Entre 1995 e 2010, a Madeira destacou-se no panorama nacional. Liderava em número de atletas federados, formava seleções regionais competitivas e marcava presença regular em campeonatos nacionais.

Organizou provas internacionais, workshops com figuras europeias e ações com treinadores portugueses e estrangeiros.

Jogadores como Marcos Freitas, Ana Cristina Freitas, Énio Mendes, Artur Silva, Alexandre Gomes, Duarte Fernandes, João Vítor Gouveia, Dinis Cunha, Elsa Henriques, Camila Nóbrega e Natércia Pestana tornaram-se símbolos destas gerações douradas. Alguns seguiram para a Seleção Nacional; outros continuaram na Madeira, transmitindo experiência às novas gerações.

O Open Internacional da Madeira acolheu nomes sonantes da Europa, e a ATMM organizou provas do circuito mundial de juniores, consolidando a reputação da ilha. Muitos a chamavam, sem ironia, 'a capital portuguesa do ténis de mesa'. 

Do betão ao coração das comunidades

Helder Vasconcelos, o pioneiro das mesas mesas de betão, junto a Carlos León, a montar mesas no antigo Lido.
Hélder Vasconcelos (à esquerda) e Carlos Leon (à direita) a instalar as mesas de betão...

O ténis de mesa tornou-se parte do quotidiano insular. Freguesias orgulhavam-se das suas mesas ao ar livre; jogava-se de dia, de noite, antes das aulas ou depois do trabalho. Não era preciso equipamento caro — bastava paixão e disponibilidade.

A mesa de cimento era semente firme; a bola pequena, cheia de energia, desafiava o silêncio lusitano. Jovens e veteranos jogavam, comunicando com olhares e respirações. Cada smash ecoava como uma onda na costa; cada defesa tocava suavemente como a maré.

O ténis de mesa ganhou alma, tornando-se jogo social, instrumento de inclusão e espaço de diálogo entre gerações. Crianças aprendiam com idosos; pais acompanhavam filhos em torneios; escolas promoviam campeonatos entre turmas. O desporto tornou-se uma linguagem comum em toda a ilha.

O tempo e os seus ventos

Com o tempo, o apoio ao desporto escolar diminuiu. Algumas mesas degradaram-se, e clubes enfrentaram escassez de fundos. A ATMM continua ativa, mas enfrenta desafios: motivar jovens, renovar quadros e manter viva a estrutura construída ao longo de anos.

Apesar das dificuldades, a modalidade sobreviveu e continuou a evoluir. Hoje há maior aposta na formação feminina e nos escalões de base. Torneios regionais continuam, com clubes e técnicos dedicados mantendo viva a chama da modalidade.

Odília Vieira, a secretária de direção da ATMM.
O maior pilar da ATTM é Odília Vieira, a secretária da Direção.

A ATMM chegou a ter cerca de meia dúzia de funcionários. Hoje mantém exclusivamente dois: a secretária de direção, Odília Vieira, presença firme e guardiã silenciosa da história da associação, e mais um colaborador. 

A poesia que não se apaga

O betão permanece firme. Mesmo quando as bolas já não saltam como antes, o que foi construído permanece: na memória de quem jogou, nas lições passadas e no silêncio entre pontos.

A Madeira mostrou ser possível criar excelência com simplicidade. O desporto também se faz com convicção, cimento e paixão. Enquanto o continente discute centros de alto rendimento, a ilha recorda-nos o valor da mesa ao ar livre, da raquete partilhada e do amor pelo jogo.

O ténis de mesa na Madeira consolidou-se como arte popular: com mesas de cimento, formação contínua de atletas e dedicação comunitária, floresceu talento e ergueu o Pavilhão Rafael Gomes, apoiado pelo Governo Regional. 

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