O trajeto de José Viegas: entre a mesa de jogo e o coração da modalidade

                                                                 Por António Vieira Pacheco

Viegas e o seu amigo de infância Dr. Luís Filipe Meneses, ex: presidente da Câmara Municipal de Gaia.
Créditos: FPTM. Viegas à conversa com Luís Filipe Meneses. O tema será o futuro da Modalidade?

Das raquetes campeãs à caneta de raiz quadrada

Nasceu com uma raquete na mão e o espírito de missão já colado à pele. Em casa, o ténis de mesa era mais do que desporto — era ambiente, era linguagem, era vocação. 

Filho de dirigente associativo e irmão de praticante, José Viegas cresceu entre bolas saltitantes e conversas sobre clubes, regras e torneios. Era ainda tão pequeno que tinham de o colocar em cima de um banco para chegar à mesa. E foi desse banco que, sem saber, começou a subir os degraus da sua vida.

José Viegas participou em várias provas internacionais.
Créditos: José Viegas. O portuense presente numa das competições internacionais.

O que se iniciou como brincadeira depressa se tornou destino. As pessoas chamavam à modalidade pingue-pongue, mas não por muito tempo. “É Ténis de Mesa!”, corrigia com firmeza, como quem nomeia o que ama com o rigor que se dá ao que se respeita. O desporto não era passatempo — era vocação.

Porto: cidade-raiz de um campeão

O percurso principiou no Alvinegro e depois no FC do Porto.
Créditos: Direitos Reservados.
Começou no Alvinegro Portuense, clube de bairro da Cidade Invicta e com alma grande. A urbe do Porto, com as suas manhãs húmidas e ruas estreitas, foi o primeiro campo de batalha onde aprendeu a ouvir o eco das bolas no tampo da mesa como se fossem pulsações. A cidade deu-lhe resiliência, estrutura e nervo — atributos que nunca mais o deixariam.

Transferido cedo para o FC Porto, aos 14 anos sagrou-se pela primeira vez Campeão Nacional Individual. Foi nesse mesmo ano que partiu para a Polónia, num estágio de 22 dias. Aquela viagem foi o primeiro vislumbre de uma carreira internacional. 

Com frio nos dedos e concentração nos olhos, trouxe de lá a certeza de que não se tratava somente de talento — era trabalho, disciplina, e acima de tudo, amor ao jogo.

Caldas da Rainha: onde o coração serve

Mais tarde, foi o amor que o levou a sul. Instala-se nas Caldas da Rainha, terra das águas quentes e das tradições artesanais. Tal como o barro que ali se molda em peças únicas, também Viegas foi a moldar gerações nos pavilhões da cidade. Brilhou como jogador sénior e afirmou-se como formador, inspirando atletas com a mesma paixão com que empunhava a raquete.

José Viegas em ação.
Passou por clubes como o Sporting das Caldas, Sporting, Benfica, Vitória de Setúbal, Casa Pia, e até pelo Recreativo de Huelva, em Espanha. Por onde passou e deixou a sua marca. Acumulou títulos, internacionalizações e prestígio. Mas nunca se afastou da simplicidade de quem joga por gosto e vive por missão.

Nas Caldas da Rainha, plantou raízes. Não exclusivamente desportivas — familiares, sociais e humanas. Como se a cidade, com as suas águas termais e calçadas antigas, devolvesse-lhe em ternura tudo o que ele ali deixava em dedicação.

Apesar dos anos, nunca largou o jogo. E a raquete, essa, ainda abanou até assumir o cargo na Federação Portuguesa de Ténis de Mesa (FPTM). Em 2024, aos 62 anos, conquistou três títulos nacionais de veteranos, com a mesma garra dos primeiros tempos. Diz que é a paixão que o mantém em movimento. E talvez seja isso — uma paixão que não envelhece, apenas amadurece.

