Francisca Jorge: a muralha serena que resiste em Leiria
🖋️Por: António Vieira Pacheco
📸 Créditos: Federação Portuguesa de Ténis
⏱️ Tempo de leitura: 4 minutos
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| Duas horas de batalha, dois ‘sets’ de triunfo. A vimaranense não vacilou. |
A força de Kika Jorge
Há vitórias que não se gritam, somente se constroem. Francisca Jorge, a
mais velha das irmãs de Guimarães, mostrou esta quarta-feira em Leiria que o
ténis também pode ser uma arte de paciência, feita de pequenas pedras que,
juntas, erguem muralhas. Aos 24 anos, a atual 219.ª do ‘ranking’ WTA iniciou
da melhor forma a sua participação no ITF W50 de Leiria, confirmando que,
mesmo sem alarido, a consistência é um dos maiores talentos.
Um duelo marcado pelo equilíbrio
O sorteio ditou que Francisca
enfrentasse a espanhola Eva Guerrero Alvarez (373.ª WTA), presença
habitual em torneios disputados em Portugal. Não era uma estreia simples:
Guerrero é combativa, conhece bem o circuito e cede raramente sem luta.
O encontro foi exemplo dessa dureza.
No primeiro ‘set’, Kika precisou de encontrar o equilíbrio entre paciência
e agressividade. Ponto a ponto, como quem ergue muralhas de pedra, construiu a
vantagem necessária para fechar por 6-4.
No segundo parcial, a história foi ainda mais tensa. Guerrero quebrou o ritmo, prolongou as trocas, testou a resistência mental da portuguesa. Mas Francisca não vacilou. Com a calma que a caracteriza, voltou a impor-se no momento decisivo e venceu por 7-5, após duas horas intensas de jogo.
A serenidade como arma
Se Matilde Jorge, a irmã mais nova,
venceu um encontro dramático na véspera, com match points salvos e reviravoltas
épicas, Kika apresentou outro registo: o da serenidade. Não houve
explosões de energia, mas sim uma consistência que desgasta o adversário.
Francisca é, nesse sentido, a muralha
de Guimarães transportada para o court. Onde outros se precipitam, ela espera.
E onde outros vacilam, ela mantém-se erguida. A vitória frente a Eva Guerrero
foi a prova clara de que, no ténis, resistir é também vencer.
O próximo desafio: Urszula Radwanska
A caminhada, no entanto, só agora
começa. Na quinta-feira, Francisca Jorge enfrentará um nome conhecido do ténis
mundial: Urszula Radwanska. A polaca de 34 anos já foi 29.ª WTA em
2012, ano em que disputou duas finais no circuito principal. Hoje, ocupa
o 498.º lugar, mas carrega consigo a experiência de quem já viveu nos
grandes palcos.
O duelo será, por isso, um encontro
de contrastes: a frescura e a ambição de Francisca contra a memória e a
experiência de Radwanska. Uma batalha onde o passado e o futuro se encontram no
presente de Leiria.
O significado de Leiria
Leiria tem-se tornado um ponto de
encontro especial para o ténis português. Foi aqui que a irmã mais nova,
Matilde, conquistou em 2024 o primeiro título internacional em singulares. Foi
também aqui que ambas, lado a lado, já partilharam vitórias e derrotas.
Agora, Francisca regressa para
reafirmar o seu caminho individual. A vitória na estreia não é apenas um
resultado: é um sinal de confiança, um passo em frente numa temporada que quer
marcar pela consistência.
A irmã mais velha, o exemplo silencioso
Se Matilde é muitas vezes celebrada
pela energia e pela chama de juventude, Francisca representa outra dimensão do
ténis. É o exemplo silencioso, a jogadora que não precisa de dramatizar para se
impor. É a muralha firme que inspira pela tranquilidade.
As irmãs Jorge complementam-se. E, em
Leiria, essa complementaridade volta a estar em evidência. A vitória de
Francisca, depois da de Matilde, reforça a ideia de que Guimarães
encontrou em duas irmãs as suas embaixadoras de raquete.
O ténis português em
ascensão
Cada triunfo das irmãs Jorge tem
também um significado coletivo: mostra que o ténis português continua a
crescer, a afirmar-se, a conquistar espaço no cenário internacional.
Para Francisca, esta vitória em
Leiria é mais uma peça no mosaico da sua carreira. Aos 25 anos, encontra-se no
auge físico e numa fase de maturidade competitiva. O ‘ranking’ já a coloca perto
do top 200, e cada ponto conquistado aproxima-a ainda mais de grandes palcos.
Há algo de poético em ver Kika vencer
em Leiria. Vinda de Guimarães, cidade onde as muralhas simbolizam resistência,
a jogadora parece transportar para o court essa mesma filosofia.
O seu ténis é feito de pedra e
paciência. Não é um jogo de fogo de artifício, mas de consistência e estrutura.
Em cada pancada, há a solidez de quem sabe que as vitórias se constroem
devagar, sem atalhos, tal como as muralhas que resistem ao tempo.
A muralha continua erguida
No final do encontro frente a Eva
Guerrero Alvarez, Francisca ergueu o punho de forma discreta. Não houve
explosão, simplesmente a celebração de quem sabe que o caminho é longo.
A sua estreia em Leiria foi um
retrato fiel da sua identidade: calma, serena, consistente. Uma muralha
vimaranense erguida em terra batida leiriense.
Agora, prepara-se para enfrentar
Urszula Radwanska, consciente de que cada jogo é uma nova batalha. Mas se há
algo que Francisca mostrou nesta estreia é que, tal como a sua cidade natal,
sabe resistir. E resistir, no ténis como na vida, é a primeira condição para
vencer.

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