Ouro e Bronze para Tiago Abiodun no último dia do Europeu de Sub-19
Por António Vieira Pacheco
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Créditos: ETTU. Tiago Abiodun festeja título, ao lado do romeno, Chirita. |
Tiago Abiodun: Lança africana cravada
na Europa
Tiago Abiodun caminha com a leveza de
quem já conhece o peso dos sonhos e, ainda assim, os carrega como se fossem
plumas. Em Ostrava, no coração da Europa, o jovem nascido na Madeira fez ecoar
o seu nome com o som metálico das conquistas: quatro medalhas no Campeonato
Europeu de Sub-19. Bronze em singulares, ouro em pares masculinos, prata em
equipas e mais uma prata nos pares mistos. Um feito raro, uma afirmação
inequívoca de talento e identidade.
Mas Abiodun é mais do que números e pódios. É símbolo, é ponte, sendo também raiz.
Da Madeira... a Lisboa, com sangue quente e mãos serenas
Nascido na Madeira, em 2008, numa época onde o pai jogava na Ponta do Pargo, Tiago Abiodun trocou cedo de ilha, mudando-se com a família para a Praia da Vitória, na Terceira.
No Juncal começou a treinar e a jogar ténis de mesa. Mais tarde, seguiria para Lisboa, acompanhando o pai, que representaria o Sporting. A capital portuguesa acolheu-o como cidade de passagem — mas o que era passagem, tornou-se fundação. Ali encontrou chão firme onde construiu um
jogo feito de paciência, velocidade e, sobretudo, arte.
Filho de pais de origem africana —
raízes fundas que atravessam o mar — Abiodun carrega consigo a firmeza do
tronco e a leveza da folha. A Madeira deu-lhe o primeiro fôlego com a modalidade. Os Açores, a iniciação como atleta. Lisboa, o ritmo. África, a alma. E foi com essa fusão de mundos que ele se atirou, como uma lança certeira, na arena europeia.
Presentemente, joga no Ochesenhausen, onde se sagrou campeão alemão esta temporada.
O bronze dos singulares: derrota que
ilumina
No caminho para o ouro em singulares, a
muralha polaca ergueu-se firme. O filho de Bode enfrentou o talentoso polaco Marcel
Blaszczik nas meias-finais — um embate digno de final, onde cada ponto foi um
duelo de inteligência e nervo. A derrota por 2-4 não lhe retirou o brilho. Pelo
contrário, mostrou maturidade, consistência e uma técnica que, polida, pode
dominar o continente.
Mais do que o resultado, ficou a
impressão: Tiago Abiodun é jogador de grande palco. Os seus gestos são límpidos,
calculados. Tem a serenidade de quem confia no próprio corpo. E ainda que o
bronze não cante como o ouro, é um canto cheio de promessa.
Ouro em pares: a dança com Chirita
Foi nos pares masculinos que o céu se
abriu. Ao lado do romeno Iulian Chirita, mostrou o que significa harmonia em
movimento. Moviam-se como se o tempo tivesse sido coreografado para eles: um
giro aqui, um ataque ali, sempre no compasso certo, como dois instrumentos de
corda afinados com o mesmo diapasão.
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Créditos: ETTU. A festa luso-romena na Chéquia. |
A cumplicidade entre os dois jogadores fez do par uma força inquebrável. Cada bola devolvida era como uma nota musical num hino de superação e talento.
O ouro, mais do que uma medalha, foi a confirmação de um estilo — ousado, técnico e poeticamente eficaz.
Prata em equipa e bronze em pares mistos
Com a equipa portuguesa, Abiodun foi
guerreiro e maestro. A prata em equipas mostrou que o coletivo vibra ao seu
ritmo. Nos pares mistos, bronze, com a romena Rosu trouxe sensibilidade e química a uma
modalidade onde os gestos precisam de diálogo.
Portugal tem, neste jovem, um líder
silencioso, alguém que fala com o movimento e inspira pela disciplina. Ele joga
como quem desenha: cada jogada é traço, cada ponto uma pincelada no grande
quadro da sua carreira.
Identidade dupla: entre raízes e ambições
Abiodun representa mais do que o seu país.
Representa todos os que, sendo de um lugar, carregam muitos outros dentro
de si. A sua ascendência africana não é detalhe, é força. É passado que empurra
o presente para diante. Portugal olha para ele e vê a promessa de um desporto
mais diverso, mais profundo, mais representativo.
Ele é a lança que a África lançou na
Europa — não para ferir, mas para afirmar. Uma lança de talento, dignidade e
beleza.
O futuro já começou: ele só tem 17
Aos 17 anos, com quatro
medalhas europeias ao peito, o jovem não é mais uma promessa: é uma certeza em
construção. O ténis de mesa português encontrou nele um pilar para os próximos
anos — um atleta com cabeça fria, técnica limpa e um coração que pulsa em
várias frequências culturais.
O que se viu em Ostrava foi mais do
que um excelente campeonato. Foi o nascer de uma figura que poderá, em breve,
colocar Portugal no mapa dos grandes do ténis de mesa mundial. Não por acaso.
Mas por merecimento.
Abiodun não precisa de gritar para ser
escutado. A sua raquete fala e pronuncia-se com sotaque mestiço, com ritmo insular, com
a cadência firme de quem conhece a história, honra as raízes, e constrói o
amanhã com leveza nos pés e fogo na alma. E saí de Ostrava com quatro medalhas ao peito (uma de ouro, outra de prata e duas de bronze).
Medalhas em Ostrava 2025
Ouro:
Tiago Abiodun – Pares masculinos sub19 (com Iulian Chirita
Prata:
Matilde Pinto – Pares Femininos sub19 (com Veronika Matiunina)
Equipa sub19 – C. Campino, Rafael Kong, Tiago Abiodun, Tiago Olhero
Bronze:
Tiago Abiodun – Pares Mistos sub19 (com Bianca Mei Rosu)
Tiago
Abiodun –
Singulares Masculinos sub19
Equipa Feminina Sub19 – Júlia Leal, Mariana Santa Comba, Matilde
Pinto
Resultados de domingo, 20 de julho
Sub19
– Pares Masculinos – Final
Iulian Chirita/ Tiago Abiodun, 3 – Dragos Bujor/Robert Istrate, 0
11-5, 11-6,
11-5
Sub19
– Pares Femininos – Final
Leana Hochart/Nina Guo Zheng, 3 – Veronika Matiunina/ Matilde Pinto, 0
13-11, 11-8, 11-5
Sub19 – Pares Masculinos – Meias-Finais
Iulian Chirita /Tiago Abiodun, 3 – Rafal Formela/Alan Kulczycki, 0
11-6, 11-2, 11-5
Sub19 – Pares Femininos – Meias-Finais
Veronika Matiunina /Matilde Pinto, 3 – Bianca Mei Rosu/ Sara Tokic , 0
12-10, 11-9, 11-5
Sub19
– Singulares Masculinos – Meias-Finais
Marcel Blaszczyk), 4 – Tiago Abiodun, 2
11-7, 11-8, 10-12, 11-13, 11-5, 11-6)
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