Um homem que faz pontes

Viegas é mais do que atleta e dirigente: é um construtor de pontes humanas. Daqueles que sorriem primeiro, que escutam mais do que falam, que tratam todos por igual. Traz na voz uma ternura firme e nos gestos uma coerência rara.

Concentrado na nova função de dirigente federativo.
Créditos: FPTM.

Costumam chamá-lo “facilitador de relações humanas” — e com justiça.

Em setembro do ano passado aceitou o convite de Fernando Malheiro, seu amigo de longa data, para integrar a sua lista aos Órgãos Sociais da FPTM. Em novembro de 2024, a Lista B ganhou as eleições e assumiu a Vice-Presidência. Ficou responsável por duas áreas sensíveis: financeira e Seleções Nacionais. Aceitou a invitação e proferiu os motivos, porque a equipa era de excelência.

Com o Presidente Fernando Malheiro tem um entendimento que não precisa de muitas palavras. “Olham-se e percebem-se”, dizem. A cumplicidade é tanta que há quem lhes chame “casamento desportivo perfeito”.

A equipa reforça-se com o Dr. Luís Filipe Menezes, Presidente da Assembleia Geral. Ex-praticante, médico e político experiente, amigo de infância de Viegas. É uma ligação de amizade de mais de 50 anos. 

A Ordem do Trevo: a missão para além do desporto

Viegas não é apenas homem de clubes e federações. É também homem de causas. Em 2010, fundou a Associação “A Ordem do Trevo”, que hoje apoia 75 famílias — mais de 350 pessoas — com alimentos, apoio escolar, cuidados médicos e desporto.

Chama-lhe a sua “missão de vida”. E não se trata de caridade — é justiça social com coração. É devolver à comunidade aquilo que a vida lhe deu em oportunidades.

É também autor! Já publicou dois livros e o terceiro vem a caminho,

Um novo sopro para o Caldas SC

Também em setembro de 2024, relançou a secção de Ténis de Mesa do Caldas SC. Em pouco tempo, o pavilhão encheu-se. Formação, competição e entusiasmo. Afirma-se que surge pouco. Porém, a sua marca está em todo o lado: no método, no espírito e na energia. Viegas não necessita estar presente para ser notado. Basta que a sua ideia esteja em ação.

Viegas é incansável. Um workaholic com propósito. Atende chamadas às duas da manhã com a mesma disponibilidade com que serve um café a um amigo. Formado em Gestão, com pós-graduação em ‘Marketing’ Empresarial, e uma longa carreira na banca, sabe negociar com firmeza e escutar com atenção.

“Prefiro recuar, respirar fundo e começar de novo. Assim todos pensamos melhor”, costuma dizer. O seu lema não é vencer a qualquer custo — é vencer com todos.

Um coração de bolinha a saltar

Da sua caneta saem ideias, contas e projetos. Chama-lhe “caneta de raiz quadrada”, porque pensa com rigor, mas escreve com paixão. O Ténis de Mesa é-lhe colado ao corpo — vive nele, pulsa-lhe no peito.

Recusou convites políticos, porque valoriza a liberdade de pensamento e o tempo com a família. E reitera sempre que os heróis são os atletas. “Nós, dirigentes, apenas empurramos. Criamos condições. O mérito é deles.”

Conhece nomes, cumprimenta com um sorriso e um “obrigado”. E recebe respeito na mesma moeda — porque o dá primeiro. Dizem os antigos colegas que é igual ao pai. Para ele, essa é a maior felicidade.

Quando sair, deixar melhor

José Viegas acredita em legado. Não em estátuas ou discursos. Mas na ação simples e constante. “Quando sair, só quero tranquilamente deixar melhor aquilo que encontrei”, repete. E talvez por isso, tantos o ouçam com atenção — e o sigam com confiança.

Entre a raquete campeã e a caneta de raiz quadrada, há um homem que serve, pensa e sonha o ténis de mesa português. Com alma de jogador e coração de construtor. Um dia haverá um livro dedicado a José Viegas? Não sabemos ainda se há um escritor com essa ideia!

 

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