Matilde Jorge: a vitória sofrida que reacende o sonho em Leiria
🖋️Por: António Vieira Pacheco
📸 Créditos: Federação Portuguesa de Ténis
⏱️ Tempo de leitura: 4 minutos
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| Aos 21 anos, a campeã de Guimarães já escreve páginas de ouro no ténis. |
Matilde nunca desiste
Aos 21 anos, Matilde Jorge já
aprendeu que o ténis é uma metáfora da vida. Nada é garantido até ao último
ponto, e o caminho da vitória é tantas vezes desenhado na linha ténue entre a
esperança e a desistência.
Esta quarta-feira, nos courts de Leiria,
a jovem vimaranense deu mais uma lição de coragem. Entrou para defender o
título conquistado há um ano, quando pela primeira vez levantou um troféu
internacional de singulares, e fê-lo com uma vitória arrancada a ferros, tão
sofrida quanto memorável.
O primeiro obstáculo
O sorteio não foi meigo. A estreia
colocou-lhe pela frente a norte-americana Carol Youngsuh Lee, 277.ª do
‘ranking’ WTA, uma jogadora sólida, conhecida pela regularidade e pela frieza
nos momentos-chave.
A portuguesa, 213.ª da hierarquia
mundial e quarta cabeça de série do torneio, sabia que teria de se superar.
Ainda assim, começou o encontro com intensidade, fechando o primeiro parcial
por 6-3. Mas a resposta de Lee não tardou: num segundo ‘set’ dominado
pela norte-americana, Matilde cedeu por 2-6, vendo o jogo
arrastar-se para a derradeira partida.
O drama do terceiro ‘set’
Foi nesse terceiro ato que se revelou
o verdadeiro carácter da campeã. Matilde esteve a perder por 3-1 e
depois por 5-2. O público sentiu a tensão, e a vibração em cada pancada parecia
transportar o peso da história recente: uma jovem portuguesa, que em 2024 fez
de Leiria o palco do seu primeiro título, estava agora em risco de ver ruir a
defesa do troféu logo na estreia.
A 5-3, enfrentou um match point
contra si. Nesse instante, todos os caminhos pareciam fechar-se. Mas é no
limite que se forjam os momentos inesquecíveis. Matilde salvou o ponto,
resistiu, acreditou. E a partir dali, escreveu um dos capítulos mais
emocionantes da sua carreira.
Com garra, encadeou cinco jogos
consecutivos e virou o destino: 7-5 no terceiro ‘set’, vitória conquistada,
lágrimas quase a espreitar e a certeza de que em Leiria continua a ser
invencível.
Seis vitórias consecutivas em Leiria
Com este triunfo, a vimaranense soma
a sua sexta vitória consecutiva em Leiria. No ano passado, venceu o então ITF
W35, conquistando o primeiro título internacional em singulares da carreira.
Agora, regressa para defender a coroa num torneio elevado a W50, mais
competitivo e mais exigente.
A ligação à cidade é especial. Os
courts de Leiria tornaram-se uma espécie de porto seguro, onde o talento da
jovem vimaranense floresce e onde os sonhos parecem ganhar asas.
A próxima batalha
O caminho, contudo, ainda agora
começou. Esta quinta-feira, Matilde voltará a entrar em court para discutir o
acesso aos quartos de final. A adversária será a norueguesa Astrid Wanja Brune
Olsen (796.ª WTA), uma qualifier que também precisou de três ‘sets’ para superar
a francesa Diana Martynov (461.ª), por 6-1, 6-7(6) e 6-4.
No papel, a portuguesa é favorita.
Mas o ténis não se joga em papéis, joga-se em cada ponto. Matilde sabe que terá
de manter a resiliência para continuar a sonhar em Leiria.
Um retrato de maturidade
O triunfo desta quarta-feira não é
apenas mais uma vitória para somar no currículo. É sobretudo um retrato da maturidade competitiva que a irmã mais nova, Jorge, vem construindo.
A capacidade de resistir nos momentos
de maior pressão, de transformar um match point contra em combustível para a
viragem, demonstra não só talento, mas também a fibra de quem está preparada
para voos maiores.
Aos 21 anos, Matilde ainda carrega a frescura da juventude, mas já mostra a dureza mental de uma jogadora que compreendeu o segredo do ténis: a vitória é muitas vezes questão de acreditar quando tudo parece perdido.
O palco português e a projeção internacional
O ITF W50 de Leiria é mais do que um
torneio. É um sinal do crescimento do ténis em Portugal e uma oportunidade para
as jogadoras nacionais medirem forças com atletas internacionais.
Para Matilde, significa também
ganhar experiência e obter pontuação importante para subir no ‘ranking’ WTA. O objetivo
de alcançar o top 200 mundial está próximo, e cada vitória em torneios desta
dimensão aproxima-a desse sonho.
A
poesia escondida no esforço
Há algo de poético no triunfo desta
quarta-feira. A número um de Portugal esteve a um ponto da derrota e, ainda
assim, encontrou forças para virar o rumo do encontro.
O público viu não somente uma
jogadora a lutar, mas uma jovem mulher a mostrar que a resiliência é o maior
talento de todos. É nesses instantes de fronteira, entre a queda e o voo, que
se escrevem as histórias que ficam.
Leiria como metáfora
Leiria já foi o palco da primeira
consagração internacional de Matilde e agora volta a ser o cenário de
resistência. A cidade torna-se uma metáfora. Lugar onde o impossível pode
ser o possível, onde a pressão se transforma em energia, onde a juventude
encontra maturidade.
O ténis, afinal, é feito destas
geografias simbólicas: campos que se tornam capítulos de vida, bolas que se
transformam em memórias, vitórias que ficam como tatuagens no tempo.
O futuro abre-se em cada ponto
Ao vencer Carol Youngsuh Lee de forma
dramática, a portuguesa deu mais do que um passo rumo aos quartos de final em
Leiria. Deu uma prova de carácter, mostrou que está pronta para desafios
maiores e reforçou a ligação mágica com a cidade onde, há um ano, começou a
escrever a sua história no circuito internacional.
Aos 21 anos, a vimaranense é um
símbolo do ténis português em ascensão: jovem, talentosa, mas sobretudo
resistente. Porque, como Leiria lhe ensinou, a vitória não está em nunca cair,
mas em levantar-se sempre, ponto após ponto, até ao último suspiro do jogo.

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